Os ambiciosos planos dos investigadores russos do universo

Em 1989, pela primeira vez na história da União Soviética foram publicadas as despesas reais com a investigação e exploração do Universo - ou seja, 6,9 mil milhões de rublos. Pela então cotação rublo-dólar, este valor equivalia a 4,3 mil milhões de dólares.

Temos que constatar que, actualmente, as subvenções do Estado a este ramo são quase vinte vezes inferiores. Se em tais vertentes como as comunicações e navegação espacial, em certa medida a sondagem remota da Terra a partir do Espaço, sem falar da astronáutica pilotada, onde todo o funcionamento da Estação Espacial Internacional é assegurado pela Rússia, a situação é relativamente próspera, a situação na área das pesquisas fundamentais tem estado até há pouco próxima do colapso.

Acontece que nos últimos quinze anos a Rússia lançou somente três satélites científicos, ao passo que anteriormente a ciência soviética colocava anualmente em órbita e trajectórias interplanetárias dois e mais aparelhos de grande porte e com programas de pesquisa impressionantes. Actualmente os cientistas russos podem gabar-se só de algum progresso na investigação do plasma espacial e das relações Terra-Sol por meio dos engenhos "Interbol", que se mantiveram no Espaço mais de cinco anos e "Koronas-F". Este último continua em órbita até hoje, ultrapassando já dois prazos de vida úteis.

A "data negra" da história das pesquisas planetárias russas foi o lançamento a 17 de Novembro de 1997 da estação automática "Mars-96" que, devido a uma avaria no bloco acelerador, não conseguiu colocar-se na trajectória de voo em direcção do planeta vermelho. A partir daí, os cientistas russos têm marcado a sua presença nas investigações de Marte com alguns aparelhos, mas sempre instalados em naves espaciais norte-americanas ou europeias. Os outros planetas do Sistema Solar foram riscados dos programas russos.

A realização dos projectos "Relikt", "Kwant", "Granat" datados dos finais das décadas de 80 e 90 deu à Rússia a possibilidade de se equiparar, de certo modo, aos países desenvolvidos nas pesquisas astrofísicas. Hoje, dado o parco financiamento, a realização de novos projectos - e até mesmo daqueles que são oficialmente indicados no Programa Federal Espacial - é constantemente adiada, de ano para ano. Esta situação só é de certo modo compensada pelo observatório espacial europeu INTEGRAL, colocado em órbita pelo foguetão russo "Proton" e que deu aos cientistas russos, como compensação, 27 por cento do tempo de observação.

Talvez tivesse sido mais correcto canalizar o dinheiro que foi gasto com a construção do foguetão vector para os trabalhos do observatório astrofísico nacional "Spektr-Roentgen-Gamma" que pelos seus parâmetros não é nada inferior ao INTEGRAL. Tanto mais que este projecto nacional já estava em fase avançada e, tendo mais 20-30 milhões de dólares investidos, poderia ter sido lançado há vários anos.

Já há muito tempo não voam no Espaço satélites biológicos russos, que em dada altura eram responsáveis por 50 por cento da informação científica sobre os fundamentos de vida no Universo. Somada às pesquisas médicas que se efectuam em voos pilotados, esta informação permitiria fundamentar a possibilidade de realização de um voo de longa duração - digamos, superior a um ano - a bordo da estação orbital "MIR" e formular as recomendações médicas para os voos ainda mais prolongados.

Quais são então as perspectivas actuais da ciência espacial russa?

Antes do mais, é preciso constatar a tendência crescente no financiamento do sector espacial por parte do Estado que se tem vindo a verificar nos últimos anos. Em 2002, este aumento expressou-se em 71,2 por cento relativamente ao ano anterior e em comparação com 1999 ultrapassou 300 por cento. Nos anos de 2003 e 2004 o crescimento anual situou-se na ordem de 30 por cento. O projecto de orçamento para 2005 recomenda canalizar para o Programa Federal Espacial 18.270 milhões de rublos (1 dólar = 28,30 rublos), o que constitui um aumento equivalente a 133,47 por cento em relação a este ano.

Como em todos os anos anteriores, metade destes meios irá para um só capítulo, ou seja a Estação Espacial Internacional (EEI). Talvez seja uma despesa justificada. Só assim é que a Rússia poderá cumprir os compromissos assumidos neste projecto: assegurar a presença permanente da nave de emergência Soyuz, as reservas permanentes de combustível e a rotação das tripulações e expedições até que os shuttles retomem os voos.

O aumento significativo das subvenções do Estado vai possibilitar a continuidade de outros projectos que até agora se desenvolvem lentamente, inclusive os científicos. Na área da Astrofísica actualmente é dada prioridade ao projecto "Radioastron", ou seja, ao lançamento em 2006 do radiotelescópio espacial com o objectivo de estudar as profundezas da galáxia, as estruturas das fontes de emissão de raios galácticos e extragalácticos, bem como os processos que se verificam dentro e nas proximidades destes objectos.

O projecto "Spektr-Roentgen-Gamma" de que já se falou acima foi relegado para o segundo plano: apesar do financiamento mais avultado, os recursos não chegam para desenvolver paralelamente a construção de dois observatórios astrofísicos espaciais. Mais ainda, para economizar recursos, foi tomada a decisão sobre o lançamento deste engenho não por meio do vector pesado Proton, mas sim com ajuda do Soyuz, que custa menos. Estas circunstâncias fizeram com que fossem adiados alguns aspectos do programa científico inclusive aqueles que já tinham aparelhos prontos a serem utilizados.

