Roberto Carlos não é meu rei

Todo final de ano é a mesma coisa. A Rede Globo de Televisão faz o show do conhecido cantor, apresentando-o como “rei”. Nunca autorizei a rede televisiva a proclamar o sr. Roberto Carlos como meu rei.

Respeito o seu trabalho e sei que ele tem um "milhão de amigos", é "um cara papo firme", um "amante à moda antiga", mas "muito além do horizonte" eu saio gritando "nas curvas da estrada de Santos" que ele não é o meu soberano.

Prefiro outros intérpretes e compositores e nem por isso declaro qualquer um deles como rei.

"Falando sério" . Quando "está aqui", ele é uma pessoa que precisa de "o divã", pois "na paz do seu sorriso", "embaixo dos caracóis dos seus cabelos", "ele é terrível", e suas manias não são "pequenos detalhes". Se o leitor, em "momentos", pensar que eu "quero acabar com ele", e "que tudo mais vá pro inferno", está enganado!

Acredito que quando o artista passa por um processo de mitificação, quando o pequeno homem se esconde atrás do gigantesco mito, ele já não sabe mais quem é ele próprio. Desconhece onde começa um e termina o outro. Podemos citar como exemplo o Michael Jackson.

No Brasil, a mesma rede de televisão também trata Xuxa como rainha. Rainha dos baixinhos. Aí, fico muito à vontade para afirmar que não sou seu súdito, pois já sou bem crescidinho e acredito que ela também misturou a imagem adocicada que é vendida nas telinhas com o seu eu real, num processo de dissociação da personalidade.

Agora, um caso à parte é o “rei” da bola, sr. Edson Arantes do Nascimento que, mesmo sendo um craque dentro do campo, foi um desastre quando emitiu opinião fora das quatro linhas.

Numa época ele se posicionou contra as "diretas já" afirmando que o brasileiro não sabia votar. E recentemente afirmou ser mais famoso que Cristo. Ele talvez tenha razão, se considerarmos que milhões de muçulmanos, budistas, hinduístas e pagãos podem saber quem é Pelé e desconhecer Jesus.

Mas, falta-lhe apenas o que dá mais grandeza a um rei. A humildade.

E eu, que não sou nenhum bobo da corte, sei que "é preciso saber viver"...

Fernando Braga

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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