Rússia - União Europeia: a crise útil

Para o adiamento da cimeira União Europeia - Rússia, que deveria decorrer em Haia a 11 de Novembro, foi encontrada uma justificação: os europeus não conseguiram aprovar definitivamente até esta data a nova Comissão Europeia. Contudo, mesmo se a nomeação dos comissários europeus tivesse decorrido a tempo, o encontro russo-europeu seria à mesma adiado.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, reconheceu que alguns documentos que estavam a ser preparados para a cimeira em Haia não estão prontos para assinatura. Isso aconteceu pela primeira vez nos 10 anos da parceria russo-europeia. Embora Moscovo tivesse declarado, através do seu representante diplomático, Vladimir Tchijov, que a Rússia e a União Europeia não têm divergências de princípio sobre o conteúdo da parceria estratégica, discordando apenas em pormenores, mas estes últimos, ao que tudo indica, são de tal importância que por sua causa o desenvolvimento da cooperação russo-europeia pode abrandar substancialmente.

Os problemas existentes entre a Rússia e a UE são bem conhecidos. São as regras do trânsito para a região de Kaliningrado e o avanço em direcção ao regime de vistos simplificado que foi declarado, mas ainda está longe da realização. Há dias, a Rússia estendeu aos dez novos membros da UE as regras comerciais do Acordo russo-europeu de Parceria e Cooperação - provavelmente, agora as nossas relações terão um problema a menos. Contudo, a Rússia continua a estar preocupada com os direitos dos "não-cidadãos" de expressão russa nos países do Báltico que, a seu ver, há quase 15 anos não correspondem às normas europeias e, simplesmente, às normas civilizadas. Os europeus, por seu lado, dirigindo-se à Rússia, poucas vezes podem conter as perguntas atónitas ligadas à companhia petrolífera YUKOS, que inesperadamente ficou fora da lei, e à Chechénia.

É precisamente a Chechénia que se torna um dos principais obstáculos na via de desenvolvimento do diálogo russo-europeu. Na cimeira em Haia, a parte europeia tenciona focar o problema da Chechénia, ligando-o aos documentos sobre a formação de um espaço comum de segurança. Tal atitude é inaceitável para a Rússia. Se para a Europa o principal na Chechénia são os direitos humanos, para a Rússia é a luta contra o terrorismo e será difícil encontrar um meio-termo entre estas posições.

Nos anos anteriores, em relação à Chechénia, as partes conseguiam encontrar formulas evasivas mutuamente aceitáveis. Não será possível, porém, seguir esta via, porque, em primeiro lugar, a Rússia e a União Europeia mudaram bastante nos últimos tempos. A Europa dos 25 é muito diferente da Europa dos 15: concentrando-se na integração interna, ela atribui uma atenção muito maior do que antes aos valores europeus tradicionais, tornando-se por isso um parceiro mais exigente na política externa. Por outro lado, ela passou a integrar os novos membros da Europa Central e Oriental, cuja posição em relação à Rússia é diferente do que a de Berlim e Paris.

A Rússia também se tornou diferente, sobretudo depois de dar-se conta, após a tragédia em Beslan, de que a sua luta contra o terrorismo internacional levará dezenas de anos e exigirá uma enorme mobilização de recursos internos. A Rússia, tal como a União Europeia, está concentrada agora nos seus problemas internos e disposta também a defender os seus valores.

Tal significa que as declarações políticas gerais que marcaram com abundância os dez anos de parceria russo-europeia já não têm o mesmo valor. Chega a altura de actos concretos, esclarecimento de pormenores outrora insignificantes e solução dos problemas acumulados desde há muito. A Chechénia é apenas o cume do iceberg, porque só um espaço económico de facto "comum" irá revelar dezenas e centenas de perguntas às quais será difícil responder imediatamente tanto para a Rússia, como a União Europeia.

Gueorgui Kissilev observador político RIA "Novosti"

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