As tarefas deste projecto são inovadoras e, por conseguinte, não podem ser levadas ao efeito através dos observatórios já existentes ou nos que estão preparados para lançamento nos próximos anos nos países ocidentais. Trata-se concretamente da observação prolongada (durante vários meses) de 5 a 10 objectos, cuidadosamente seleccionados - núcleos galácticos activos e dum "buraco negro" supermaciço no meio da Galáxia - paralelamente com a observação coordenada em Terra nos diapasões rádio e óptico das ondas.

No Programa Federal Espacial figura igualmente o projecto "Spektr-Ultrafiolet" que pela diversidade das medições a serem feitas ultrapassa de longe todos os resultados dos programas espaciais efectuados até agora no diapasão UV do espectro. Mas na lista dos projectos este situa-se no terceiro lugar sendo pouco provável que a sua realização se inicie antes de 2010-2012.

Na área de estudo dos planetas, o projecto "Fobos-Grunt" (Solo de Fobos) situa-se em primeiro plano. Em traços gerais, trata-se do voo duma nave espacial em direcção a Marte, o seu pouso na superfície do satélite Fobos, a tomada de amostras do solo e o regresso à Terra. Em Fobos ficará só uma sonda, que continuará as investigações do satélite em regime automático, assim como o monitoramento do clima do planeta vermelho e do espaço à sua volta. O lançamento está planeado para 2009.

A experiência a ser acumulada graças a este projecto terá que viabilizar a etapa seguinte da investigação, que é a obtenção de amostras do solo marciano e o seu transporte para a Terra. Além disso, no período de 2009 a 2011 está planeado o envio para a superfície de Marte de pequenas estações científicas equipadas com aparelhos a fabricar em cooperação com cientistas finlandeses.

Na área da Física do plasma e das relações Terra-Sol o projecto mais próximo de realização é o "Koronas-Foton" cujo objectivo consiste em dar prosseguimento às observações do astro e do nível da sua actividade, que hoje está a cargo do "Koronas-F".

Os prognósticos relativos à actividade do Sol são necessários aos especialistas de diversos ramos, por exemplo, para aqueles que controlam o estado das comunicações via rádio, ou são responsáveis pela segurança do voo dos astronautas, sobretudo de voos prolongados. Para obter o prognóstico mais correcto, é necessário afastar o aparelho à distância máxima da Terra. Para o efeito, os cientistas russos elaboraram o projecto "Clipper" que prevê o lançamento de mini-satélites munidos de velas solares. Devido à pressão do vento solar sobre a vela, estes engenhos podem afastar-se do nosso planeta à distância de 3-4 milhões de km, o que aumenta consideravelmente a possibilidade de alertar contra qualquer perturbação perigosa no espaço interplanetário.

A tarefa colocada por outro engenho espacial, o "Resonans", destinado à investigação do plasma espacial consiste em indagar a possibilidade de regular os processos que se verificam na magnetoesfera terrestre. O lançamento está planeado para 2009.

É adiado para uma perspectiva mais longínqua a investigação do Sol à curta distância mediante a "Interheliosonda". Este engenho espacial será enviado na direcção do astro utilizando uma manobra de gravitação perto de Vénus e colocado em órbita à distância de 42 milhões de km. Com manobras de gravitação posteriores será possível aproximá-lo do Sol até 21 milhões de km. Será possível a aproximação ainda maior - digamos, até 7-10 milhões de km. A aproximação maior será limitada pelo fenómeno de vaporização, sob a acção dos raios solares, do écrã protector que deve proteger o artefacto do hiperaquecimento.

Projectos análogos têm em perspectiva a NASA (Solar Probe) e a Agência Espacial Europeia (Solar Orbiter). Mas nenhum deles até agora foi aprovado para a realização, se bem que a Agência Europeia tivesse anunciado que o artefacto europeu poderá ser lançado em 2014.

A "Interheliosonda" russa também se encontra na etapa preparatória e actualmente não há possibilidades financeiras de passá-lo para a fase de projecto e ensaios.

Existem ainda alguns outros projectos espaciais prometedores como o "Roy", que inclui um grupo de satélites e é mais conhecido como "Swarm-F" para medições finas nos sectores da magnetosfera, caracterizados como "críticos" do ponto de vista da formação do "clima cósmico"; o "Zond Poliarno-Eklipticheskiy" (Sonda Polar Eclíptica) para a observação global do Sol e o controlo desse mesmo "clima cósmico"; o "Lunnaya Ten" (Sombra da Lua) para o monitoramento mensal das eclipses do nosso satélite desde a nave espacial. Convém aqui dizer que todas estes projectos estão ainda em fase inicial.

Entretanto, os satélites biológicos serão lançados já a partir do ano que vem. Para Junho de 2005 está já planeado o lançamento da edição modificada do "Bion", para Agosto de 2006 a versão actualizada do "Foton-M". Posteriormente devem ser efectuados mais três lançamentos dos "Bion-M" com o objectivo de desenvolver o estudo comparativo dos efeitos biológicos da microgravitação e da gravitação artificial em voos espaciais prolongados.

Yuri Zaitsev perito do Instituto de Pesquisas Espaciais da Academia das Ciências da Federação Russa © RIAN

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