O terrorismo (?) no Iraque

Bandidos ou heróis? Os líderes da coligação EUA/Reino Unido escolheram a palavra “terrorista” para rotular os cidadãos do Iraque que resistem a ocupação por tropas estrangeiras, enquanto as mesmas fontes dos media nos seus países referem aos chechenos como “libertadores” ou “rebeldes”.

Chamar a resistência iraquiano “terroristas” é chamar a Resistência Francesa contra os fascistas durante a Segunda Guerra Mundial “terroristas”, fazendo de De Gaulle uma espécie de Bin Laden gálico.

Rumsfeld, Bush e Straw empregaram esta palavra sistematicamente para descrever as acções perpetrados por cidadãos iraquianos que não gostam de ter um exército de ocupação no seu solo, especialmente aqueles que enfiam as armas nas caras de rapazes de seis anos e berram: “Levantem os braços AGORA, filhos da p***!”

Rotular as forças de ocupação como “exército de liberação” não faz mais do quer repetir os rótulos empregues por todos aqueles que tentaram justificar a violência por quaisquer razões noutros teatros de guerra.

Muitos desses exércitos atravessaram a linha e se tornaram nos exércitos nacionais dos seus países, e desde então as referências a terrorismo deixam de existir e as forças armadas oficiais são reconhecidas, em tempo, pela comunidade internacional.

MPLA, o Movimento Popular pela Libertação de Angola e FRELIMO, a Frente de Liberação de Moçambique, são bons exemplos. Tendo travado uma longa batalha contra os portugueses durante mais do que uma década, constituíram as forças armadas dos seus países recentemente independentes e continuaram a luta contra os movimentos rebeldes que não ganharam a batalha pelo poder, nomeadamente UNITA e RENAMO agora, por sua vez, integrados nas forças armadas nacionais da Angola e Moçambique, respectivamente.

A escolha da expressão “terrorista” ou “movimento de libertação” é uma tentativa de justificar ou não a legitimidade dum acto, reflectindo a realidade num determinado momento na história.

Sob a lei internacional, não é justificado inventar mentiras para servir como pretexto para lançar uma campanha selvática e bárbara contra uma nação soberana, nem se justifica o assassínio de milhares de civis. Por definição, o assassínio em massa perpetrado pelas forças armadas norte-americanas e britânicas no Iraque não é classificado como “terrorismo” mas “danos colaterais”. A diferença é que nos dois casos, civis inocentes perdem as suas posses, pernas, parentes ou vidas.

Porquê é que não é “terrorismo” invadir uma nação num acto ilegal de guerra, violando a lei internacional, chacinando milhares de pessoas inocentes, ferindo outros milhares? A definição do termo “terrorismo” é “acção violenta para conseguir fins políticos ou para forçar um governo a agir”.

Seja qual for o caso, o termo não é empregue para descrever tais acções de violência perpetradas por uma força militar com cadeia de comando, que representa um estado e que tem regras de contacto em batalha. Seguindo esse preceito, MPLA, FRELIMO e os rebeldes de Laurent Kabila no Zaire/RDC eram tão legítimas como as FARC, a diferença sendo que os primeiros ganharam as suas guerras.

Por isso não é o estado da força mas sim o contexto histórico que define qual o rótulo a colocar; contudo, os resultados práticos da violência, quer que sejam perpetrados num acto de terrorismo ou de guerra, são iguais.

Por essa razão, é inútil discutir onde traçar a linha entre os terroristas e os libertadores, visto que a vítima é a vida humana em ambos os casos. Qual é a diferença entre um cidadão americano assassinado por um fanático islâmico que pilota um avião civil e um cidadão iraquiano assassinado por um piloto americano pilotando um avião militar?

Porque um usa uniforme e o outro não? Ou porque um grita “’Way ya go!” e o outro “Allahu Akhbar!”?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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