Morte Casual

Os números do Iraque não assustam ninguém. No dia 17 de outubro, na operação militar de Ramadi, os norte-americanos mataram 70 supostos combatentes. Testemunhas confirmam que 39 eram civis, totalmente inocentes, sem qualquer culpa.

Restaram 31 supostos oponentes do senhor Bush, teoricamente um grande defensor da democracia. Trata-se da política de erros e acertos. Para acertar um oponente é necessário exterminar um ou dois inocentes.

Do outro lado, os terroristas explodem pessoas sem mais nem menos. Parece que matar indiscriminadamente é normal.

A diferença está na ocupação ilegal de um povo. Os motivos da intervenção se baseiam em mentiras gritantes. O Iraque não representava nenhum perigo para a estabilidade mundial em função da pretensa produção de armas de destruição em massa.

Fica difícil sustentar a invasão injusta, ilegal, absurda, desumana, cruel, bruta e flagrante. De um lado, a maior potência do mundo, servida por toda tecnologia, recursos e arsenais de destruição em massa. De outro lado, um povo sofrido, sem recursos, capaz de se auto explodir.

A convivência entre humanos precisa ser salvaguardada por padrões mínimos de justiça e respeito.

A política democrática norte-americana faz a imposição. Não admite diálogo, diversidade, diferenças culturais. Utiliza todos os recursos da mídia para justificar sua versão. Cria clichês de rápida assimilação pela opinião pública, transvertendo os fatos.

Boa parte acredita que Bush e Blair lutam contra terroristas sanguinários. Um lado quer ocupar, tomar riquezas, impor culturas. Outro lado quer liberdade, defender tradições, preservar direitos históricos.

Se os terroristas praticassem assaltos, roubos, estupros, tudo para se enriquecerem mais e mais, até que se poderia justificar a política de exterminar inocentes para tentar acertar nos oponentes.

O problema é muito mais grave. Está em jogo o domínio do mundo e o usufruto de suas riquezas. É uma espécie moderna de escravidão.

O jogo permite uns poucos beneficiários. Os perdedores pagam o resto da vida tributos e honras aos vitoriosos.

As mortes dos inocentes se repetem diariamente. Como os abusos nas prisões. As corrupções brancas. As violabilidades dos direitos básicos.

No palco da tragicomédia das nações unidas os homens brincam de poder. Há muito tempo perderam a sensibilidade. No fundo não se importam com ninguém. Pensam exclusivamente em benesses próprias.

Se o terremoto mata 50, 60, 80 mil, se o furacão acaba com a vida de 3, 4, 5 mil, se a ocupação do Iraque extermina 30, 40, 50 inocentes por dia, tudo continua normal.

Está instituída a morte casual.

Orquiza, José Roberto escritor [email protected]

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