Uma pedra no meio do caminho

Os jornais noticiaram de forma retumbante a divulgação dos novos números do superávit primário conseguidos pelo governo. Até agora, seguindo servilmente às determinações do Fundo Monetário Internacional, o governo Lula tem-se primado em não gastar, em não investir no desenvolvimento do País, para estocar riquezas para serem confiscadas pelo governo invisível e alienígena do FMI.

Pela arrecadação recorde do superávit primário, dinheiro que não vai ser investido aqui, que vai ser usado para pagar religiosamente os juros da banqueirada internacional, o IBGE revela a real situação dos brasileiros, enquanto o governo recolhe números nunca antes registrados para serem destinados aos cofres das instituições financeiras internacionais. Hoje, 66 milhões de brasileiros recebem R$ 79,00 por mês. Por dia são R$ 2,60. São 40 milhões de pessoas vivendo com R$ 240,00 por mês, ou R$ 8,00 ao dia, e 10 milhões de pessoas não podem dizer quanto ganham, são os subempregados. Outros 14 milhões são de desempregados.

E o que o governo Lula faz para corrigir está situação? Recolhe o dinheiro arrecado junto ao povo por meio dos impostos, que deveria ser destinado ao financiamento e investimento no desenvolvimento social, na geração de emprego e renda, e entrega para o sistema financeiro, a agiotagem internacional, rolando a dívida que já foi paga algumas centenas de vezes.

Para agravar a situação ainda mais, o governo Lula tenta de todas as formas passar por cima da Constituição Federal e cobrar dos aposentados pelo seu medo de fazer um governo voltado para os interesses nacionais, dos brasileiros. Agora, Lula e pares querem a qualquer preço taxar os inativos, os que durante anos pagaram para um dia terem o direito de serem conduzidos aos seus aposentos. Para quê o governo quer este dinheiro angariado de forma extorsiva dos nossos aposentados, se ele até agora não usou o que arrecadou no desenvolvimento do País? Está tudo muito estranho, muito mal contabilizado...

No Supremo Tribunal Federal, a nossa mais alta e nobre corte, a ministra Ellen Gracie foi precisa e taxativa declarando que a cobrança dos servidores inativos fere cláusula pétrea da Constituição e é uma bitributação sobre a renda do servidor público, que já tem descontado imposto de renda na folha de pagamento. Para arrecadar e atender as exigências do FMI o governo Lula quer até passar por cima da nossa Constituição Federal, removendo as cláusulas pétreas do seu caminho da servidão. Mas, para dar aumento ao salário mínimo, mesmo tendo protestos dentro do próprio partido, Lula dá de ombros e segue resignadamente o caminho traçado pelo Fundo, o da submissão.

Alavancado pelas exportações, o PIB cresce. Não por uma política acertada do governo, mas pelo próprio poder regenerador da nossa economia, aquela que o governo fernandista tentou por oito anos destruir e não conseguiu. Urge agora voltar-se para o crescimento do mercado interno, do consumo. Isto, só com a geração de empregos e o aumento do poder aquisitivo dos salários. Coisa que, a curto prazo, não veremos, pois Palocci, o príncipe emplumado, já declarou que "nada vai mudar, tudo ficará como está, o Brasil é produtivo, tem uma dinâmica econômica forte, estamos no caminho certo".

Para justificar estas bravatas, o ministro apresenta números, como fazia o Delfim Netto durante as ditaduras das políticas entreguistas. Vale lembrar ao Palocci que mesmo diante da insensibilidade social dos governos militares, o general Médici, reconsiderando as políticas de Delfim Netto, ponderou: "A economia vai bem, mas o povo vai mal". A nossa situação econômica hoje não é igual àquela dos anos de chumbo, é infinitamente pior, por que naquela época o Brasil crescia à média de 7% ao ano e o desemprego era mínimo. Agora, o aumento do salário é mínimo e o desemprego cresce a uma média de 7% ao ano. Que contra-senso.

O mais triste disso tudo é constatar que o País é rico e o seu povo pobre, muito pobre. E os nossos governantes beiram a indigência moral, a vassalagem institucional.

Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor.

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