George Bush ou John Kerry? - a perspectiva de Putin

As posições dos candidatos à Casa Branca nesta questão são há muito conhecidas. O actual presidente está completamente convencido de que o seu adversário democrata optou por um rumo perigoso. O seu principal objectivo é a retirada do Iraque. O resultado de tal estratégia será infalivelmente "a derrota na guerra contra o terrorismo".

O senador John Kerry contrapõe a estas acusações as suas promessas de dar à guerra contra o terrorismo internacional "um carácter mais inteligente, mais eficaz e persistente". Tal significa que são precisamente estas qualidades que faltam à actual linha do seu adversário. Kerry critica frequentemente o actual presidente por este alegadamente não ter conseguido mobilizar a comunidade mundial em apoio da América e acabado por ficar "entrincheirado" na guerra em completo isolamento.

Argumentos contrários foram apresentados na terça-feira por uma parte inesperada - a Rússia. Intervindo numa conferência de imprensa em Duchambe, capital do Tajiquistão, o presidente Vladimir Putin deu a entender que a América desempenha um papel de tal maneira importante na coligação internacional que a derrota de George Bush nas eleições poderá levar a um recrudescimento súbito da actividade terrorista em todo o mundo.

Segundo Putin, os ataques do terrorismo internacional no Iraque estão orientados hoje não apenas contra as forças internacionais de coligação mas especialmente contra o próprio presidente Bush.

"O terrorismo internacional coloca perante si o objectivo de causar o maior dano possível a Bush durante a campanha eleitoral e de impedir a sua reeleição para um segundo mandato na América" - disse o líder russo.

Segundo Putin, o fracasso de Bush nas eleições seria considerado pelos terroristas como uma importante vitória táctica tanto sobre a América como, "em determinado sentido, sobre as forças da coligação antiterrorista internacional, tendo em conta o papel e a importância que a América tem nesta coligação". Segundo a perspectiva do presidente russo, um tal resultado das eleições daria à Al Qaeda "forças adicionais", que viriam a provocar novos ataques em diversas regiões do mundo.

Esta declaração de Putin, efectuada a duas semanas do escrutínio, pode facilmente ser considerada como uma oferta eleitoral a Bush, sendo esse o tom geral dos comentários na imprensa mundial. É característica a opinião de um dos mais influentes analistas europeus, segundo a qual estas declarações do presidente russo "são um sinal de que Putin preferiria a vitória de Bush".

As importantes considerações políticas nas quais o líder russo com certeza se baseou são neste caso substituídas por estereótipos eleitorais: Putin é a favor deste candidato, consequentemente Putin é contra o outro candidato.

No entanto, na realidade o presidente não parece ter tido a intenção de fazer com que as suas declarações levem os eleitores a carregar neste ou naquele botão na cabina eleitoral. Para além disso, as motivações de voto dos americanos, tal como frisou Putin na conferência de imprensa, ultrapassam muito a problemática iraquiana.

É muito possível que o presidente russo tivesse tido em mente não uma manobra eleitoral mas o desejo pragmático de obter ganhos políticos. Putin quer tudo menos mudar de parceiro no auge da guerra contra o terrorismo internacional. É um parceiro bem conhecido, que mantém uma atitude cordial, a cujos defeitos e qualidades já se está habituado. Como diz o provérbio russo, "na passagem do rio não se mudam os cavalos".

Ao mesmo tempo, Vladimir Putin não exclui de maneira nenhuma todas as outras variantes de desenvolvimento dos acontecimentos na América depois de 2 de Novembro. Os eleitores americanos irão decidir a quem confiar a direcção do país e o Kremlin está disposto, segundo as palavras do presidente russo, a "respeitar qualquer que seja a escolha do povo americano".

Vladimir Simonov observador político RIA "Novosti"

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