Assalto ao teatro moscovita influenciou a peça de José Luís Peixoto

O assalto ao teatro Dubrovka, em Moscovo, deu o mote à peça «Anathema», um texto de José Luís Peixoto que reflecte sobre o terrorismo e foi representado pela companhia belga tg STAN, na Culturgest em Lisboa no dia 4 de Setembro. O texto do espectáculo foi representado em francês, com legendas, mas incluiu pequenas histórias contadas por Tiago Rodrigues em português. Outros três espectáculos planejados foram cancelados por causa da doença da actriz Jolente De Keersmaeker.

Em 2002, um comando tchecheno tomou de assalto um teatro moscovita onde estava em cena um musical e fez reféns centenas de pessoas que assistiam ao espectáculo. Apesar de a peça estar ligada a este acontecimento real, isso “nunca está explícito no texto, apenas são dadas algumas pistas”, disse José Luís Peixoto, autor do texto, o primeiro que fez para teatro, em resposta a um convite do actor Tiago Rodrigues e dos STAN, uma companhia que aposta na criação colectiva. “O que se pretende é falar de temas: o terrorismo, o medo, o papel do Estado e dos indivíduos nestas situações”, acrescentou o escritor.

Este espectáculo é essencialmente “um exercício de imaginação”, apontou Tiago Rodrigues, um dos dois actores em palco. “O desafio lançado ao público” é imaginar-se refém num teatro. A peça começa com os dois actores a representar uma cena romântica de Romeu e Julieta, mas pouco depois estas personagens assumem que afinal são terroristas e estão ali para uma outra missão. Até onde se pode ir em defesa de um ideal? Que meios podem ser postos ao serviço de uma causa? Como responder à violência que é exercida sobre nós? São algumas questões colocadas na peça.

O espectáculo é também “uma viagem poética em que vamos descobrindo estes dois personagens”, acrescentou o actor português, que há vários anos tem colaborado com a companhia belga fundada por Jolente De Keermasker (a outra actriz em palco), Damiaan De Schriver, Waas Gramser e Frank Vercruyssen. Na definição da companhia, que trabalha sem encenadores e associando-se a processos de escrita com autores contemporâneos, tg quer dizer “toneelspelersgezelschap” (companhia de actores) e STAN “Stop Thinking About Names”. A peça estreou-se no Outono passado no Théâtre de la Bastille, em Paris, e foi representada já este ano em Bruxelas, segundo escreve O Primeiro de Janeiro. 

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Author`s name Ekaterina Spitcina
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