África chora sozinha

O estado de emergência nacional declarado em Suazilândia resume o drama de vastas zonas de África, vítimas de doenças, catástrofes naturais, pobreza endémica, má gestão, seus recursos pilhados e suas comunidades desequilibradas por anos de exploração.

A Organização Mundial de Comércio prega igualdade. Igualdade de estado, igualdade de condições comerciais, oportunidades iguais, direitos iguais. O que pratica, é completamente diferente. Como podem os países africanos competirem com o mundo mais desenvolvido quando um produtor norte-americano ou europeu recebe subsídios para baixar o custo do produto e quando simultaneamente, se impõe tarifas sobre bens importados?

Como pode um africano competir com um europeu ou norte-americano em base de igualdade quando lhe custa muito mais viajar para a Europa do que custa para um europeu viajar para os EUA, quando uma chamada telefónica ou ligação de Internet ou telemóvel custa o dobro, quando uma educação é um sonho para os poucos privilegiados?

Na Quarta-feira a tarde, Themba Dlamini, Primeiro-ministro de Suazilândia, apelou à comunidade internacional pedindo ajuda, enquanto se impôs um estado de emergência nacional no seu país. HIV/AIDS e pobreza endémica deixaram um quarto da população sem comida suficiente e 40% seropositivos.

Suazilândia é talvez um exemplo extremo mas no entanto, típico, do problema que aflige milhões de famílias africanas.

Ciclos de seca e cheias destroem não só as colheitas mas também a semente antes de chegar a colheita. Embora se tenha gasto milhões de USD em programas educativas, HIV/AIDS continua a ser um flagelo para comunidades na maioria das zonas do continente. Na Costa de Marfim, mais que metade dos doentes no hospital de Korhogo testaram seropositivos esta semana, a maioria sem saber que tinham esta doença. A má gestão por oficiais corruptos num continente onde a comissão debaixo da mesa é um facto de vida dos negócios, providencia um cenário perfeito para a canalização de fundos fora das áreas-alvo.

Contudo, se há oficiais corruptos, é porque foram corrompidos. Que conveniente para certas firmas colocarem uma pessoa numa posição de autoridade, suborná-la e depois ganhar acesso aos recursos da África e dos africanos.

O facto que há ainda comunidades na África que acreditam que o acto sexual com uma virgem providenciará protecção contra a SIDA é uma vergonha, não só para estas comunidades. Também é vergonha o facto que mesmo quando uma pessoa sabe que tem de utilizar um preservativo, ou não há ou então é caro demais para comprar.

Em algumas partes da África Ocidental, um preservativo custa 100 CFA – 20 cêntimos norte-americanos – o preço pelo qual algumas moças vendem seus corpos para ajudarem as suas famílias a não morrer de fome.

Embora seja fraco o poder do homem contra as forças da natureza, a Humanidade pode afirmar que se fez tudo para dar às comunidades africanas a hipótese de poderem lutar contra os elementos naturais?

Não é verdade que o facto que bilhões de USD são gastos todos os dias em programas de Armamento de Destruição Maciça, precisamente pelos países que condenam tais armamentos de maneira tão veemente, enquanto milhões de pessoas morrem sem comida e com doenças noutras paragens, é um comentário perfeito sobre a iniquidade e hipocrisia do mundo de hoje, no início do Terceiro Milénio?

Não é altura de sermos um pouco mais civilizados?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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