Ondas de Choque na Europa

A cada acção, há uma reacção. Em democracias estáveis, a reacção tem de vir de dentro, expressa pela voz do povo num processo que se chama uma eleição. Esse processo teve lugar este final de semana na Espanha, onde a voz do povo falou alta e clara contra os males cometidos pelo regime de Bush e seu clique de sicofantas.

Aznar foi o primeiro a dançar, e será seguido ainda este ano por Bush, depois Howard, depois Blair e Berlusconi e finalmente por José Barroso, num processo democrático em que a opinião pública mundial restabelece o estado da lei na comunidade internacional que foi esmagado, não simplesmente quebrado, por esses protagonistas que, por várias razões, foram longe demais, pondo em moção a mecânica dum processo que será bastante complicado a parar.

Atacando o Iraque contra as normas de diplomacia e contra os termos da lei internacional, baseando o causus belli em mentiras, documentos forjados, prepotência, chantagem e ameaças, Washington não só demonstrou a verdadeira massa que o compõe mas confirmou os piores receios daqueles que temiam que esse regime seria capaz de tudo e também forjou uma aliança de assassínio que põe a população da Europa em perigo de ataques por terroristas.

Pela primeira vez na história, a imprensa e a opinião pública em Portugal estão cheias de rumores e histórias de um futuro ataque por Al Qaeda, em retaliação pelo apoio dado pelo Primeiro-ministro José Barroso a Bush e Blair, mesmo que não haja evidência que tal possibilidade de ataque seja mais que fruto dos contadores de histórias.

Contudo, a possibilidade é real, especialmente durante ou pouco antes do Euro 2004, um evento que colocará Portugal no centro das atenções de bilhões de pessoas este Junho e Julho. Por quê? Porque o regime de Bush aplicou pressão sobre o governo de Portugal no sentido de ganhar apoio para a sua política no Iraque na ausência duma Resolução no Conselho de Segurança da ONU e o governo de José Barroso não teve a espinha dorsal para fincar o pé.

A “pressão” é o novo termo que substitui a “diplomacia” em Washington, onde as decisões não são tomadas baseadas em debate e diálogo e discussão – os princípios fundamentais da democracia – mas em prepotência, chantagem e beligerância. Os efeitos desta política na comunidade internacional são que, pela primeira vez, há uma coligação não assinada das forças do bem e da razão, contra a Maldade prosseguida pelo regime de Bush e a massa corporativa que circula a volta dele.

O governo de direita da França tem um novo parceiro no Partido Socialista Operária da Espanha, que verá o Madrid a entrar no espaço já ocupado por Moscovo, Paris, Berlim, Brasília e Pequim, entre outros. Sejam quais forem as suas cores políticas nacionais, esses governos querem uma comunidade internacional que baseia as suas decisões sobre o direito internacional, uma comunidade internacional que usa a ONU como o centro do seu processo de tomar decisões e não as pressões aplicadas por empreiteiros como o Halliburton, que ganham vastas quantias de dinheiro através de controlar e ditar a política externa, que por sua vez providencia os contractos para esta empresa sem sequer entrar num concurso. Que democrático!

Isso não é democracia. É uma ditadura corporativa, que representa os desejos não do povo, mas duma elite restrita que usurpa os recursos na nação para ficar cada vez mais rica e cada vez mais poderosa com cada dia que passa, ao custo da população que foi utilizada, convencida a votar para o partido que esta elite apoia.

O processo da eleição na Espanha é o início duma cadeia de eventos que irá rectificar o mal e fazer voltar um sentido de equilíbrio na comunidade internacional. Infelizmente, as ondas criadas pelo calhau lançado por Washington não serão fáceis de controlar uma vez que depois de um processo de terrorismo iniciar e depois de um grupo de pessoas começar a fazer a sua vida a custo deste, não faz muito sentido para esse grupo de pessoas acabarem com a sua actividade.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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