Aperto de mãos de Yuschenko e Yanukovitch: quem ganha e quem perde com o compromisso?

A assinatura do documento conjunto foi confirmada (para os repórteres de TV) com um aperto de mãos e sorrisos recíprocos dos dois inimigos ainda ontem mortais - dois semipresidentes - Viktor Yuschenko e Viktor Yanukovitch. Imediatamente surgiu a pergunta: quem ganhou e quem perdeu de facto em resultado do compromisso?

Deixando de lado as banalidades de que, geralmente, em resultado do compromisso cedem as duas partes e as afirmações diplomáticas protocolares de que o passo no sentido da paz corresponde aos interesses de toda a humanidade progressista, o que resta? Resta uma troca: Yuschenko afasta a sua guarda dos edifícios governamentais, ou seja deixa provisoriamente entrar os funcionários do Estado nos seus locais de trabalho, enquanto Yanukovitch e Kutchma reconhecem em contrapartida que fizeram fracassar as eleições por eles organizadas. Se houve de facto ou não fraudes e, se houve, em que medida - tal deve ser decidido agora pelo Supremo Tribunal.

Em qualquer caso é evidente que Yanukovitch já não será presidente. Se for repetida apenas a segunda volta, ele irá perder e se forem organizadas novas eleições, ele, provavelmente, não apresentará a sua candidatura. Não é sem razão que a multidão dos partidários de Yuschenko reagiu a este compromisso com gritos vitoriosos: eles ganharam neste compromisso.

É muito mais complexa a pergunta se, em resultado, na Ucrânia ganhou a democracia e o próprio povo ucraniano, todo o povo, inclusive os partidários de Yuschenko que se encontram, como é característico dos jovens rebeldes, em estado de euforia na primeira etapa vitoriosa da revolução.

Sem dúvida, a euforia passará com o correr de tempo. De facto, os mediadores estrangeiros negociaram não com as duas partes da Ucrânia dividida e não com os verdadeiros representantes do leste e oeste do país, mas apenas com os representantes de diversos clãs que na actual etapa histórica não conseguiram repartir pacificamente o território por eles governado. A palavra "povo" utilizada nos comícios e conversações interessava aos negociadores apenas como tradicional fórmula sacramental e nada mais. O senhor Kwasniewski defendia na Ucrânia os interesses polacos e acrescentava o peso da Polónia na União Europeia. O senhor Solana, que formalmente representava a União Europeia, defendia na Ucrânia os interesses do Ocidente, em geral, e da NATO, em particular. O senhor Gryzlov, em representação da Rússia, sem o peso político necessário, era mais observador do que participante das conversações com direito a voto decisivo. Finalmente, o senhor Kutchma, que, nas palavras, vela mais do que qualquer outro pelos interesses da Ucrânia, pensava na realidade no lugar que poderá ocupar na futura situação política na Ucrânia.

O aperto de mão de Yanukovitch, se não for uma farsa, testemunha, pelos vistos, apenas o facto de os dois clãs terem chegado a um acordo.

Os prognósticos para a Ucrânia continuam a ser lamentáveis, qualquer que seja o veredicto do Tribunal Supremo e qualquer que seja a reforma política aprovada pela actual Suprema Rada. Como quer que se realizem as eleições e quem quer que se venha a sentar na cadeira presidencial na Ucrânia, o povo não ganhará nada com isso nos próximos tempos. O leste não se reconciliará ainda durante muito tempo com o oeste. A Ucrânia continuará a manobrar entre Moscovo e as capitais ocidentais. E os políticos multimilionários no poder na Ucrânia continuarão a pensar em primeiro lugar no seu próprio bolso e não nos interesses dos cidadãos.

Piotr Romanov observador político RIA "Novosti"

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