A estratégia dos museus russos

O museu Ermitage, o "rei" dos museus de São Petersburgo, é quem mostra actualmente um desenvolvimento mais dinâmico. Este museu foi o primeiro do mundo a oferecer a possibilidade de fazer "donload" para telemóveis das reproduções dos quadros do seu site. Assim, mensalmente milhares e milhares de utentes podem dispor nos seus telefones, a troco de um pequeno pagamento, de miniaturas electrónicas dos quadros de Gauguin, Rembrandt, Leonardo da Vinci, Pablo Picasso e outros pintores. O catálogo propunha ao todo cerca de 30 obras primas da pintura mundial.

Em certa altura, o Ermitage foi primeiro a aventurar-se a abrir um salão de exposição em Las Vegas, quase simultaneamente à mesma iniciativa por parte do Museu Guggenheim. Evidentemente, abrir uma exposição na "capital" dos casinos foi uma iniciativa audaz. Esta acção invulgar provocou em muitos museus do mundo críticas cáusticas. A iniciativa foi censurada, por exemplo, pelo Metropolitan dos EUA pela boca do seu director, Philippe de Montebello.

E então? Hoje o Metropolitan já abriu em Las Vegas uma loja própria e, seguindo o exemplo do Ermitage, que escolheu para a sua exposição o Hotel "Venezia", montou exposições no Museu de Boston e na Phillips Collections.

Estas actividades inovadoras dependem, em medida considerável, do director actual do Ermitage, o elegante e perspicaz Mikhail Piotrovski, que sucedeu ao seu pai Boris Piotrovski, célebre estudioso das Artes do período soviético. O seu extravagante cachecol comprido ondulando ao vento produz um verdadeiro encanto entre jornalistas, repórteres e fotógrafos. Entretanto, esta conhecida personalidade da cultura russa não deixa de ser um dos mais reputados cientistas do país.

"A minha opinião é a seguinte - diz Mikhail Piotrovski, - o museu, em princípio, não é apenas um local de exposições, antes sim uma base para pesquisas científicas. Deve ser dirigida obrigatoriamente por um cientista ou orientador científico, à semelhança do Museu Britânico ou do Louvre. Ao fim e ao cabo, um cientista também pode ser um bom gestor, mas o inverso já é muito duvidoso.

Confrontando as estratégias dos dois principais museus do país, pode-se constatar que o Museu de Belas Artes Puchkine, de Moscovo, pratica uma política cultural aparentemente mais conservadora em comparação com a do Ermitage, mas não menos produtiva. A sua última acção cultural foi a exposição intitulada "Pablo Picasso: Reflexos e Metamorfoses". A originalidade da mostra foi montar duas exposições paralelas dos quadros célebres que inspiraram o pintor espanhol a imitá-los de modo audaz e inovador. Digamos, temos de um lado a obra prima de Velasquez "Infanta Margarita" e de outro a visão genial de Pablo Picasso que caricaturou as feições da princesa, conservando ao mesmo tempo todo o seu charme e graça. Na exposição foram exibidos quer os quadros da riquíssima colecção do museu russo, bem como obras gráficas dos museus de Paris e Barcelona.

Simultaneamente, numa filial do Museu Puchkine foi inaugurada outra exposição impressionante "Arte do século XX da Colecção do Deutsche Bank", que proporcionou aos apreciadores de arte russos a possibilidade de ver as pinturas e esculturas originais de Max Beckmann.

A estratégia cultural da directora do Museu de Belas Artes Puchkine, Irina Antonova, talvez seja mais discreta e modesta, mas não menos ambiciosa do que a política agressiva e "expansionista" do Ermitage. O museu Puchkine é mais propenso a confrontar, sob prismas fora do comum, os fenómenos da vida cultural, organizar saraus musicais, fazer intercâmbio de obras primas. Graças a esta estratégia da directora, as colecções do museu já forma expostas em muitos países mundo, o que era impossível na época soviética.

A Galeria de Pintura Russa Tretiakov de Moscovo, outro acervo da pintura russa, também adoptou outra orientação, sendo o seu exemplo seguido por outros museus e galerias de arte espalhados pela enorme Rússia. A Rússia é um país tão vasto que, digamos, um moscovita ou habitante de São Petersburgo jamais terá a mínima possibilidade de chegar a conhecer as colecções de arte e pintura que existem, digamos, nas cidades tão distantes como Omsk (Sibéria Ocidental), Arkhangelsk (acima do círculo polar ártico) ou de uma qualquer outra cidade afastada. Por isso, a Galeria Tretiakov concede uma oportunidade única no seu género de mostrar na capital as colecções dos museus provinciais e regionais, inacessíveis devido às distâncias que os separam. A própria criação dos museus regionais remonta à época soviética e à política cultural do Estado na altura que, em nome da divulgação dos valores culturais, distribuía obras primas pelos cantos mais remotos do país.

Acontece que, não raro, na sequência desta política se perdia a integridade de algumas colecções, mas os objectivos da "educação cultural das massas" estavam acima de tudo. Pois, foi exactamente assim que num pequeno museu da província - digamos na cidade de Riazan ou de Krasnodar - se encontram para a surpresa do visitante óleos famosos do pintor Somov ou Quindji, sem falar ainda de Chichkin ou Aivazovski que tanto êxito tiveram nos últimos leilões da "Christie's" ou da "Sotheby's" em Londres.

Acontece que o processo inverso decorre com algumas dificuldades: os museus de Moscovo e São Petersburgo têm pouca vontade de exibir na província as suas colecções. Seja como for, o retrato de gala da imperatriz Catarina II executado pelo pintor russo Levitski e pertencente à colecção do Museu de Pintura Russa de São Petersburgo, foi exibido e teve grande êxito em Novossibirsk (Sibéria Ocidental).

O grande interesse dos coleccionadores nos leilões da "Christie's" e da "Sotheby's" de Londres deve-se principalmente à participação dos "novos ricos" russos, que até há pouco não passavam de pobres visitantes das exposições de província. Hoje, um comprador como esse é capaz de pagar 766.850 libras esterlinas pela obra de Chichkin "Paisagem da Floresta Russa", exposta no leilão.

Resta explicar que a maior parte destas transações é feita de forma anónima, pois a maior parte deste tipo de compradores desta natureza á bastante cuidadosa no que respeita à divulgação do seu nome e do seu nível económico.

Desta maneira, Moscovo está-se a tornar o terceiro centro de arte mundial após Nova Iorque e Londres, deixando para trás Paris. Basta consultar as revistas de Moscovo com anúncios de centenas de acções e iniciativas culturais, espectáculos, shows, etc., para o comprovar. Entre as actividades culturais mais relevantes propostas para hoje refira-se a exposição de Ilia Kabakov, a exposição "Moscovo-Berlim" no Museu de Arquitectura, a exposição de fotografia clássica que abrange o período entre Andy Warhol e Helmut Newton, a exposição retrospectiva de arte socialista, a exposição de desenhos de Parmiggiano, a exposição de árvores de Natal nas mais diversas e originais execuções, a exposição de pintura alemã na Academia das Artes, a exposição do pintor russo do século XIX Serov, a exposição de cartazes espanhóis, as aquarelas do pintor Serguei Bekilemichev sobre episódios bíblicos, a exposição de pintura patrocinada pelo Presidente, a exibição de cavalos de raça, a exposição de pintura medieval russa... Ou seja, temos ao todo mais de cem eventos culturais num só dia!

Anatoli Korolev observador político RIA "Novosti"

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