Perguntas acerca do Stalin

Prezados jornalistas do Pravda, Eu sou um amante dos assuntos da Rússia e lamento profundamente o fato de existir um oceano me que separa do povo russo, já que vivo no Brasil. Saudações calorosas, portanto, aos leitores russos do Pravda e aos seus valorosos funcionários! Que um dia eu possa conhecer esse glorioso e fantástico país bem como o seu complexo idioma! Eu estou lendo o livro "Stalin - Triunfo e Tragédia" de Dmitri Volkogonov, general soviético do departamento estatal de propaganda. O objetivo do autor é esmiuçar a trajetória política de Stalin, desde a guerra civil russa até o seu zênite no poder soviético. O livro é categórico em criticar a idolatria do povo russo a Stalin, de tal forma a compará-lo a um imperador romano em plena perseguição religiosa a cristãos. E é categórico em ilustrar o banho de sangue que foi este período no seio da sociedade russa. Eu como um cristão crente em Deus vejo a idolatria como algo abominável, mas peço os vossos comentários para ver se de fato as coisas ocorriam assim. E peço os vossos comentários, até porque o livro deixa transparecer a idéia de que as intituições jornalísticas russas foram lenientes com os crimes, os mandos e os desmandos de Stalin. Como o autor admite ter seu próprio pai assassinado pelo stalinismo, desconfio se não há um grau de ressentimentos destilados no livro. Um forte abraço, Rodrigo Silva Barros Praia Grande - São Paulo - Brasil http://spaces.msn.com/rodrigosilvabarros

Caro Rodrigo,

Penso que quando se trata da história, há que ver os eventos não com a visão dos nossos tempos mas sim posicionarmos no tempo do evento ou da figura que estamos a abordar.

Por exemplo, não faz sentido julgar Júlio César por padrões do século XX, senão passaria de herói para um monstro que cometeu crimes contra a humanidade.

Também temos de inserir os eventos no contexto mais lato, tomando em conta movimentos sociais que são próprios a processos de desenvolvimento de uma sociedade, que podem ocorrer no século x. num determinado país, e no século y. num país vizinho.

Temos de lembrar as convulsões sociais na Europa Ocidental durante os últimos mil anos e contabilizar os mortos antes de dizermos que Stalin foi o único monstro que apareceu porque fez isto ou aquilo.

Sem querer desculpar acções que contrariaram a lei, o que aconteceu na URSS de Stalin, temos também de ver que ele lutava contra correntes extremamente hostis na comunidade internacional, num tempo em que trilhões de dólares estavam a ser gastos na tentativa de sabotar o comunismo dentro e fora da URSS e temos de lembrar que Stalin viveu os contornos da Guerra Civil, quando forças imperiais fizeram uma incursão na jovem URSS, tentando destruir o modelo criado por Lenin e depois nos anos 30, via as forças fascistas a crescerem e teve a noção que seu novo país poderia ser devastado no próximo futuro.

Se podemos ter o luxo de desculpar os capítulos mais negativos da história dos países, elogiando o progresso obtido ao longo de muitos anos, vemos um mundo que fala pouco hoje em dia contra o ultraje que foi a escravatura, perpetrado por um clique de estados ocidentais, vemos o horror do colonialismo e imperialismo que devastou o planeta, perpetrado outra vez pelos mesmos poderes ocidentais e vemos casos de racismo, crimes contra a humanidade e crimes de guerra praticados amiúde pelos mesmos estados ocidentais – que por sua vez gostam de lançar pedras contra o telhado de Stalin.

Diria que, se reconhecermos que a história de todos os países tem páginas mais agradáveis de ler e outras menos gostosas, o que aconteceu na Rússia de Stalin teve lugar como parte do processo de desenvolvimento daquela sociedade naquela altura, tal como aconteceram outros eventos semelhantes em outros países em tempos diferentes.

A média, de igual modo, faz parte da sociedade em que é inserida e por isso é natural que tenha de agir conforme as limitações que lhe são impostas.

No entanto gostaria de encerrar dizendo com toda a sinceridade que acho que a pedra de uma vida humana é uma tragédia, seja quem for, onde for, quando for ou como for.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru Director e Chefe de Redacção Versão portuguesa

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