Comunicação comunitária: canal de expressão da comunidade

Comunicação comunitária: canal de expressão da comunidade

Os paradigmas teóricos da comunicação comunitária estão relacionados principalmente à teoria política inspirada em iniciativas dos movimentos populares e começaram a se configurar a partir dos anos 1970.

Como toda ação é seguida de uma reação, a concentração dos meios de comunicação e o cerceamento da liberdade de expressão causado pela censura da grande imprensa às camadas "de baixo" fizeram com que surgisse um movimento contra-hegemônico na cultura e na comunicação social, em que os agentes - pessoas comuns, cidadãos sem acesso aos meios de produção e de comunicação tradicionais - começaram a produzir seu próprio conteúdo, coletivamente e dentro de sua comunidade (sem, contudo, representar uma concorrência aos meios de comunicação de massa).

A virada do século XX para o século XXI, com o advento e popularização de novas tecnologias, contribuiu com o crescimento de novas formas de sociabilidade que proporcionaram às camadas excluídas da população - que já vinham desenvolvendo um pensamento crítico, de certo modo, com reivindicações baseadas nas suas situações concretas de vivência da exclusão - participarem de uma forma mais ativa e engajada no convívio social para a tentativa de melhorias na sociedade, a partir das comunidades.

Veiculando valores culturais comuns aos membros de uma comunidade, a comunicação comunitária também está ligada a práticas coletivas e manifestações culturais, como eventos artísticos e festivos de cunho popular que representam o sentimento de pertença a um grupo historicamente excluído e explorado pelo sistema. Além disso, propiciam um pensamento crítico a respeito dos preconceitos e esteriótipos difundidos pelos meios de comunicação burgueses.

Justamente por serem meios pertencentes aos que nada têm, sendo muitas vezes precária a produção de conteúdo, os veículos comunitários se diferenciam por seu caráter alternativo e criativo que proporciona à comunidade uma democracia e participação na construção na comunicação, utilizando as ferramentas disponíveis para tal e lutando pela sua independência ou afastamento da lógica mercantil da Indústria Cultural, se apresentando como o meio de expressão de uma comunidade, pelo qual os próprios membros manifestam seus interesses em comum e necessidades imediatas.

Deste modo, a comunicação comunitária também tem a missão de difundir conteúdo que busque desenvolver a educação, a cultura e a cidadania dentro da comunidade. Os próprios cidadãos têm a oportunidade de aprender isso, pois eles participam de todas as etapas do processo comunicacional. Eles produzem, difundem e recebem o conteúdo, garantindo pleno direito à comunicação na comunidade.

Esse processo de participação ativa também é um processo de aprendizagem, que socializa e ajuda a criar consensos entre os cidadãos, um processo educomunicativo de gestão da comunicação, de difusão de ideias e valores. Tem um caráter pedagógico pela participação democrática e horizontal na comunicação, é um espaço coletivo de formação de comunicadores e de cidadãos, que aproxima as pessoas e desperta seus sentimentos identitários, cooperativos e de pertença àquela comunidade.

Comunicação comunitária, popular e alternativa como meios de expressão e conscientização das massas populares e trabalhadoras

Como visto, os meios de comunicação comunitários são voltados para comunidades, não para o conjunto da sociedade. As comunidades podem ser físicas (as quais são mais comumente abordadas quando se trata do assunto) ou virtuais (não tendo um limite geográfico específico).

Já os meios de comunicação alternativos difundem ideias, informações e visões de mundo que precisam ser propagadas para a sociedade como um todo, na busca de vencer a batalha de ideias e transformar (ou ao menos reformar) política, social e economicamente a sociedade, embora seus ativistas muitas vezes se esqueçam disso e se direcionem para um grupo específico e diminuto de receptores desse conteúdo.

Enquanto que a comunicação popular é abrangente e voltada para a totalidade das classes populares, embora não se configure como uma mídia de massa (a grande imprensa busca sempre apresentar um caráter popular, mas não para atender aos anseios ou para conscientizar a população, e sim para ampliar o seu mercado consumidor, em busca de mais lucro).

Talvez a principal característica da comunicação popular seja a sua produção por parte do próprio povo e sua difusão para os interesses e necessidades dele, se configurando também como uma comunicação alternativa à grande mídia privada. Além disso, é voltada para a emancipação cidadã dos setores periféricos da sociedade, em um processo democrático e educativo.

Nos últimos anos, surgem canais de TV públicos ou de entidades da sociedade civil sem fins lucrativos, com a finalidade de oferecer conteúdo educativo e cultural, como canais comunitários ou universitários, ou então TV's públicas estatais.

Há também canais pertencentes à mídia burguesa que transmitem programações educativas, mas isso não significa que sejam progressistas, pois desde os anos 1960 - e também após o Golpe de 1964 - existe programação educativa de cunho conservador para ensinar a "moral" e os "bons costumes" da classe dominante, apesar de atualmente existirem sim programações de educação e ensino voltadas para a proteção do meio ambiente e dos direitos humanos, por exemplo, na mídia convencional.

No geral, todas as três (comunitária, alternativa e popular) são caracterizadas pela busca, por meio da comunicação, de progressos sociais, embora haja uma variação do nível de engajamento nas causas populares.

Das três formas, a comunicação alternativa, principalmente a imprensa alternativa, é a que mais apresenta um engajamento "radical" na transformação da sociedade, à medida que engloba com mais frequência as lutas ideológicas e o romantismo de ideais tradicionais, como o socialismo e o anarquismo.

Desde o seu início, durante o regime empresarial-militar até os dias de hoje, a imprensa alternativa comporta veículos de comunicação que vão de publicações segmentadas com uma abordagem contra-hegemônica até a imprensa político-partidária e sindical, e não tem nenhuma preocupação na prestação de serviços, como é o caso da comunicação popular e comunitária.

Ao mesmo tempo, porém, dentro da comunicação alternativa há também um espaço para grupos de ideologias reacionárias radicais, que vão do conservadorismo até o fascismo e o nazismo. Como a ideologia hegemônica dentro do atual sistema capitalista do século XXI é o neoliberalismo, as correntes de esquerda e os extremismos de direita configuram uma alternativa ao sistema, o que também é refletido na área da comunicação.

Essas formas de comunicação (alternativa, popular e comunitária) são importantíssimas para a conscientização do povo de sua situação de explorado e oprimido, procurando suscitar alguma reflexão e abrir discussões, o que é algo democrático e libertador, um dos principais instrumentos de educação popular para a transformação das condições de vida das massas.

Por outro lado, os grandes veículos capitalistas buscam, abertamente ou não, o caminho contrário: deseducar as massas, para manter o estado de dominação e opressão imposto pelo capitalismo.


Eduardo Vasco,

Pravda.Ru

 

Foto: Cecilia Pérez Jara, ex Ministra SEGEGOB/Flickr (CC BY 2.0) https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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