Espectro da guerra generalizada

Espectro da guerra generalizada. 15603.jpegCom os juros de mais de 100% para o Estado grego e as ameaças de expulsão da Grécia do Euro, nem os avisos da senhora Merkel aos parlamentares alemães de que o euro e a União são os garantes de não haver um estado de guerra na Europa conseguem ser ouvidos. A França e a Inglaterra fazem a guerra na Líbia, com o apoio norte-americano, como forma de afastar (entre outros) a Itália do petróleo daquele país.

Em época de extrema austeridade, os estados mais agressivos de União Europeia manifestam-se disponíveis e interessados em fazer a guerra. E, na frente interna, ameaçam qualquer oposição - em Portugal, o PM verbera contra motins que não existiram, e na Inglaterra o PM pressiona os tribunais para terem mão pesada com as centenas de pessoas presas, como resposta "firme" a amotinamentos cujo sentido nem sequer foi problematizado (ao contrário do bom exemplo norueguês: em resposta ao terrorismo individual bem mais mortífero que os levantamentos urbanos em terras de Sua Majestade, o PM norueguês pediu mais participação democrática aos cidadãos).

A atenção nas questões económicas não deve fazer perder de vista a centralidade das questões bélicas na vida política. Para alguns o desastre económico será resolvido pela violência contra quem estiver mais à mão, como forma de mobilizar coercivamente "os nossos" e esconder alianças perversas com a corrupção e com os dirigentes fundamentalistas (por exemplo, da Arábia Saudita e de Israel).

Observando o desenrolar dos acontecimentos - e o esgotamento dos recursos democráticos na União Europeia a favor do esbulho financeiro mais imprudente e descarado - que se pode esperar da decisão dos países mais ricos de mundo quando se preparam para prestar "ajuda" financeira aos países árabes a viverem movimentos de transformação política em todo o Norte de África e Médio Oriente? Sobretudo quando falharam miseravelmente pela mais completa inacção a sua campanha anunciada contra a pobreza no mundo.

A União Europeia vive actualmente a escolha entre fazer valer a democracia e as liberdades cívicas e políticas ou organizar a guerra contra a possibilidade da instauração de democracias no outro lado do Mediterrâneo (que, naturalmente, irão denunciar e impor o fim dos fundamentalismos wahhabi e judeu, aliados perversos dos EUA e da UE).

A luta dos portugueses por uma democracia verdadeira é a forma de lutar, em conjunto com os povos deste e do outro lado do Mediterrâneo, por oportunidades de vida e desenvolvimento para todos e, portanto, pela substituição das relações belicistas actualmente prevalecentes por relações de respeito e cooperação mútuos.

2001-09-13

António Pedro Dores

http://iscte.pt/~apad/novosite2007/blogada.html

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