O simbolismo audiovisual do filme Alexander Nevsky

Irmãos cruzados da Ordem Teutónica fizeram os seus votos monásticos. Segundo as regras, se prepararam a rigor. Após a visita a um castelo da Ordem Teutónica um embaixador dos pagãos baltas informou a sua tribo em surpresa:

“Os cruzados, assim como os seus cavalos, se alimentam exclusivamente de erva!” Eles rezaram e entoaram cantos gregorianos acompanhados por órgãos e nas suas crónicas rimadas sobre as cruzadas glorificavam as armas e a violência.

Os estados Bálticos ortodoxos Herzike e Kukenois foram as primeiras vítimas do seu ataque. Após a destruição do ortodoxismo nessa zona eles passaram à Rússia. Os missionários católicos armados queimaram os mosteiros ortodoxos e seus monges.

Quem vir o filme Alexander Nevsky, nunca esquecerá a sua linguagem vivida e suas imagens musicais. Trabalhando no filme sobre os feitos do santo guerreiro Russo, que se tornou numa obra de arte do cinema com som, o director Sergey Eisenstein e o compositor Sergey Prokofiev destacaram detalhes históricos que ilustraram o aspecto espiritual da época e dos seus personagens.

Os principais documentos relatando a luta do povo Russo contra a agressão da Ordem Teutónica são A vida de Alexander Nevsky e A história de Dovmont. Os investigadores consideram que há semelhanças entre os dois. Eisenstein e Prokofiev, seguindo a tradição ortodoxa, intuitivamente (ou conscientemente?) utilizaram os dois documentos.

Da crónica em verso de Elder Livonian, é sabido que a invasão dos cruzados ocorrida em 1240 criou o caos em Pskov (V.I.Matuzova, E.L.Nazarova. Crusaders and Russia. Late 1100s-1270. Texts, translation, commentary. Moscow, 2002). A versão mais longa de A história de Dovmont contém dois relatos sobre as mal feitorias dos católicos em Pskov. A demolição de mosteiros Russos e a queima de monges vivos por inquisidores Teutónicos assim como de mulheres e crianças que procuravam refúgio no interior desses mosteiros:

“1270. E os terríveis Alemães atacaram os habitantes de Pskov e entraram na cidade com um grande exército e atearam fogo ao Theotokos na montanha Snyataya e queimaram Hegumen Ioasaf com os monges na igreja. 1299. no dia 4 de Março os Alemães atacaram a cidade na parte exterior das muralhas matando imensos monges, mulheres e crianças e queimando mosteiros”.

Histórias sobre os cavaleiros Teutónicos queimando monges, mulheres e crianças nos mosteiros Snetogorsky e Mirozh em 1299 podem ser encontradas em várias cópias da História de Dovmont e em quase todos os anais de história Russos (V.I.Okhotnikova, The Story of Dovmont. Study and texts, Leningrad, 1985).

A chacina de crianças ortodoxas pelos cruzados lembram os escravos do Faraó Egípcio e o rei Herod, descrito na bíblia. No filme Alexander Nevsky, a passagem Cruzados em Pskov, interpretada no contexto da História de Dovmont, demonstra que os maiores inimigos do povo Russo tentaram destruir desde o início todos os símbolos ortodoxos. Esta é uma alusão bastante significativa num filme que foi considerado ateu.

A inclusão de factos históricos é justificada pelo tipo de filme em questão. Eisenstein e Prokofiev usaram ainda outros registos históricos do século XIII. Para o filme foi feito uma cópia precisa de um órgão portátil. A distinta imagem de um monge católico vestido de preto a acompanhar as acções militares dos seus irmãos cavaleiros com a música do seu órgão foi retirada das Crónicas Livonianas de Heinrich da Letónia. De acordo com os relatos de um cronista da Ordem, um padre Teutónico chamado Heinrich (talvez o próprio autor da crónica) “rezava a deus tocando o instrumento musical enquanto os outros lutavam”. Um monge tocando órgão em pleno campo de batalha com os Ests causou surpresa nas tribos pagãs: “O padre pouco preocupado com os ataques das tribos pagãs chegou ao castelo e enquanto os outros lutavam ele rezava a deus tocando o seu instrumento musical. Os pagãos (Ests), ao ouvirem o cantar e a música que nunca haviam ouvido, paravam de lutar e se perguntavam qual seria o motivo para tanta alegria.”

Heinrich da Letónia escreveu que contrariamente aos povos bálticos, tanto os cruzados como os Russos tocavam música militar. A música encorajava os guerreiros: “Os Russos juntavam o seu exército, tocavam tambor e trombeta e o rei de Pskov, Vladimir, assim como o rei de Novgorod percorriam as fileiras de soldados para os encorajar antes das batalhas. Não havia descanso. Durante o dia lutavam e à noite faziam várias coisas sempre com grande barulho: os Livs e os Letts gritavam e batiam com as espadas nos escudos. Os guerreiros Teutónicos tocavam tambor e trombeta, assim como outros instrumentos musicais. Os Russos tocavam os seus instrumentos musicais e gritavam. Todas as noites eram passadas sem dormir” (Heinrich of Latvia. The Chronicle of Livonia. Introduction, translation and commentary of S.A.Anninsky. 2nd edition. Publishing House of the Academy of Sciences of the USSR, Moscow - Leningrad, 1938).

Graças ao génio criativo do compositor Sergey Prokofiev e do poeta Vladimir Lugovskoy o tema da música militar foi brilhantemente desenvolvido no filme sobre Alexander Nevsky. Eisenstein referiu que no filme há cenas que foram editadas de acordo com a musica que havia sido feita: em alguns casos a música foi composta após a montagem da imagem. Prokofiev juntou material musical à cantata Alexander Nevsky, que consiste em sete partes de acordo com os principais temas do filme: Russia sob o domínio Mongol, Canção sobre Alexander Nevsky, Crusados em Pskov, Levantai-vos, povo Russo!, A batalha no gelo, O campo da morte, e A entrada de Alexander em Pskov. O som de trombeta ecoa na canção latina gregoriana Peregrinus expectavi, sobre um peregrino que pegou numa espada. Na canção patriótica Levantai-vos, povo Russo! o compositor incluiu sons de instrumentos populares.

A integração de vários meios artísticos por Eisenstein e Prokofiev alargaram o leque do estilo semântico utilizado no filme, permitindo compreender as origens ortodoxas do patriotismo Russo.

Yuri Klitsenko Rússia Traduzido por Ralitsa ZAITSEVA

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