A CAPTURA DE SADDAM HUSSEIN LEGITIMA A GUERRA CONTRA O IRAQUE?

Ainda não se sabe com absoluta certeza se trata-se de fato do antigo líder iraquiano, pois pode ser apenas um golpe publicitário da administração Bush para salvar uma campanha militar que se torna cada vez mais impopular e injustificada. Mas suponhamos que realmente seja Saddam Hussein, e não um de seus vários sósias. Aparentemente, é uma grande vitória para George W. Bush, capturar o sanguinário ditador que por mais de vinte anos oprimiu e trucidou seu povo, além de ter causado grandes sofrimentos a iranianos e kuwaitianos, países com os quais ele entrou em guerra. Com certeza, muitos poucos vão lamentar a captura de um tirano como Hussein.

Mas Bush tampouco pode considerar esta captura como uma grande vitória, algo que legitime sua guerra: pois afinal a invasão do Iraque não teve como principal motivo eliminar o programa de armas de destruição em massa e de mísseis estratégicos para lançá-las? E onde estão estas armas? Dizer que a captura de Saddam Hussein legitima a invasão do Iraque é admitir que esta guerra foi feita apenas por causa de um indivíduo: matam-se alguns milhares de civis iraquianos; destrói-se toda a infra-estrutura civil de seu país (água, esgoto, eletricidade, serviços básicos que, meses depois do fim oficial da guerra, ainda estão longe de plenamente restabelecidos); mantém-se um povo inteiro à mercê de soldados invasores que atiram primeiro e perguntam depois, por temor a ataques da resistência; viola-se todos os princípios do direito internacional e da Carta das Nações Unidas; enfim, tudo isso teria sido feito por causa de UM indivíduo, prender um homem chamado Saddam Hussein? Não parece fazer muito sentido, e foi exatamente por isso que, antes da guerra, a coalisão Bush-Blair nunca afirmou que seu propósito era depor e capturar Saddam Hussein, mas sim eliminar a enorme ameaça militar que o Iraque representava.

Desde aquela época, os sensatos já se perguntavam como poderia ser uma ameaça um país que foi derrotado na Guerra do Golfo de 1991, na qual perdeu 200.000 homens, e também empobrecido por 12 anos de embargo econômico. Mas as armas de destruição em massa, proibidas pela ONU, seriam uma justificativa válida, se existissem. Porém os meses correm, e não se encontrou nenhuma ogiva de arma química, biológica ou nuclear, nenhum míssil estratégico com capacidade de atingir a Europa, os Estados Unidos ou mesmo Israel, e nem sinal de que houvesse um programa de desenvolvimento de tais armas.

Em suma, a invasão do Iraque continua tão injustificada quanto sempre foi. Oxalá a comunidade internacional não se deixe levar pela propaganda norte-americana, vendo na captura de Saddam Hussein um fato legitimador, como aparentemente irá acontecer em relação à opinião pública dos EUA. A grande conseqüência negativa desta captura é que agora Bush tem grandes chances de se reeleger no ano que vem, o que será péssimo para o resto do mundo: ele terá mais quatro anos para preparar e lançar pelo menos mais uma invasão, que pode se dar na Síria, Irã ou Coréia do Norte.

Porém, como reconheceu o próprio Bush, a captura de Saddam Hussein não significa o fim da resistência contra a ocupação anglo-americana.

É interessante notar que o local onde o ex-presidente estava escondido não possuía nenhum meio de comunicação (como informou a Agência Estado), e portanto não poderia estar comandando as forças da resistência. De fato, ao que tudo indica, os guerrilheiros iraquianos não são correligionários de Hussein que pretendem recolocá-lo no poder, mas lutam pela soberania de seu país e contra tropas que o invadiram sem nenhum respaldo legal, moral ou internacional. Tudo indica que a resistência seguirá com sua luta legítima, independente do destino de Saddam Hussein. Carlo MOIANA Pravda.Ru MG Brasil

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