Arriscarão os EUA a atacar o Irão?

"Tenho esperança que possamos resolver isto (o problema do programa nuclear do Irão) por meios diplomáticos" - disse Bush, para em seguida advertir a comunidade mundial, que já estava pronta a respirar de alívio. "Mas eu nunca retiro da mesa todas as variantes".

Afinal, foi escolhida a diplomacia ou a guerra? Falou-se ao mesmo tempo de uma e de outra. Mas depois do veterano do jornalismo americano Seymour Hersch ter dito que, segundo as suas fontes, as autoridades norte-americanas estudam a hipótese de desferir ataques contra alvos no Irão, todos decidiram: se as esperanças de Bush numa solução diplomática não se justificarem, será impossível evitar a guerra.

Washington, que incluiu o Irão no chamado "eixo do mal", considera que, ao criar o seu próprio programa de enriquecimento de urânio, Teerão irá obrigatoriamente mais longe, ou seja, tentará obter a arma nuclear. O Irão, por sua vez, declara inequivocamente que em nenhuma circunstância abdicará dos seus direitos a desenvolver o seu próprio programa energético nuclear de ciclo fechado, sublinhando que este é "exclusivamente para fins civis".

Washington nunca acreditará nas afirmações de Teerão e irá exigir o total encerramento do programa; Teerão por sua vez nunca irá concordar com tal. Segundo a opinião dominante actualmente entre os peritos, a situação entrou num "círculo vicioso", sendo praticamente irresolúvel e, por isso, as pouco claras esperanças de Bush sobre a "via diplomática" são mais que ilusórias. Agora a última parte da sua declaração já é bem mais provável.

No entanto, no que se refere às "variantes" referidas pelo presidente americano, elas não são assim tantas. Para além da possível acção militar para eliminar alvos nucleares "suspeitos", poderia existir uma outra variante de pressão sobre o Irão - a introdução de sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU. Mas aqui tudo depende da posição do Conselho de Directores da AIEA, que não vê necessidade de entregar o "dossier iraniano" ao Conselho de Segurança, o que insistentemente embora sem grande êxito tem tentado conseguir Washington.

A diplomacia americana não esconde que não está satisfeita com o texto "demasiado brando" da última resolução do Conselho de Directores da AIEA sobre o Irão, aprovada a 15 de Novembro. O representante dos EUA nas conversações da "troika" europeia no Irão, Jerry Sanders, até prometeu colocar no Conselho de Segurança da ONU a questão da introdução de sanções contra o Irão "em regime unilateral", sem a respectiva resolução da AIEA. Mas mesmo este passo dificilmente trará aos EUA o tão desejado resultado. - Uma vez que a AIEA não considera o Irão infractor e o Conselho de Segurança não deverá contrariar tal posição, os EUA arriscariam-se a ficar em total isolamento, ou seja, ainda em pior situação do que no caso do Iraque.

É verdade que os Estados Unidos até podem concordar em avançar com uma votação, "a priori" destinada ao fracasso, no caso de quererem desencadear um ataque contra Teerão, de maneira a demonstrar mais uma vez ao mundo que todas as medidas diplomáticas se esgotaram e que não existem outras variantes para além da militar.

Não obstante, é pouco provável que os EUA se decidam a realizar uma acção militar contra o Irão a curto prazo, mesmo que os seus generais continuem a dizer que é perfeitamente possível, estando as Forças Armadas ocupadas no Iraque, desencadear um ataque contra outro país, por exemplo o Irão.

Não se deverão decidir porque em Washington entendem perfeitamente que o Irão actualmente não representa qualquer perigo nuclear nem para os EUA, nem para a região de Israel. Segundo as previsões mais optimistas de peritos, o Irão só virá a ter armas nucleares (se de facto as conseguir elaborar) dentro de 7-10 anos. O bombardeamento de alvos isolados "suspeitos" não levará a nada e acabará por se tornar um motivo justificado para o Irão desferir golpes não-nucleares de resposta contra esse mesmo Israel, até porque o Irão possui meios de desferir estes ataques.

Israel, ao contrário do Irão, terá armas nucleares. Enviar tropas para o Irão numa altura em que as acções militares no Iraque não têm tido grande sucesso seria equivalente a um suicídio. Esta variante não é analisada a sério. Por um lado, o Irão tem um potencial militar incomparavelmente superior ao do Iraque e, por isso, nem vale a pena falar de uma operação de surpresa; por outro uma acção militar levará inevitavelmente ao surgimento de uma frente única iraco-iraniana contra a América, o que terá consequências catastróficas para os EUA.

E, finalmente, um golpe contra o Irão não terá qualquer apoio por parte dos principais aliados europeus - a Grã-Bretanha, a Alemanha, a França -, que realizam conversações com o Irão para a assinatura em Junho deste ano de um acordo geral, no qual serão dadas todas as necessárias garantias da orientação exclusivamente pacífica do programa nuclear iraniano.

É muito provável que o Irão tenha razão quando diz que os EUA desenvolvem contra o Irão uma guerra psicológica na esperança de que este abandone o seu programa energético nuclear. -0-

Petr Gontcharov observador RIA "Novosti"

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