A VITÓRIA DO MEDO

George W. Bush venceu as eleições, e permanecerá mais quatro anos na Casa Branca, mais quatro anos governando o país mais poderoso do mundo.

Para os cidadãos de quase todos os países do mundo, é algo surpreendente: como as pessoas desse país puderam reeleger um presidente que mente descaradamente, provocou uma guerra absurda, ameaça usar armas nucleares (sim, a nova doutrina para o uso deste tipo de armamento, criada por Bush, garante aos EUA o uso de armas nucleares num primeiro ataque, enquanto todas as outras potências atômicas só as usam em retaliação a um ataque prévio), desrespeita flagrantemente a comunidade internacional, tortura e mata civis arbitrariamente, recusa-se a assinar o protocolo de Kyoto para redução de gases do efeito estufa (sendo os EUA os maiores emissores). A lista dos justos motivos que fazem com que Bush seja odiado pela população mundial é imensa.

Mas o fato é que ele ganhou. Provavelmente, o que influenciou alguns dos indecisos que de último momento se decidiram foi a inesperada aparição de seu arquiinimigo, Osama bin Laden, em um vídeo. O incrível, porém, é que estes indecisos votaram em Bush. O que se esperaria de pessoas racionais seria: "Bush disse que faria guerra sem trégua ao terrorismo, que caçaria bin Laden e outros líderes da Al Qaeda e os levaria a juízo. Mas não pegou nenhum deles, e agora Osama volta a aparecer e a ameaçar nosso país.

Portanto, Bush é um incompetente e não deve continuar em seu cargo." O que provavelmente os eleitores de Bush de última hora pensaram foi: "Osama voltou a aparecer e a ameaçar-nos. Precisamos de Bush, que é um presidente durão e combate o terrorismo!" Um exemplo perfeito de irracionalidade motivada pelo medo, habilmente manipulado por Bush desde 11 de setembro de 2001.

No mundo inteiro, muitos estão apreensivos, e se perguntam que país poderá ser o próximo alvo de uma invasão do belicoso "presidente da guerra" (que se acovardou quando era sua vez de ir para o Vietnã, e pediu para seus amigos influentes deixarem-no seguro na Guarda Nacional, onde tinha que servir apenas um fim de semana por mês).

Este temor faz sentido, considerando as ações do primeiro mandato de Bush, principalmente no Iraque: basta inventar acusações, por mais infundadas que sejam, e mandar bala. Mas parece improvável que os EUA se envolvam em uma nova ação militar, pelo menos uma de grande escala como a do Iraque e a do Afeganistão. Ambos os países ainda estão instáveis, os EUA precisam manter grandes quantidades de soldados para tentar estabelecer um pouco de ordem, mas ainda assim não controlam vastos territórios dos dois países, e sofrem constantemente ataques por parte de guerrilheiros e terroristas (no Iraque, quase diariamente). O tesouro norte-americano gastou centenas de bilhões de dólares, o déficit orçamentário bate recordes constantes, e há cada vez menos gente querendo se alistar nas forças armadas.

Para reforçar a situação no Iraque, Bush é forçado a fechar bases militares dos EUA em vários países, e pedir à Grã-Bretanha, seu aliado mais fiel, que envie mais tropas para ajudá-los. A situação está bastante difícil para as forças da "única superpotência do globo". Se quiser invadir e ocupar mais um país, Bush teria que reinstituir o serviço militar obrigatório: e aí haveriam protestos em larga escala por todo o país, como durante a guerra do Vietnã.

Quem mais sai perdendo com a reeleição de Bush são os responsáveis por ela: os cidadãos dos Estados Unidos. Seu país continuará sendo objeto de repulsa e ódio internacionais; os terroristas estarão cada vez mais motivados a atacar novamente; possivelmente haverá novas restrições aos direitos civis, como a "Lei Patriota"; a economia sofrerá com o déficit crescente (que a largo prazo pode afundar o colosso norte-americano); o desemprego seguirá aumentando, enquanto os executivos de grandes corporações comemorarão lucros recordes; e suas tropas continuarão sendo humilhadas por guerrilheiros mal armados e sem nenhum apoio internacional, no Afeganistão e principalmente no Iraque.

Outros quatro anos de George W. Bush no governo dos EUA ajudarão a afundar ainda mais a superpotência que já se encontra decadente. Carlo MOIANA Pravda.ru Brasil

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