Repercutindo a mídia: Os eternos roupões de algodão egípcio

Não que eu tenha alguma esperança, como jornalista racional, de que o PT volte às origens e comece a denunciar novamente os efeitos do monopólio da Rede Globo no Brasil. Mas quando o PT resolve legitimar como seu novo intelectual Ali Kamel, um dos executivos mais caros da Globo, você percebe que algo maior se perdeu.

No dia 8 de fevereiro de 2005, o jornal O GLOBO publicou artigo de Kamel que aborda o "fenômeno do classismo", que ele define como "preconceito contra os pobres", algo "não menos odioso que o racismo". Mesmo aceitando a tese ridícula de que classismo se restringe a isso, Kamel é um dos chefões da organização mais "classista" que existe nesse país - no sentido dado pelo autor - mas que, dois anos depois da chegada de Lula ao poder, recebe em dinheiro (e bem) "dessa gente".

Ao defender até os "roupões de algodão egípcio" que a presidência adquiriu, Kamel produz a seguinte pérola: "Igualmente injusta é a crítica quanto aos roupões de algodão egípcio e a aquisição de novas ambulâncias. O tipo de roupão não é definido pessoalmente por Lula, mas por quem cuida disso na Presidência. Os roupões devem servir ao presidente e aos seus convidados, muitos deles chefes de Estado e de governo. Trata-se de um padrão, adotado pelo Palácio muito antes de Lula chegar lá".

Então, eis o argumento: não foi ele quem definiu isso. Esse é o padrão. Adquirir "roupões de algodão egípcio" para "servir ao presidente e aos seus convidados" é algo que deve continuar a acontecer, porque sempre foi assim (desde que a primeira pessoa teve a idéia, evidentemente).

É tão incrivelmente irracional que eu fiquei sem palavras. Deu branco mesmo, juro. Socorro, deixem-me sair!

Gustavo Barreto 10/2/2005 www.consciencia.net

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