TEATRO BOLSHOI EM VÉSPERA DE GRANDES MUDANÇAS

Aleksei Ratmanski, de 34 anos, é um bailarino e coreógrafo digno dos predicados mais elevados, altamente conceituado tanto na Rússia como no Ocidente, embora se mantenha ligado ao Grupo de Balet da Dinamarca, onde simultaneamente está a concluir a mise-en-scene do bailado "Anna Karenina" inspirado na obra de Leão Tolstoi. Ratmanski bridou os fãs do Bolshoi na temporada passada com o bailado cómico "Arroio Claro", de Dmitri Chostakovitvh, que relata a vida rural quotidiana da Rússia, um bailado em tempos retirado do repertório do Bolshoi por ordem de Estaline. Esta encenação de Ratmanski abriu a 228.ª temporada do Teatro e assinalou o início da vaga vanguardista.

O Teatro Bolshoi teve sempre relações difíceis com a coreografia contemporânea, dando preferência à tradicional e clássica. Quase todo o repertório é composto por espectáculos clássicos, como por exemplo, o "Lago dos Cisnes", a "Catedral de Nossa Senhora de Paris", a "Prudência vã"... Os espectáculos de vanguarda aparecem muito raramente no palco do Bolshoi e, ao que parece, o objectivo de Aleksei Ratmanski é implementar na companhia de bailado, caracterizada por um altíssimo nível técnico - o gosto pela procura intensa e pelo bailado filosófico.

Aleksei Ratmanski é licenciado da Escola de Bailado de Moscovo e, por isso, conhece bem o colectivo do Teatro Bolshoi e, além disso, possui uma vasta experiência de trabalho e cooperação em teatros ocidentais. Tendo trabalhado dentro do rigoroso sistema contratual, ele não vai poupar o conjunto do Bolshoi. Vai despedir sem piedade todos os que não são necessários, todas as figuras "decorativas", o que por falta de coragem ou por delicadeza não conseguiu fazer o actual dirigente do Teatro, Boris Akimov.

O Teatro Bolshoi continua a liderar na Rússia e a ser a maior companhia no país, tendo aproximadamente 2500 artistas. Aproximadamente, porque afinal ninguém sabe ao certo quantas são. De 900 artistas 300 são músicos da orquestra, 200 coristas, 70 solistas de ópera, 250 do conjunto de bailado. Aliás, é a maior companhia de bailado do mundo!

A Direcção do Teatro não podia até agora despedir nem um só corista nem um só bailarino figurante e ainda muito menos um solista, que na sua maioria são velhotes e velhotas resmungões, com pretensões vaidosas a papéis de destaque, cheios de inveja e prontos a barrar os caminhos à nova geração talentosa.

Ao comentar a nomeação de Aleksei Ratmanski, o director do Teatro Bolshoi, Anatoli Iksanov, disse: "Hoje queremos viver e trabalhar como todos os teatros líderes do mundo, com uma direcção rotativa. Congratulo-me com o facto de o grande pedagogo, artista e administrador Boris Akimov ir ceder o seu lugar ao jovem e reputado coreógrafo, caracterizados por muitos como a esperança da coreografia russa".

O próprio Ratmanski esquiva-se por enquanto a comentar o seu programa de reestruturação da companhia de bailado. Pelo menos, a única coisa que não esconde é que ele próprio não vai dançar no palco do Bolshoi, indo intervir somente na qualidade de encenador e coreógrafo. "Eu quero dedicar-me à criação", disse. Ratmanski deve ainda formalizar a nacionalidade russa, por ser neste momento cidadão da Ucrânia.

Há já muito que o Teatro Bolshoi precisa de reformas. O Teatro estava numa situação difícil. Parecia um barco que navegava a grande velocidade, mas sem leme. Ia por isso aos solavancos, de um lado para outro, como a corveta dos versos de Arthur Rimbaud: "E ia eu assim para lado nenhum, às apalpadelas, submerso no tempo...".

Quem tomou a si o trabalho árduo de estruturar a administração do Teatro foi o actual director-geral do Teatro Bolshoi. Embora esteja na direcção há já vários anos, só há pouco Anatoli Iksanov conseguiu, por fim, implantar novas regras e adoptar um novo código de trabalho.

Doravante, a direcção tem as mãos livres para gerir da melhor forma os recursos humanos. Todos os artistas passaram para o sistema de contratos e os elencos para cada espectáculo serão escolhidos através de concurso. Esquema esse adoptado e vigente em todo o mundo. Mas o Teatro Bolshoi mergulhou no pânico: centenas de pessoas poderão ficar "fora do barco". Para dizer a verdade, muitas delas não são mais necessários ao Teatro.

As mudanças radicais no Bolshoi tiveram o apoio do Kremlin. Com o seu recente despacho o Presidente Vladimir Putin decretou o aumento do financiamento anual para 26 milhões de dólares, em vez dos 14 milhões até há pouco. Assim, o orçamento deste centro de cultura atinge hoje 40 milhões de dólares.

© RIAN

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