Berlim - Melhor atriz e melhor roteiro

A japonesa Haru Kuroki, premiada como melhor atriz entre os filmes do 64. Festival de Cinema de Berlim, vive o papel de uma empregada doméstica de uma família em Tóquio, Taki, num sobrado de telhas vermelhas, nos anos que precederam a entrada do Japão na Segunda Guerra.

É uma deliciosa história sentimental contando como a empregada e a dona da casa se apaixonaram por um jovem estilista e pintor, que trabalhava para o dono da casa, industrial fabricante de brinquedos infantis. O artista, convidado pelo marido visita a família com frequência e se entende muito bem com o filho do casal, vítima de paralisia infantil.

A paixão da dona da casa pelo artista faz com que corra alguns riscos visitando-o, em segredo. O relato é contado por Taki, num caderno manuscrito, descoberto por seu sobrinho logo depois da morte da idosa tia, quando limpavam o quarto onde ela vivera.

Taki narra como Shoji, o jovem artista, foi convocado para a guerra, para desespero de sua amante casada. Impressionado pelo romantismo vivido pela tia, naquela Pequena Casa (título do filme, de Yoji Yamada) de telhado vermelho, o sobrinho descobre que o pintor retornara da guerra e se tornara conhecido por suas exposições, mas o casal morrera num bombardeio de Tóquio, quando a casa foi destruída. Mas o filho paralítico viva ainda e foi localizado.

 

O filme foi o último exibido para a crítica no Festival e rapidamente deixou a impressão de merecer uma prêmio.

 

O melhor roteiro foi para o único filme dos três filmes alemães premiado. Trata-se da história da adolescente Maria, de 14 anos, cuja mãe autoritária é fervente praticante de uma vertente fundamentalistaq da Igreja Católica. Influenciada por um padre e sem contato com o mundo externo, cujas músicas são denominadas de satânicas pela mãe e pelo padre, Maria decide se entregar totalmente à fé em Cristo, e o filme se divide em capítulos como etapas do caminho doloroso da cruz.

 

Para chamar sobre si a atenção de Cristo, Maria decide se sacrificar e se martirizar, não se protegendo contra o frio e, finalmente, não querendo mais se alimentar. Em outras palavras, ela se torna uma kamikase versão cristã e se transforma numa provável beata ou santa, pois ao morrer de fraqueza, seu irmão que era mudo começa a falar, circunstância considerada pela mãe fanática como um milagre.

 

Todos os anos, surge sempre em Berlim um filme anticlerical, desta vez o Caminho da Cruz, de Dietrich Brueggemann, funcionou igualmente como denúncia de um movimento fundamentalista de fanáticos que se inicia entre os católicos, semelhante ao dos evangélicos fundamentalistas entre os protestantes.

Rui Martins

Photo: Gerhard Kassner / Berlinale

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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