Bratislava: Crítica americana pode ser inconsistente face à argumentação russa

Entre outras questões no centro das atenções do encontro entre Vladimir Putin e George Bush, a ser realizado a 24 de Fevereiro em Bratislava, será o tema de cooperação económica dos dois países. Desperta interesse particular a actuação d empresariado russo no mercado americano, tendo os maiores consórcios da Rússia sido atraídos nos últimos tempos por enormes activos da América. Por exemplo, a empresa russa Severstal adquiriu a companhia Rouge Industries, quinto maior produtor de aço dos EUA, a companhia LUKoil soube convencer a Conoco Philips de vender a cadeia inteira de postos de gasolina nos Estados de Nova Jersy e Pensilvânia.

Será ao agrado dos dois presidentes de constatar o reforço do fundamento económico dos dois países principalmente graças ao alargamento do comércio bilateral.

Os investimentos russos na economia dos EUA equivalem já a 1 mil milhões de dólares o que é plenamente comparável com os investimentos americanos na economia russa.

Em 2003, as trocas comerciais dos dois países movimentaram 7,1 mil milhões de dólares, tendo sido duplicadas já no ano passado, cifrando-se em quase 14 mil milhões de dólares. Por outras palavras, as partes começam a explorar o potencial das suas possibilidades ainda não aproveitadas. Verdade seja dita que por enquanto a Rússia figura na terceira dezena de principais parceiros comerciais americanos, cedendo lugar à Nigéria, à Venezuela, à Suécia e a uma série de outros países . No que se refere as Estados Unidos estes por seu lado ocupam a 7.ª posição entre os principais parceiros comerciais da Rússia.

Moscovo fica pouco satisfeita pelo comércio bilateral com os EUA tanto em termos quantitativos como qualitativos. Quer dizer, as importações vêm sendo assinaladas pelo predomínio de mercadorias com alta taxa de valor acrescentado, enquanto as exportações, trata-se principalmente de matérias-primas, por uma baixa taxa de transformação. À luz disso Moscovo gostaria por assim dizer de "enobrecer" o conteúdo das trocas comerciais entre os dois países. Pouco impressionam por enquanto também os investimentos dos EUA na economia russa. A maior potência mundial poderia investir muito mais. De acordo com os dados de 2004, os EUA desceram do segundo lugar para o terceiro, tendo investido apenas 4,2 mil milhões de dólares no que se refere aos investimentos directos, cedendo lugar aos Países Baixos (7,8 mil milhões de dólares) e a Chipre (5,5 mil milhões de dólares). Quanto ao volume geral de investimentos os EUA ocupam a modesta 6.ª posição (6,7 mil milhões de dólares).

O quê impede fazer um progresso decisivo na cooperação dos dois países? Ao que parece os pontos de vista de Moscovo e Washingtom venham a divergir neste aspecto.

A parte americana costuma lamentar a ausência de um "ambiente económico normal" na Rússia, a fraca base legislativa e de protecção da sua actividade face às arbitrariedades por parte das autoridades russas. Para provar o último citam o exemplo do "caso YUKOS".

Moscovo aceita uma parte de reproches, referentes antes de tudo à imperfeição da legislação e à precária aplicação da mesma, o que consta praticamente de todas as declarações de altos funcionários. No entanto, seria muito mais lógico de tratar com maior paciência o país que acabou de finalizar a passagem do sistema de economia planeada para a economia de mercado.

No que se refere ao "caso YUKOS", que tanto perturbou o Ocidente, para o espanto de muitos, este não impede de modo algum as maiores agências internacionais prestigiosas de elevar o "ranking" de investimentos da Rússia. Atrevo-me presumir que o "caso YUKOS" vem sendo aproveitado por neoconservadores americanos não para defender a livre iniciativa russa, senão para dificultar a vida da Administração de Bush, obrigando-a endurecer a política, na vertente russa e, se tiverem sorte, de desmantelar as relações dos dois países, apresentando a Rússia na qualidade do inimigo dos EUA.

Talvez, prevendo isso, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, disse, intervindo no recente Conselho Empresarial de Cooperação russo-americano, que a "Rússia e os EUA têm aprendido de separar o essencial do aleatório".

Actualmente a tarefa-chave da Rússia na área económica é a adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ao conseguir em 2004 o apoio de seus planos por parte da União Europeia e China, Moscovo centrou hoje os esforços de conseguir o mesmo dos EUA. Por exemplo, já foi alcançado um progresso no acordo de condições para a comercialização da técnica aérea civil russa. No entanto muita coisa continua ainda pendente. Trata-se em particular da liberalização do mercado russo de serviços, incluindo bancários e de seguros, o apoio da agricultura por parte do Estado, a protecção da propriedade intelectual.

Se resumir todas estas dificuldades tudo acaba por ser muito claro. A Rússia simplesmente pretende aderir à OMC nas condições tradicionais. Infelizmente, os veteranos desta Organização, incluindo os EUA, ainda não estejam prontos a isso. Há bastante provas de atribuir à Rússia um papel miserável de um parceiro de segunda.

Pondo de lado a entrada na OMC, basta lembrar a história interminável com a emenda Jacksoin-Vanik, destinada originalmente para favorecer a saída dos judeus da União Soviética. Porém, a URSS desmoronou há mais de dez anos, tendo o problema de emigração israelita sido já resolvida. No entanto sob a Rússia continua a pender a famigerada emenda. Há quem venha a acalmar a Rússia dizendo que a emenda já não impede em nada ao desenrolar do comércio entre a Rússia e os EUA. Sim, é verdade, mas a emenda continua a aborrecer o Kremlin, pois a sua existência não contribui em nada para a prontidão da administração americana de aplicar o seu capital político para neutralizar os ânimos russófobos no Congresso e, afinal de contas, para o desenvolvimento de cooperação económica com a Rússia. Os exemplos do género não faltam.

É difícil de acreditar, mas até agora é proibido às firmas americanas de vender os supercomputadores à Rússia. Esta interdição se deve ao famigerado COCOM, Comité que regulava as exportações de tecnologia "sensível" para a URSS e os países do Bloco de Varsóvia. A URSS e o bloco já não existem, mas a interdição continua em vigor. Na realidade porém os EUA podem vir a ser muito mais interessados na cooperação com a Rússia do que a própria Rússia.

O sector-chave é a energética. Ainda em 2002, os presidentes Putin e Bush abençoaram o desenvolvimento de relações russo-americanas na área energética, tendo em vista os recursos enormes da Sibéria Oriental e do Extremo Oriente russo. Moscovo não tem nada contra, se o acesso de petróleo e gás russos ao mercado americano aumentar de 2 por cento actuais a 10 por cento. Já está redigida uma respectiva lista de projectos perspectivos entre os quais figuram a construção de oleoduto Sibéria Ocidental-mar de Barents, os fornecimentos directos de petróleo e gás da lha Sacalina aos EUA, marcadas para 2005-2006, a eventual exploração conjunta de um dos maiores jazigos de gás no mundo, o Kovytkinskoe, os estudos de novas fontes de energia e antes de tudo do hidrogénio.

Comparada com a Europa, a Rússia nunca era tida por maior fornecedor directo de recursos energéticos aos EUA. Agora Putin e Bush podem alterar a situação radicalmente.

Vladimir Simonov observador político RIA "Novosti"

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