Confundir, formular um chavão, legitimar e repetir a tática indefinidamente. Enquanto o governo Lula tropeça na sua desastrada tática de alianças, a oposição dita o que a imprensa chama de opinião pública.
Por Gustavo Barreto Da redação, 20/5/2005
A tática é segura, sutil e tem bom resultado. Primeiro, a confusão. Denúncias de corrupção, ex-aliados descontentes, grandes nomes supostamente envolvidos, governo nega et cetera. Não entendi nada, disse um, em frente ao Jornal Nacional JN, na sexta (17/6). A suspeita atinge o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Alguém sabe o que é? Ou para quê serve? O JN tenta explicar. Não deu certo: Pra quê dois seguros?
O JN aproveita para explicar que há uma incoerência entre o IRB ter o monopólio do mercado e ser o fiscalizador desse mercado. Veja que reformulação interessante, que transforma uma estatal em uma empresa em processo de privatização. Aproveita então a reportagem para propor uma solução para o problema, divulgando um projeto que visa abrir o setor ao mercado. Não explicam que, na visão de muitos, não há incoerência no fato de o governo controlar setores que sejam estratégicos para a Nação. Eles não perdem tempo.
Em suma, a confusão é geral. Nenhuma prova e muita gritaria: eis o que chamam de escândalo do mensalão. É preciso investigar, punir, cortar na própria carne, diga-se. No entanto, a mesma imprensa que, durante o governo FHC, esqueceu de criar chamadas para dezenas de casos de corrupção e mesmo depois de extensa documentação se negou a fazer tanta gritaria agora não quer nem saber: virou juiz e tem como única evidência o que a juíza Denise Frossard classificou como a prostituta das provas o depoimento, oriundo de um notável corrupto.
Quando a imprensa deseja massacrar o corrupto, o chama pelo nome. Quando deseja enaltecer, o chama de profundo conhecedor da corrupção um corruptólogo de primeira linha que sabe do que está falando. Vem daí o perfil de Roberto Jefferson, ouvido em uma rádio de notícias hoje (17/6): Notável advogado criminalista, participou de mais de 200 casos.
Outra tática: responder o que não foi perguntado. Lula não é igual a Collor, dizem os tucanos Aécio Neves e Fernando Henrique. Quem disse que era? Eles mesmos, mas com outros porta-vozes.
O sujeito então formula, sentado no sofá ou no bar: Bando de corruptos! Que decepção esse PT, tudo farinha do mesmo saco! A política se reforça como espaço para a bandidagem de terno, abrindo caminho para a volta dos mesmos ladrões de sempre. Aqueles que, ao se ver impedidos pela opinião pública de roubar o patrimônio público, terceirizam a corrupção e o vendem ao capital estrangeiro, recebendo o pagamento por fora. Vide FHC, Malan e companhia. Privatizam, correm para os braços dos grandes banqueiros e empresários e acabam ricos e ilesos.
FHC promoveu a sofisticação da.. corrupção. Foi bem sucedido..
Depois de formulada as frases-chavão, repetidas por marionetes formadoras de opinião, o JN divulga duas pesquisas de opinião que mostram queda na avaliação do governo Lula. São dois institutos IBOPE e DataFolha sendo que apenas o primeiro mostra tal resultado. Eles vêm a comprovar o que a imprensa e a oposição tenta impor. Efetivamente as pesquisas nada dizem sobre a popularidade do projeto de Lula, mas servem para derrubar um dos segmentos da ala desenvolvimentista do governo, José Dirceu, que pedia no começo de 2004 juros básicos de 12% ao ano. Já Henrique Meirelles, responsável pelo repasse de R$ 10 bilhões (com bê) por mês (doze vezes por ano) a banqueiros e especuladores (parte do dinheiro para o bolso dele mesmo), continua muito bem, obrigado. Em uma das pesquisas de opinião divulgadas pelo JN, é constatado que 41% dos entrevistados desconhece que haja denúncias de corrupção no governo Lula, contra 58% que conhecem. E daí? E o fato de 70% da população achar que existe corrupção no governo, o que quer dizer? Será que alguém, em sã consciência, achava que um problema dessa proporção não ia continuar acontecendo, mesmo que uma aliança entre Deus, Alá e Buda assumisse o Planalto?
Confundir, formular um chavão, legitimar e repetir a tática indefinidamente até as próximas eleições.
Gustavo BARRETO
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