O Natal nasce dentro de nós!

Passava a Semana Santa pelo antigo Caminho do Ouro, chegando até a pequena São Gonçalo do Rio das Pedras, rio por onde escoou o diamante da nossa história. Bem-aventurado, conheceu a casa de Dona Geralda, onde havia um lindo presépio montado em plena Semana Santa.

Espantou-se com o fato pois, pela tradição, os presépios ficam montados até o Dia de Reis - 6 de janeiro - e depois são recolhidos. Mas, como tudo que é diferente encanta, Olavo está encantado até hoje.

Dona Geralda explicava ao Olavo o porquê da exposição temporã do presépio. Com simplicidade crística contava que estava atendendo ao pedido de uma freira que passara por ali antes, e maravilhada com o presépio da casa de Dona Geralda, pediu a ela que o mantivesse exposto até julho, pois ela iria trazer seus sobrinhos de São Paulo para conhecer aquela maravilha guardada pelas serras de Minas.

O presépio começou a ser montado por Dona Geralda no cantinho do quarto dela. Como ficou muito bonito, ela foi recebendo outros agrados para o Menino Jesus e ali colocando as oferendas. Um, trazia um ovo de inhambu, outro, uma barba-de-pau, uma raiz em forma de cruz e ali ela foi intuitivamente ornamentado, construindo uma beleza de presépio. Com o passar do tempo, o presépio foi crescendo e tomou a metade do quarto dela. Olavo, vendo aquilo, comentou:

- Dona Geralda, se neste ano o presépio ocupou a metade do quarto da Senhora, ano que vem ele vai ocupar o quarto inteiro!...

Ela respondeu:

- É meu filho, ano que vem vou ter que sair do meu quarto!

Depois de um silêncio reverencial, Olavo Romano volta à Dona Geralda:

- Dona Geralda, o que que a Senhora pensa em colocar mais aqui no presépio no ano que vem?

- Ah, tem umas luzinhas que piscam, eu queria colocar umas aqui no teto!

- Então a Senhora pensa em colocar umas luzinhas aqui em cima como estrelas e fazer um céu?!

Dona Geralda se espantou, e com um semblante materno virou-se e falou:

- Céu!? Quê que é isso meu filho, Deus me livre, céu aqui, só o firmamento...

O presépio de Dona Geralda foi construído e movido pelo mesmo espírito que São Francisco de Assis criara no século XIII, o primeiro presépio: reverenciar e adorar a vinda do Menino Jesus. Dona Geralda doou sua casa e seu quarto para construção de um presépio, para algo maior e, como os Três Reis Magos, muitos vieram trazer suas oferendas ao Jesus Cristinho.

Ganhou coisas simples de uma gente simples, fez uma linda obra, que encanta e toca os corações daqueles que ainda acreditam nas coisas deste mundo. É um resgate à tradição, no princípio ordenador da vinda de Cristo, uma lição de amor. Está lá, no interior de Minas, mas universal, iluminado. Tudo que está nele foi doado de coração. É um centro armazenador da devoção humana.

O Natal dos presépios é um Natal que remonta um cenário cristão, de doação, fé e reverência. Contrário ao Natal do Papai Noel. O Papai Noel é uma personagem criada pela Coca-Cola em 1931, por isso traz suas cores encarnadas, o vermelho e o branco. É um agente descristianizador patrocinado em todo mundo para apagar a verdadeira imagem do aniversariante, o Menino Jesus. Jesus veio ao mundo como o Filho do Pai, em forma de criança. O Papai Noel diz ser o papai de todas as crianças. Meu Deus, onde esta figura foi colocada.

Sua barriga, sugere a gula; o saco cheio, a esnobação; e a sua risada, ironiza aqueles que não podem ser seus escolhidos. É uma fraude ao verdadeiro espírito natalino. Cristo nasceu enquanto seus pais viajavam em lombo de mula, mesmo assim, entrou na casa de todos. Papai Noel viaja em um lindo trenó puxado por renas e visita a casa de poucos.

Falar que Papai Noel é uma alusão a São Nicolau é uma heresia. São Nicolau era um santo homem, nasceu em 270 e morreu em 342, aos 71 anos. “Fez o bem, sem olhar a quem”, fundou orfanato, saciou a fome dos pobres, protegeu marinheiros, ladrões e mendigos. Viveu sobre a égide da caridade. Foi perseguido e preso pelos Romanos. Por seu amor ao seu semelhante, tornou-se Santo.

Papai Noel foi criado e financiado por uma empresa multinacional, vive no pólo norte, distante de todas as crianças do mundo e no Natal sai presenteando àqueles que podem comprar sua visita. Não tem pai, mãe, filhos ou amigos. Não posso acreditar nele! É, no máximo, uma paródia de muito mau gosto do nosso santo protetor.

Enquanto escrevo este artigo, acredito que o presépio de Dona Geralda tenha recebido uma nova oferta. Talvez, um anjinho de barro, uma pedrinha reluzente, ou quem sabe até, um Menino Jesus de madeira. Como estou cá, distante dele, deposito nele este texto, esta oferenda ao Menino Jesus, ao Jesus Cristinho - tão lindo, tão menino e tão amado... Que Deus abençoe Dona Geralda, Olavo Romano e todo aquele que vive o Natal dentro e fora, o Natal do criador, do nascimento à manjedoura, o Natal natalino, sem outras palavras: Com a Graça de Deus!!!

Petrônio Souza Gonçalves escritor e jornalista e-mail [email protected]

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