"Reunião com Russos Não É Crime", sobre Campanha de Trump: John Kiriakou

Enquanto a mídia tradicional dos EUA criminaliza o encontro de Donald Trump Jr. com a advogada russa Natalia Veselnitskaya em 9 de junho de 2016 na Trump Tower em Nova Iorque, o presidente norte-americano Donald Trump publicou no último dia 17 no Twitter sua defesa da reunião do filho com a advogada que prometia Informações delicadas por parte do governo de seu país, que poderiam ser prejudiciais à então candidata à presidência dos EUA pelo Partido Democrata, Hillary Clinton. Na defesa, Trump disse que foi nada mais que a reunião tratou-de de algo habitual na política.

A mídia dos EUA em geral alega que a reunião violou a lei norte-americana que proíbe que estrangeiros contribuam com qualquer "coisa de valor, ou prometa expressamente ou implicitamente contribuir ou doar em relação a qualquer eleição [federal]". A grande mídia criminaliza o Kremlin pela reunião durante a campanha presidencial dos EUA, com base em fatos nunca provados que Moscou raqueou o sistema do Comitê Nacional Democrata (DNC, na sigla em inglês), um dos motivos que, de acordo com a versão apresentada pela mídia dos EUA, Veselnitskaya desejava encontrar Trump Jr. no ano passado. No entanto, de acordo com seus participantes o assunto na reunião foi apenas o Magnitsky Act.

Na seguinte entrevista a Pravda Report, o ex-agente da CIA John Kiriakou descreve os acontecimentos, especialmente o encontro e a suposta espionagem russa durante a campanha presidencial dos EUA trombeteada pela mídia norte-americana baseada em fatos nunca comprovados, pelo contrário: todas as evidências apontam para uma "execução interna".

Ao mesmo tempo que Kiriakou afirma que o encontro com os russos não é crime, ele ressalta a lei de perjúrio dos EUA violada por Trump Jr., que diz: "Juro ou afirmo que a informação acima mencionada é verdadeira e completa diante de todo o meu conhecimento, sob pena de perjúrio". Observa Kiriakou:"Não ter informado a reunião ao FBI em um Formulário Padrão 86, necessário para uma autorização de segurança, é crime".

Kiriakou é co-autor com Michael Ruby do livro The Reluctant Spy: My Secret Life in the CIA's War on Terror, publicado em 2009, além de autor de Doing Time Like A Spy: How the CIA Taught Me to Survive and Thrive in Prison. Foi homenageado com o Prêmio Patriota de janeiro de 2016 por The Bill of Rights Defense Committee and Defending Dissent Foundation em seu país. O ex-agente da CIA passou dois anos na prisão por ter denunciado, em 2007, o programa de tortura da Agência Central de Inteligência norte-americana contra prisioneiros.


A seguir, a conversa com John Kiriakou.


Edu Montesanti: John Kiriakou, muito obrigado pelo privilégio de ter sua participação tão importante em mais uma publicação. Sua opinião, por favor, sobre a reunião de Donald Trump Jr. com a advogada russa Natalia Veselnitskaya, prometendo informações delicadas por parte do governo de seu país, que poderiam prejudicar Hillary Clinton. A lei federal dos Estados Unidos proíbe que os estrangeiros contribuam com qualquer "coisa de valor ou prometam expressamente ou implicitamente fazer uma contribuição ou uma doação, em relação a qualquer eleição [federal]". O estatuto também diz que nenhum norte-americano deve "solicitar, aceitar ou receber nenhuma contribuição ou doação" de um estrangeiro que possua relação com uma eleição. Você não acha que uma reunião em si não é uma doação real, uma contribuição concreta - neste caso, ao então candidato Donald Trump ao ponto de infringir a lei? Houve observações nos meios de comunicação da Rússia de que todos os candidatos, em todo o mundo, e suas equipes eleitorais encontram-se com estrangeiros, o que não é crime.

John Kiriakou: Primeiro, acho que muitos norte-americanos, especialmente na mídia, já tomaram um lado nesta questão. Mas acredito que a questão não é se houve reunião ou não. Claro, houve uma reunião. Mas o encontro com os russos não é crime.

Não informar essa reunião ao FBI em um Formulário Padrão 86, necessário para uma autorização de segurança, é crime. Não registrar no Departamento de Justiça como representante de um governo estrangeiro, no caso [Paul] Manafort [diretor da campanha de Trump à presidência] e [Micheal] Flynn [conselheiro de Trump logo após a vitória eleitoral], é crime. Quero dizer, o Formulário Padrão 86 que todos os norte-americanos que se apresentam a uma verificação de segurança federal preenchem: Trump Jr. não revelou seu contato com os russos, e isso é crime.

No final, acredito que as acusações criminais que sairão deste caso não estarão diretamente ligadas à intromissão ou conluio russo. Elas serão por perjúrio, conspiração, por fazer uma declaração falsa e pela falha na inscrição como agente estrangeiro.


Stephen Duke, professor de Direito da Universidade de Yale, disse à Vox em 11 de julho: "Se receber informações que Hillary estava sendo ajudada pelos russos é crime, também seria crime receber informações de que os russos estavam ajudando Trump nas eleições". Até este momento, não há evidências de espionagem russa: o New York Times, que também criminaliza fortemente a reunião, reconheceu este fato na semana passada, dizendo que "em outras palavras, informou um esforço secreto do Kremlin para usar informações altamente delicadas sobre a ex-secretária de Estado (presumivelmente obtido por espionagem, para saber o que mais?) a fim de manipular uma eleição norte-americana, Trump Jr. sinalizou: "Estamos dentro!". E ainda mais: a denominada "informação de alto nível e delicada" não veio à luz, e o próprio DNC, repetidamente, recusou-se a entregar os servidores raqueados ao governo para invetigação. O que realmente sabemos até agora é de uma simples reunião, e até mesmo o que foi discutido não está claro. Você acredita que a Rússia cometeu algum crime? Contra eleições dos EUA e sua "democracia"?

Não vi nenhuma prova de que os russos raquearam os servidores do DNC. Se o governo dos Estados Unidos tiver essa prova, deve liberá-la para que haja qualquer processo.


Mint Press informou nesta semana: "(...) Arquivos e correios eletrônicos roubados do Comité Nacional Democrata (DNC) foram copiados para uma unidade USB por alguém com acesso físico a um computador, com acesso ao servidor DNC. A análise mostra que os arquivos, publicados como arquivo de arquivo .7z, foram transferidos do servidor a uma velocidade de 23 MB por segundo, levando o investigador a concluir que era 'improvável que essa transferência de dados inicial pudesse ter sido feita remotamente pela Internet'. O investigador também descobriu que a cópia dos arquivos dos servidores do DNC ocorreu através de uma rede local de alta velocidade (LAN), ou por alguém que tenha acesso físico ao computador onde os dados foram armazenados. (...) Isso torna improvável que a inteligência militar russa tenha raqueado remotamente os servidores DNC do exterior". O quanto são importantes esses fatos, John, e eles podem mudar a versão contada pelos principais meios de comunicação, de que o Kremlin realmente influenciou as eleições dos Estados Unidos e outras investigações?

Craig Murray, ex-embaixador britânico no Uzbequistão, disse a The Guardian que ele era o canal entre um denunciante do DNC e WikiLeaks. O embaixador Murray diz que não houve raqueamento por parte dos russos.

Um funcionário do DNC baixou a informação, entregou a Murray, e Murray passou ao WikiLeaks.

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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