A COLIGAÇÃO DOS CAUTELOSOS

As conversações do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, em Er Riad (capital de Arábia Saudita) provam pelo menos uma coisa: os EUA gostariam de ter no Iraque o número máximo possível de soldados dos países muçulmanos, mas estes países ao que parece permanecem por enquanto mergulhados em reflexões. A questão-chave é como entrar no jogo: juntamente com a América ou em vez da América.

Em termos gerais, é claro que na órbita da política iraquiana surgiram muitos novos participantes, os quais tinham preferido manter-se afastados quando no Iraque dominava o agrupamento americano-inglês, "ornamentado" por contingentes militares simbólicos de outros países. Neste contexto, os novos jogadores ainda não sabem como entrar no jogo, enquanto os velhos já sabem que o seu jogo está a terminar, mas não sabem como sair dele. De que países se trata concretamente? Antes de tudo da Índia, Egipto, Paquistão, Irão, Malásia, Rússia e outros, incluindo os vizinhos do Iraque. Por exemplo, a Malásia, co-presidente da Conferência da Organização Islâmica, está pronta a enviar para o Iraque uma equipa de médicos bastante numerosa. O Irão pretende organizar no seu território um encontro dos países vizinhos do Iraque a nível de ministros do Interior para debater o contributo destes países para a formação do exército e polícia iraquiana. A Rússia por seu lado promete, após a recente visita a Moscovo do ministro dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, Hoshiar Zibari, apoiar o Iraque na formação de quadros, incluindo militares, na reestruturação da dívida externa, pretendendo no futuro reiniciar a cooperação no âmbito de projectos energéticos. A Índia, que tem mais de 1 milhão de cidadãos seus a trabalhar na zona do Golfo Pérsico, limita-se por enquanto à concessão de ajuda humanitária a Bagdad, mas analisa também a sua eventual participação em projectos económicos e de ensino. Há uma série de outros países que têm reais interesses económicos no Iraque e na região em geral. Trata-se claro dos países que não participaram na coligação americano-inglesa, que dizer, que não enviaram os seus soldados para o Iraque.

No entanto cria-se a impressão de que a maioria destes países preferem não anunciar determinadas coisas. O que não se pode dizer de Kamal Harrazi, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, pouco amigável tanto em relação aos EUA como em relação ao ex-adversário militar, o Iraque, quem é muito claro nas suas declarações. Ao fazer uma visita aos seus amigos e parceiros de longa data na Índia, Harrazi disse há dias que a tranquilidade irá voltar ao Iraque só depois da retirada das forças da coligação sob a égide dos EUA, e a formação no país do Exército Nacional e da polícia. É absolutamente claro que sem o estabelecimento da paz no Iraque é escusado falar de ajuda económica.

No que se refere à Rússia, esta possui uma experiência muito rica de recuperação de estruturas de fornecimento de energia eléctrica no seu país e poderá fazer o mesmo no Iraque, aplicando-se para o efeito métodos melhores e mais baratos. Mas quando se assiste a uma expulsão sistemática e planificada de especialistas praticamente não se pode fazer nada. Note-se, porém, que não são muitos os países como a Índia e a Rússia que não pretendem enviar os seus contingentes militares para o Iraque num futuro próximo sejam quais forem as condições, declarando-se apenas interessados em projectos económicos. Todos os outros países entendem que a presença de militares no Iraque é indispensável, o problema é com quem e a quem se subordinar. Por exemplo o Egipto ainda há pouco pretendia enviar os seus militares para o Iraque, mas exclusivamente para a defesa da missão da ONU. (As Nações Unidas decidiram reiniciar a sua actividade no país sob a direcção do paquistanês Asharf Qazi, outrora embaixador em Washington, Moscovo, Deli, eleito entre as candidaturas avançadas pela Tailândia, Índia e Paquistão. Qazi trabalhou ainda no Egipto e na Síria e domina o árabe).

Há alguns dias os terroristas iraquianos executaram dois reféns paquistaneses que trabalhavam no Iraque na secção kuwaitiana de uma empresa saudita, que efectuava uma empreitada para os americanos.

Na sua intervenção por ocasião da nomeação do representante do Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan assinalou que o Presidente do Paquistão, Pervez Musharaff, disse-lhe que está pronto a enviar soldados para o Iraque para protecção dos seus cidadãos e de toda a missão da ONU caso haja o respectivo pedido por parte do governo iraquiano e de outros países muçulmanos. (No total Kofi Annan pretende reunir no Iraque sob o comando da ONU cerca de 5 mil militares).

Ao que parece assiste-se à formação de uma coligação de países voluntários, mas muito cautelosos. Esta cautela é fácil de compreender porque os cidadãos de alguns dos países acima mencionados (Egipto, Paquistão, Índia e outros) começaram nos últimos tempos a ser feitos reféns no Iraque. Até se pode dizer que os terroristas espreitam precisamente os cidadãos dos países muçulmanos que procuram encontrar o seu papel no novo Iraque. Como que dão um sinal a estes países de que ninguém será autorizado ajudar mesmo em termos económicos aos ocupantes e suas marionetas. Em resultado, muitos países, incluindo o Egipto, deixaram de falar no envio de militares para Bagdad.

Por outras palavras, os terroristas na prática vêm conservando uma situação bastante vaga no Iraque, quando é óbvia a inutilidade dos esforços militares da velha coligação, mas ao mesmo tempo ainda não se sabe o que fazer e qual será a nova coligação.

Dmitri Kossyrev observador político RIA "Novosti"

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