Bicadas na alça do caixão

Poucas vezes em sua história o PSDB chegou tão mal à véspera de um processo eleitoral. O tucanato está numa encruzilhada monumental. Depois de uma década longe do poder central e sem conseguir exercer, com mínima dignidade, o papel de oposição, os socialdemocratas brasileiros começam a temer serem dizimados.

HELDER CALDEIRA*

Faltando menos de 18 meses para as eleições presidenciais, o tabuleiro de xadrez político está assim:

1. A pré-candidatura do senador mineiro Aécio Neves não decola. Nem junto ao empresariado anti-PT (que banca o jogo tucano e está se apaixonando pelos olhos verdes de Eduardo Campos), nem na mídia oposicionista, nem junto ao eleitorado, quiçá dentro do próprio ninho. Além das fronteiras de Minas Gerais, Aécio só tem projeção nas páginas dos tabloides de fofoca. Tirando o cafezinho e o pão-de-queijo, como político é um extraordinário baladeiro;

2. O ex-governador José Serra, além de revanchista, não pretende pendurar as botas tão cedo. Garante que ainda tem fôlego e não engoliu as três últimas derrotas: para Lula em 2002, para Dilma em 2010 e para Haddad em 2012. Perdeu apoios preciosos dentro do tucanato, inclusive do padrinho, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas ainda lidera uma ala caudalosa do partido. Nos últimos dias, em discursos públicos, vem adotando uma falácia apaziguante, mas aos amigos mais próximos e fieis escudeiros já garantiu: será candidato à Presidência da República em 2014, ainda que seja necessário trocar de partido e ir para o recém-criado Mobilização Democrática (MD33, fusão do PPS com o PMN);

3. Se o PSDB apoiar o governo no Congresso Nacional na tentativa de apertar o arreio dos novos partidos políticos visando inviabilizar (ou diminuir) a candidatura de Marina Silva e, consequentemente, a sanha de Serra em mudar de legenda para concorrer, corre o risco de, pela primeira vez, entregar o Palácio do Planalto para Dilma e o PT ainda no primeiro turno;

4. Se o PSDB agrupar forças (se é que ainda existem!) para tentar derrotar o governo na queda-de-braço com as novas siglas, arrisca-se a criar um ambiente amplamente favorável para que José Serra vá, de fato, para o MD33 e seja candidato à Presidência contra Aécio Neves, diminuindo ainda mais as remotas chances do tucano mineiro;

5. Arrogantes o suficiente para sequer aceitar o papel democrático de oposição, os tucanos jamais dirão "sim" ao convite do presidenciável Eduardo Campos para integrar sua chapa como vice. Se o fizer (em meio ao dilúvio!), as figuras mais expressivas do PSDB vão abraçar, por imediato e com gosto, a migração e candidatura de Serra em outro partido;

 

6. Com a mesma arrogância, José Serra jamais aceitará, nem por hipótese, ir para o MD33 para ser vice de Aécio, impedindo que o novo partido rompa a aliança vigente e passe a integrar a coligação do PSB em 2014. Para Serra só serve o posto majoritário! Qualquer outra opção sequer será considerada.

Em outras palavras: depois de 10 anos sem eira nem beira, o PSDB não aprendeu a lição e, mergulhado na incompetência estratégica e na ausência de renovação de seus principais quadros, mais parece uma caravana de políticos-zumbis carregando as alças do caixão do governo FHC. Todos rumo ao degredo e ao esquecimento.

"E agora, José?", questionou o brilhante poeta Carlos Drummond de Andrade. Como as melhores cartas do poder interno estão nas mangas de José Serra, o tucanato se esvai em bicadas e reitera a consagrada questão (quase hamletiana!): "E agora, José?".

 

Escritor, Jornalista Político e Apresentador de TV

www.heldercaldeira.com.br - helder@heldercaldeira.com.br

*Autor dos livros "ÁGUAS TURVAS" e "A 1ª PRESIDENTA".

 


Author`s name
Timothy Bancroft-Hinchey