Ser ou não criada a Federação Ucraniana?

Por outro lado, o país está dividido em duas zonas geográficas com identidade histórico-cultural diferente. Pela composição étnica, a Ucrânia Oriental pouco se distingue das regiões russas vizinhas. A parte ocidental, a região de Galitchi, fez parte da Polónia, do Império Austríaco, da Austro-Hungria, tendo passado a pertencer à URSS só em 1939. Na Crimeia, existem as comunidades russa, ucraniana e tártara, sendo o russo um único idioma falado e dominado por todos os habitantes. Tudo isso cria condições para o surgimento de "ânimos federativos", estimulados pelas autoridades ucranianas.

Este ano, na Crimeia e em outras regiões ucranianas mudaram os governos regionais . O novo primeiro-ministro da Crimeia e o líder do Partido Republicano "Sobor", Anatoli Matvienko, é considerado como um político próximo da chefe do governo ucraniano, Yulia Timochenko. Nascido noutro local, ele é um defensor da língua e cultura russas. Mais do que isso, prometeu que, a partir do próximo ano lectivo, nas escolas ucranianas será iniciado o ensino do russo. Entretanto, após a posse de Matvienko em Maio passado, o serviço de imprensa do governo regional da Crimeia deixou de divulgar informações em russo. A língua ucraniana passou a substituir o russo no site oficial desta região autónoma.

Esta "inovação" foi muito mal acolhida pela comunidade russa. É verdade que, conforme a Constituição, o ucraniano possui estatuto de língua oficial, tendo sido ignoradas todas as propostas de atribuir ao russo um estatuto idêntico. Ao mesmo tempo, a Crimeia é uma república autónoma, onde a par da Constituição ucraniana vigora ainda a legislação local. Assim, a Constituição regional, no artigo 10.º, prevê "a utilização da língua russa em todas as esferas da vida social".

Mas, para além de critérios formais, esta novidade foi acolhida com irritação pela comunidade russa, tendo sido encarada também como uma tentativa de "ucranizar" a península, o que poderá vir a afectar todas as esferas da vida dos habitantes locais. Existe ainda um "efeito de desilusão", já que Viktor Yuschenko afiançava, durante a campanha eleitoral, "proteger as minorias étnicas nos locais onde existem as maiores comunidades". Uma das promessas foi "obrigar os funcionários públicos a exprimirem-se na língua faladas pelos habitantes locais". No ano passado, este projecto foi apresentado como alternativa ao estatuto oficial da língua russa, apoiado então pelo candidato à presidência, Viktor Yanukovitch. Mas acontece que a teoria não corresponde à prática.

Na Ucrânia, a população russófona (que, de facto é russa) encontra-se agora numa situação difícil. Tendo votado por Yanukovitch, que perdeu as presidenciais, eles receiam um cenário de "ucranização forçada", o que pressupõe o estrangulamento do direito de utilizar a língua russa (habitualmente utilizada no período soviético e nos anos da independência), na vida social, na educação e nos contactos com os organismos públicos e municipais.

Pelos vistos, os novos dirigentes ucranianos estarão mais interessados na "consolidação do eleitorado" que votou, na terceira ronda, por Viktor Yuschenko. No seu entender, dessa maneira será possível ainda obter a maioria de lugares no Parlamento sem atrair para tal os eleitores de expressão russa. Se acrescentarmos a isto as acções "indelicadas" de alguns altos responsáveis nas regiões, os "adeptos de federalismo" poderão vir a obter mais votos nas próximas parlamentares. Entre as forças "pró-federalistas" destacam-se o Partido das Regiões, dirigido por Yanukovitch, (o qual ainda não cicatrizou as feridas após a derrota nas presidenciais apesar de tentar fazê-lo mediante um acordo de cooperação com o partido russo "Rússia Unida"), bem como as forças políticas radicais que se opuseram à "revolução laranja".

Aleksei Makarkin vice-director-geral do Centro de Tecnologias Políticas - RIA "Novosti"

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