RÚSSIA COMO FACTOR DAS ELEIÇÕES AMERICANAS

Na quinta-feira passada o Comité Internacional do Congresso dos EUA aprovou sem longos debates uma resolução que pede ao Presidente George Bush para tomar medidas a fim de excluir a Rússia dos "Grupo dos Oito" (G-8) países mais industrializados do mundo.

A acção evoca os tempos da guerra fria. A ideia surgiu no Congresso americano ainda no Inverno passado, logo depois das eleições parlamentares na Rússia, cujos resultados atrapalharam na altura os políticos de orientação neo-conservadora dos EUA. Em resultado das eleições na Rússia, o Kremlin obteve a maioria constitucional, enquanto os partidos liberais perderam os seus lugares na Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo), o que foi interpretado como um retrocesso da democracia russa e o prelúdio de ânimos imperiais agressivos da política externa de Moscovo. Para os congressistas o futuro da Rússia apresentava-se bastante incerto e preocupante.

Os EUA não podem dar-se ao luxo de ficar de mãos cruzadas face a um avanço persistente contra as forças democráticas e os partidários da economia de mercado na Rússia, declaravam os congressistas. No dizer dos mesmos o "novo autoritarismo na Rússia" é um "importante desafio aos interesses americanos na região euroasiática". No Inverno passado este estado de ânimo alterou-se depressa depois de um trabalho de esclarecimento por parte da administração americana. O embaixador dos EUA em Moscovo, Alexander Vershbow, qualificou na altura como inadequada a iniciativa dos congressistas, tendo lembrado que o "Grupo dos Oito" tem sido um mecanismo importante na luta contra o terrorismo internacional, a não-proliferação de armas de extermínio em massa, a SIDA, etc.

Para além disso a própria lógica de desenvolvimento económico da Rússia dita a necessidade da sua presença no G-8. Volvidos apenas três meses, a mesma resolução acaba por ser aprovada em escassos minutos pelo respectivo Comité do Congresso americano, controlado pelo partido governante. Desta feita a resolução foi avançada exclusivamente por republicanos - Tomas Lantos e Christopher Cox. Quanto à Casa Branca, sem o consentimento da qual semelhante acção seria impossível, não faz qualquer comentário.

Há três razões para tal reviravolta das autoridades em Washington - o ranking eleitoral, o ranking e mais uma vez o ranking. Nada mais aproxima tanto o candidato à presidência do eleitor comum como uma posição dura em relação a alguém, desta vez em relação à Rússia.

A imagem de um parceiro estratégico pode ser sacrificada por algum tempo se isto permite arrecadar um ou dois por cento de votos a mais. É interessante a reacção dos republicanos. Se antes o seu líder, John Kerry, criticava o Presidente por este ter enveredado pela aproximação à Rússia autoritária, agora George Bush já é mau porque agravou as relações com a Rússia, procurando afastar as empresas russas da distribuição dos contratos iraquianos.

Os democratas aproveitam a mesma tese para combater as posições da política externa dos seus adversários e ao mesmo tempo demonstrar a sua disponibilidade em apresentar a Rússia como parceiro vantajoso dos EUA em todos os sentidos.

Moscovo vem acompanhando com ironia e algum tédio a maratona eleitoral nos EUA. Serguei Lavrov, novo ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, que esteve nestes dias em visita a Berlim, qualificou como "pouco séria" a iniciativa do Congresso dos EUA. Konstantin Kossatchev, chefe do comité análogo na Duma de Estado, vê nesta iniciativa uma "compreensão errada" da missão internacional do G-8 e dos critérios de filiação dos países mais desenvolvidos do mundo nesta entidade.

Com efeito, a Rússia faz parte do G-8 não porque alguém no Ocidente o tenha querido. Este clube reconheceu que estaria incompleto sem a Rússia e aceitou a responsabilidade assumida pela Rússia na luta contra as ameaças mundiais. A resolução do Congresso dos EUA é apenas um episódio passageiro nas relações entre os dois países. No entanto não podemos subestimar uma certa influência negativa e provocatória deste documento no que se refere à situação interna na Rússia. Uma equipa heterogénea de nacionalistas russos e xenófobos de vários matizes considerou a resolução americana como uma espécie de manifesto político. Mal as agências noticiosas divulgaram os resultados da votação no Congresso dos EUA, um famoso comentador televisivo russo de orientação nacionalista, apelou à América a expulsar de facto a Rússia do G-8 o mais rapidamente possível. "É o melhor que o Ocidente nos pode fazer, pois tal irá fazer diminuir a influência do lobby pró-ocidental, que procura vender tudo o que pode ao estrangeiro", gritou. É pouco provável que Lantos e Cox tenham previsto um tal efeito colateral da sua moção.

Vladimir Simonov, observador político da RIA "Novosti"

© RIAN

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