Dia Internacional da Criança

Através do mundo “desenvolvido”, houve eventos ontem a celebrar o Dia Internacional da Criança. Deram-se e receberam-se presentes, organizaram-se viagens escolares a feiras de livros, cinemas e teatros, eventos desportivos e das artes plásticas. Porém, não foi assim em todo o mundo.

Se foi um Dia Internacional da Criança em alguns países, noutros, foi o Dia Internacional da Vergonha da Humanidade. O nome do local de nascimento – um acidente – guardado com ciúmes contra imigrantes por alguns, soletra a diferença entre a celebração dum Dia Internacional ou um encolher de ombros, porque noutro lado do mundo, não quer dizer nada. É apenas mais um dia de sofrimento.

Um olhar a volta do mundo nos diz quanto temos ainda a fazer e mostra claramente que aqueles que pensam que a Humanidade chegou a um nível que se pode denominar de Civilização ou Desenvolvimento, se enganaram rotundamente.

Graves faltas de comida em quase três dúzias de países significam que uma refeição na mesa todos os dias é um sonho para muitos milhões de crianças, não uma certeza. No Sudão ocidental, a tentativa da ONU de alimentar o milhão de pessoas deslocadas sofre dificuldades porque até agora só conseguiu angariar 3 milhões dos 8,8 milhões de dólares necessários. Isso, enquanto George Bush desperdiça duzentos mil milhões de dólares no Iraque. Em guerra. Em actos de chacina. Matando civis, matando crianças.

Na Colômbia, mais que um milhão de crianças com menos que 17 anos de idade trabalham. A exploração sexual das crianças nas terras do Fascista Álvaro Uribe aumenta. No Brasil, 1,1 milhões de crianças (na idade escolar) com menos que 17 anos de idade não conseguem ler nem escrever. Nascer em Angola quer dizer logo a nascença que a esperança de vida é 40 anos. Metade das crianças com idade escolar não estão na escola, 45% das crianças sofrem de desnutrição crónica e um quarto das crianças neste país morrem antes de chegarem ao quinto aniversário.

Em Ruanda, centenas de milhares de crianças sofrem de VIH/SIDA, ou são adversamente afectadas pela guerra e pelo genocídio. No Afeganistão, a mortalidade infantil é 165 por 1,000 nados vivos à nascença e a taxa de mortalidade infantil é 257 por 1.000 para a faixa etária entre 1 e 5 anos. Em Bangladesh, 900 crianças morrem todos os dias (325.000 por ano) de doença, desnutrição e acidentes.

Estas estatísticas não chegam às primeiras páginas dos jornais. Chegam sim as notícias da morte de um americano, ou dois, ou três, mortos no Iraque durante a invasão ou durante a ocupação dum país estrangeiro, onde torturaram, onde deitaram bombas de fragmentação em áreas residenciais. É esse o mundo que criámos, o mundo em que vivemos. Vivemos num mundo dominado por chefes corporativos monetaristas, capitalistas, neo-conservadores, que estão interessados em ficar cada vez mais ricos e poderosos a custo dos que constituem o grupo dos cada vez mais pobres. Mais nada.

Como é que nós podemos chamar-nos Civilizados ou Desenvolvidos quando centenas de milhares de milhões de dólares são gastos numa guerra enquanto noutras paragens as crianças, nossa responsabilidade colectiva e nosso futuro, nem sequer têm acesso a um copo de água em condições de beber?

O Dia Internacional da Criança foi um evento alegre e engraçado para aqueles que tiveram a sorte de nascer em determinado sítio em determinada altura. Vamos no entanto pensar naqueles que não tiveram essa sorte, que nasceram num sítio infernal pelo acidente chamado o local de nascimento e vamos tentar remediar o problema.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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