Os olhos abertos da Justiça

Causaram comoção e revolta mundo afora a divulgação de fotos de soldados iraquianos sendo torturados e molestados por soldados americanos. Todos os Direitos Humanos e honrarias militares foram jogados no lixo da prisão de Abu Ghraib, no Iraque, enquanto fotos eram tiradas da soldado norte-americana Lynndie England, valendo-se do domínio do vencedor sobre o vencido.

Agora vem a condenação por parte da justiça americana e a condenada tem, como num jogo tramado, o tempo mínimo de pena reduzido, abrandado, passando por cima do mínimo que já era estipulado na Lei americana. Tudo isso por que Lynndie England assumiu sozinha a culpa pelos atos praticados.

O que vemos é que estas fotos foram feitas nos corredores da prisão, sem nenhuma preocupação de censura ou reprimenda por parte dos seus superiores. Pelo tom de felicidade registrado nas feições da soldado, podemos dizer que havia um ambiente de diversão, de felicidade compartilhada durante a prática daqueles atos de barbárie institucionalizada, comungada. É fácil deduzir que aquelas práticas foram, em algum momento, rotineiras no interior da prisão, pois, por parte dos prisioneiros iraquianos retratados, não percebemos um sinal de luta ou protesto, apenas prostração, resignação, uma rendição moral e física, bem ao modo dos que são torturados.

É claro, óbvio, que todo este jogo visa não proteger a destemida soldado, mas àqueles superiores que aceitaram a degradação moral e física dos que estavam sob sua guarda, desrespeitando todas as premissas que rodeiam e norteiam o mundo militar e sua conduta.

A culpa assumida por Lynndie England é a liberdade dos seus superiores, a manutenção do stablishment, daqueles que articularão e assegurarão as novas investidas militares dos EUA mundo afora, assegurando a vigência do atual status quo.

O que constatamos durante todo este processo é que mais uma vez a tortura de estado, os crimes de guerra, o terrorismo institucionalizado, saem fortalecidos, vitoriosos, pois aquela que os praticou foi condenada.

Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor e-mail: [email protected]

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X