A DECADÊNCIA DOS EUA

Os Estados Unidos têm uma história bastante contraditória. Embora amante da liberdade para si mesmo, desde pouco depois de sua independência nunca pareceu errado a esse povo tirar a liberdade de outros: em 1848, menos de 75 anos depois de sua independência, tomaram o Novo México, a Califórnia e o Texas do México, privando esse país recém independente de quase metade de seu território; em 1898, entraram em guerra contra a Espanha para tomar as colônias dessa antiga potência então decadente, e conquistaram assim Porto Rico, Ilhas Guam e Filipinas; em 1901, colonizaram Cuba, transformando-a em seu "protetorado"; em 1903, tomaram o controle do Canal do Panamá, e o mantiveram até a década de 1990; depois da Segunda Guerra Mundial, semearam dezenas de ditaduras sanguinárias por todo o mundo, na América Latina, Ásia e África, com o pretexto de conter a ameaça comunista; e usando um argumento bastante semelhante, mas dessa vez o da ameaça terrorista, George W. Bush invade dois países em um intervalo de apenas 2 anos.

Tudo isso já basta para iniciar a decadência dos Estados Unidos como principal superpotência, líder do mundo livre: por ser tão arrogante, belicista e unilateral, é cada vez menor o número de países que se podem chamar de aliados de Washington. A tendência é a de que grandes blocos econômicos políticos e militares, como a União Européia e uma possível aliança estratégica entre China, Rússia e Índia, desbanquem a supremacia norte-americana.

Porém, a decadência dos Estados Unidos parece agora estar entrando em uma nova fase: manipulados pelo medo constante de novos ataques terroristas (estratégia usada com maestria pelo presidente Bush e seus alertas de ataque), os cidadãos desse país estão cada vez menos dispostos a defender sua liberdade, e aceitam abrir mão dela em nome da "segurança". A perda de liberdade do povo estadunidense começou já com a maneira pela qual Bush chegou à presidência: teve 500.000 votos a menos que seu adversário democrata, mas ganhou graças ao voto do colégio eleitoral, principalmente na Flórida, curral eleitoral de seu irmão Jeff Bush. É algo permitido pelas leis eleitorais dos EUA, mas sem dúvida é uma manobra condenável; e o mais curioso é que aconteceu nos Estados Unidos da América, tido como pátria da liberdade, o país mais democrático do mundo. E há muitos nos EUA que criticam a Rússia por ser um país não democrático: a prisão do magnata petrolífero Mikhail Khordokovski foi considerada como um sinal de que a Rússia é um país de prisões arbitrárias e que reprime a livre iniciativa, e não um Estado que pune um empresário sonegador de impostos e praticante de falcatruas.

Porém, embora ainda tenha um longo caminho para a consolidação definitiva de sua democracia, pelo menos as eleições russas têm sido honestas e sem manipulações, e não há nenhum tipo de censura ou violação aos direitos fundamentais de seus cidadãos.

Depois de 11 de setembro de 2001, a situação nos EUA recrudesceu ainda mais, graças ao medo de novos atentados. A liberdade de expressão e de opinião, o direito à privacidade, e até as garantias contra arbitrariedades do Estado ou da polícia, já estão seriamente ameaçados. O Congresso norte-americano aprovou uma lei que permite às agências de inteligência vigiar os correios eletrônicos da internet e as comunicações por celular.

Também é possível efetuar prisões sem acusação formal ou mandato judicial, e manter uma pessoa presa e incomunicável quase que pelo período que se deseje, a partir de suspeitas muito vagas de envolvimento com atividades terroristas. A mídia se auto-censura, não transmitindo imagens de soldados estadunidenses mortos ou feridos no Iraque e no Afeganistão; não passando informações sobre os massacres, as humilhações e as arbitrariedades impostas pelas tropas de ocupação às populações iraquianas e afegãs; e agora até as cerimônias de entrega do Oscar e do Grammy não serão transmitidas ao vivo, mas com um atraso de 5 minutos, para que se possa cortar qualquer crítica inconveniente ao governo (como a do documentarista Michael Moore, cujo filme "Bowling for Columbine" contém uma ácida e lúcida crítica ao comportamento violento dos EUA, e que fez um discurso contrário à política de Bush na premiação do Oscar no ano passado).

Houve um tempo em que a mídia teve um forte papel no movimento anti-guerra nos EUA: basta ver o conflito do Vietnã, onde os jornalistas mostravam o horror da guerra, as mortes de soldados norte-americanos e os massacres que estes perpetravam contra a população civil.

As coisas são muito diversas agora, 3 décadas depois: a mídia cerra fileiras em torno da política imperialista e guerreira de Bush, faz tudo para apoiá-lo, transmite suas mentiras como se fossem verdades inegáveis, e tacha os países contrários à guerra de covardes e amigos de ditadores. Não há um único grande órgão de imprensa dos EUA que tenha tido uma postura minimamente crítica em relação à guerra, nenhum que se tenha dado conta de que não havia nenhuma prova concreta da existência de armas de destruição em massa no Iraque, e que Saddam Hussein nunca teve relações com a Al Qaeda. E nenhum tem criticado o fato, agora inegável, de que Bush mentiu descaradamente acerca de tais armas, e que elas foram apenas um pretexto para uma guerra imperial.

Aparentemente, a tendência dos Estados Unidos é tornar-se cada vez mais um estado policial. Embora haja pessoas sensatas naquele país, que conhecem a ameaça que Bush representa à liberdade e à paz mundial, ainda não sabemos quão numerosas ou influentes essas pessoas são. As eleições presidencias deste ano serão decisivas: se Bush ganhá-las (e ele tem ótimas chances), terá mais quatro anos para alimentar o medo em seu país, e daí tirar justificativas para mais guerras, mais censura e mais repressão às liberdades e garantias democráticas. Carlo MOIANA Pravda.RU MG Brasil

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