NOVA ARQUITECTURA DE MOSCOVO É ALVO DE CRÍTICAS

A televisão mostrou há pouco um programa em que os moradores de um prédio, indignados com a decisão das autoridades de construir garagens no seu pátio, plantaram novas árvores no respectivo terreno. Quando a polícia chegou ao local, os moradores não permitiram que as árvores fossem arrancadas. O descontentamento dos habitantes tem resultado em acções radicais até em Krylatskoie, o bairro de elite de Moscovo. Os moradores de um dos prédios, em cujo pátio se planeava construir um edifício privado, derrubaram o muro de betão de 3 metros de altura e 200 metros de extensão que havia sido erigido pouco antes. Aleksandr Rukavichnikov, autor do monumento ao escritor russo Mikhail Bulgakov em Patriarchie Prudy, no centro de Moscovo, foi forçado a limitar-se apenas à estátua de bronze do próprio escritor, pois a sua ideia de erigir ao lado um gigantesco fogareiro com o diabo, um personagem do romance " Margarida e o Mestre " de Bulgakov, foi recebida com grande resistência pelos habitantes do bairro e pelos representantes da igreja.

Nas vésperas das eleições de Dezembro para governador da cidade a opinião pública está dividida quanto às impressionantes mudanças ocorridas em Moscovo nos anos de governo do actual presidente da Câmara Municipal, Yuri Lujkov, ou seja, desde 1992.

Os partidários da actual modernização de Moscovo dizem que na cidade surgem novos edifícios, monumentos, parques e ruas, que a cidade se torna mais limpa e bonita e que os seus habitantes vivem agora com maior conforto. De acordo com os dados da The Gallup Organization, o número de moscovitas inteiramente satisfeitos com a vida na capital cresceu em cinco anos de 17 para 41 por cento. Este é um dos mais elevados índices entre as megalópoles do mundo.

Os críticos dizem por sua vez que em Moscovo foram destruídas nos últimos anos dezenas de monumentos arquitectónicos dos séculos XVII-XIX, aumenta o número de monumentos de duvidoso valor artístico, são derrubadas árvores. Em vez de hospitais, jardins de infância, escolas e equipamentos desportivos são construídos luxuosos edifícios residenciais com apartamentos de 700 metros quadrados, que ficam desabitados devido ao seu elevado custo. Ao mesmo tempo, faltam habitações sociais para as famílias de baixo nível de rendimentos e jovens.

No século XX os velhos quarteirões de Moscovo já eram demolidos para construir novos. Sob o signo da luta contra a religião, naquela época foram destruídas inúmeras igrejas, entre elas os templos de Cristo Salvador e de Nossa Senhora de Kazan. Recentemente estas igrejas voltaram a ser construídas de raiz. Actualmente provocou acaloradas discussões a decisão de demolir o Hotel "Moskva" perto do Kremlin, cujo projecto fora aprovado pelo próprio Estaline. No seu lugar foi decidido construir um moderno hotel. Mas os adversários não concordam com as afirmações das autoridades de que as novas construções não estragarão a traça tradicional de Moscovo. No entanto, estas afirmações são pouco convincentes, pois no lugar dos monumentos dos séculos XVIII-XIX erguer-se-ão as chamadas "réplicas", ou "clones", que mudarão o aspecto tradicional da cidade.

Com efeito, as "réplicas" (como estes clones foram baptizados pelos críticos) intensificam o eclectismo do quadro arquitectónico da capital. Para que foi construído o complexo comercial perto do Kremlin com fontes ornamentadas com esculturas de personagens de contos de fadas? Os zeladores da velha Moscovo ficam furiosos ao apreciar a qualidade destas esculturas. Mas se o mau gosto dos personagens dos contos de fadas é ainda perdoado, a pobreza dos novos monumentos é imperdoável. Por que razão as pernas do marechal Jukov da estátua equestre erigida perto da Praça Vermelha fazem lembrar próteses e o cavalo levanta sugestivamente a cauda? Para que são usados tanto mármore e ouro na construção das sedes de empresas de Moscovo? Por que surgem tantos palacetes de linhas pesadas num estilo falsamente histórico? "Na capital goza de procura um estilo de arquitectura que corresponde aos gostos dos "novos russos" - considera Aleksei Kometch, director do Instituto de História da Arte. - A pedra e o mármore, principais materiais de construção de hoje, são usados por sugerir a riqueza e o prestígio". Contrariamente aos arquitectos ocidentais, os russos não podem por enquanto formar os gostos por dependerem financeiramente dos clientes. E até as comissões de peritagem são incapazes de mudar a situação.

