Bryan Orquiza: A quinta dimensão

O trabalho do artista plástico Bryan Orquiza, classificado como neo-figurativo, expõe a não-realidade, assentada sobre a desmaterialização, intitulada como quinta dimensão.

A primeira consideração abrange a percepção, de um lado da realidade e de outro, da não-realidade.

O mundo considera real o que é perceptível pelos nossos olhos. É a foto e o fato principalmente enaltecido pelos canais midiáticos.

O que é comumente compreendido como realidade assenta-se sobre a superfície externa, a embalagem, o revestimento, a aparência, a primeira imagem, enfim, a maquiagem completa da compreensão do universo, pessoas, significados.

Toda pessoa é muito mais que seu visual aparente. A imagem tridimensional é incapaz de mostrar os valores de personalidade, seus diferenciais, suas qualidades interiores, seus sonhos e expectativas, seus dramas e conflitos.

Normalmente o processo de preconceito é cultuado pela valorização acerbada das aparências. A cultura popular vem sendo treinada e educada para diferenciar o belo e o feio aparente, o branco e o negro aparente, o normal e o anormal aparente, obstacularizando o entendimento verdadeiro da realidade. Estas limitações favorecem a proliferação de exclusões, segregações, limitações.

A segunda consideração envolve a percepção do campo visual em duas dimensões – altura e largura, em três dimensões – altura, largura e profundidade, em quatro dimensões – altura, largura, profundidade e movimento, e em quinta dimensão – altura, largura, profundidade, movimento e desmaterialização.

A humanidade vem percorrendo um caminho de descobertas contínuas e permanentes através do conhecimento.

90 mil anos atrás nossos antepassados iniciaram o processo de aprendizado e descobertas, experimentando formas de sobrevivência. A expectativa de vida atingia 25 anos. A maioria das mortes ocorria por traumatismo, em função dos desafios enfrentados.

A raça humana vivia dispersa e nômade. Para sobreviver era necessário recolher frutos, peixes e através de um processo de defesa, caçar. Mesmo vivendo tão pouco tempo, os primeiros homens manifestavam suas sensibilidades pintando as paredes das cavernas, representando seus sonhos e expectativas.

10 mil anos atrás, a partir da Anatólia, parte sul da Turquia, os homens começaram a se agrupar, constituindo os primeiros grupos sociais. Logo mais descobriram o bronze, o cobre, as linguagens, enfim. Os conhecimentos adquiridos permitiam a construção de objetos tridimensionais, de esculturas, de pinturas mais próximas da realidade, extravasando nossas sensibilidades. Em 1.200 anos antes de Cristo, o homem descobriu o ferro, provocando novas e acentuadas transformações no panorama.

Nos últimos 100 anos a humanidade experimenta uma curva exponencial de conhecimento, incomparável, acentuada. 100 anos atrás Pablo Picasso pintou sua “Les Demoiselles d’Avignon”, marcando um diferencial na história da arte. O quadro se encontra hoje no “The Museum of Modern Art, New York”.

Surgia o cubismo, o modernismo, o abstrato, o surrealismo, o minimalismo e assim em diante. Os viventes contemporâneos sofrem a pressão da herança cultural contraposta na massa desafiadora do futuro, obrigando novas percepções, novas descobertas, novas visões, novas propostas, novas idéias.

Bryan completou 21 anos em 8 de janeiro deste ano. Começou a pintar aos 9 anos. Desde o início pinta a quinta dimensão, mostrando a não-realidade, ou a verdade não percebida pelos olhos.

A profusão de cores, a liberdade de interpretações, a composição espacial, e essencialmente, a manifestação de uma sensibilidade pulsante, provocante, perturbadora contribui para a evolução permanente, rica e fantástica do conhecimento humano.

O quadro Faces, pintado em 2002, com 16 anos, acrílico sobre tela, 70 por 50 centímetros, exemplifica o conceito proposto.

A quinta dimensão, ou a não realidade, ou a desmaterialização permite o avanço da humanidade tal como a física quântica, a eclética, a neurociência e múltiplas áreas de conhecimento avançado.

O Professor Rui Simon Paz, em Uma Sociologia Transdisciplinar, diz: “A visão transdisciplinar nos mostra que a realidade é complexa, pois tudo está interligado e é interdependente; revela-se em infinitos níveis, onde o edifício lógico e epistemológico de cada nível é único e não aplicável aos demais, ou seja, há níveis de realidade e níveis de percepção que não se confundem, mas se alinham em torno da unidade na diversidade; as verdades são relativas e incompletas, pois o que vale para um nível não se revela da mesma forma em outro.

E a lógica do terceiro incluído permite a expectativa do novo, do inusitado, sem assombros ou preconceitos, pois o que é contraditório num determinado nível de realidade pode não ser em outro. A nova Sociologia precisa, portanto, erigir-se em nova filosofia e novo método. É transdisciplinar, deve encarar o indivíduo como pertencente à unidade humana, mas singular e irredutível, capaz de fazer avaliações e críticas de per si, diante do real e do imaginário, limitado apenas pelo seu possível, portando parcelas da verdade, portanto, também é exlética; as organizações sociais são expressões temporárias e fluidas do possível alcançado pela interação das individualidades que compartilham uma determinada época; o ser humano ontológico transcende e transversa o ser histórico, pois as idéias se biodegradam, mas o homem não, reconstrói-se incessantemente, faz ressignificação e reapresentação permanente do mundo, em face da persistência da mudança.”

Depois da quinta dimensão vem a sexta, a sétima e por aí afora. A humanidade de amanhã vai compreender as nossas limitações.

Orquiza, José Roberto, [email protected]

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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