Já no passado Moscovo distinguia-se pelo seu eclectismo arquitectónico. O próprio conjunto do Kremlin une em si tradições orientais e ocidentais, e os templos antigos dão-se bem com os edifícios em "estilo Império estalinista" e com as primeiras experiências em estilo "hi-tec". Mas o actual eclectismo - queixam-se os moscovitas - não conhece limites. A "maquilhagem" da cidade é também bastante berrante: os edifícios pintados de cor-de-rosa, laranja e verde clara saltam literalmente aos olhos.

No entanto, Moscovo não tenciona limitar-se a uma nova "maquilhagem". Será usada também uma espécie de "cirurgia plástica", ou seja, a face da capital será modernizada estruturalmente.

De acordo com o Plano Director de desenvolvimento de Moscovo até 2020, só 58 por cento do território urbano manterá a sua anterior finalidade. No resto do território as autoridades de Moscovo continuarão a construir intensamente lojas, restaurantes, escritórios, cinemas, ginásios, prédios de elite. Os projectos são tão grandiosos que Vladimir Ressin, primeiro vice-presidente da Câmara Municipal de Moscovo, foi forçado a tranquilizar os habitantes, tendo declarado que depois da modernização a capital deve transformar-se num "local de habitação confortável" para a sua população e, ao mesmo tempo, manter o seu inconfundível aspecto histórico. A cidade deve representar "uma estrutura única, composta por soluções arquitectónicas que tenham características individuais e, ao mesmo tempo, se completem harmoniosamente" - acrescenta o arquitecto Mikhail Possokhin, um dos principais autores do Plano Director da cidade.

Todos os bairros da capital devem dispor de uma infra-estrutura social desenvolvida - disse Vladimir Ressin. Moscovo não terá mais os chamados "dormitórios". Planeia-se eliminar todas as deficiências próprias destas zonas, ou seja, a falta de lojas com bens de primeira necessidade, teatros, cinemas, bibliotecas, parques, ginásios perto do local de residência, assim como os problemas de transporte. 7 zonas periféricas de Moscovo adquirirão todas as estruturas necessárias ao trabalho e lazer. Mais ainda, ao que tudo indica, estas 7 zonas serão transformadas em 7 centros. Por outras palavras, em vez de um só centro - histórico - com o núcleo no Kremlin, na capital haverá 7 centros modernos, cada um deles com a sua face individual.

Os especialistas acolhem positivamente esta ideia tal como a decisão de retirar as empresas industriais do centro de Moscovo. Claro que ninguém se opõe também à necessidade de retirar da capital os meios de transporte excedentes. Actualmente 250 veículos correspondem a mil pessoas, o que provoca grandes engarrafamentos nas ruas.

A Câmara Municipal tenciona intensificar a actividade empresarial. Para isso será construído na marginal Krasnopresnenskaia, junto da Casa do Governo, um quarteirão supermoderno de arranha-céus, chamado Moscovo-City, uma espécie de "Manhattan" de Moscovo, com hotéis, centros comerciais, equipamentos de lazer e um parque aquático. "Este projecto abrirá o centro histórico ao cidadão médio, que actualmente lhe é pouco acessível" - considera Yuri Botcharov, da Academia das Ciências de Construção Civil da Rússia.

Quanto à "operação" de desenvolvimento do turismo no centro da cidade, ela é, pelo menos, discutível. Até 2010 no centro histórico de Moscovo e numa parte do bairro Zamoskvoretchie, onde estão concentrados os principais pontos de interesse turístico, serão criadas zonas pedonais ligadas entre si por um sistema de passagens e pontes. Em conformidade com este projecto, denominado "Anel de Ouro de Moscovo", na capital aparecerão 17 novos hotéis, bem como novos museus, restaurantes, estabelecimentos comerciais, zonas de parqueamento e recreação. Serão restaurados 300 monumentos arquitectónicos e artísticos. No entanto, uma das principais objecções consiste em que obras de construção tão intensas provocarão deslocamentos do solo no centro da capital. Será justificado o risco? - perguntam os críticos.

Olga SOBOLEVSKAIA observadora da RIA "Novosti"

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