VIAGEM PELO MUNDO em 2004 parte 4

Nós dirigimos a casa da tia, deficiente física, dela, que mora sozinha (marido morreu cedo) e enfrenta a indiferença dos restantes membros da família.

Fomos bem recebidos, e eu resolvi escancarar a bolsa, em gastos vários.

A alegria da tia da Renata em receber centenas de euros de comida e bebida, não se leva em consideração, se analisarmos o seu modo egoísta de agir; em conjunto com Renata, passava horas e horas conversando, desconhecendo TOTALMENTE, a minha existência. Coloquei a prova o meu poder, devivendo em coletividade, não tomar conhecimento de ninguém!

No quarto dia de nossa estadia, ao colocar a chave na tranca da porta do carro, senti que a mesma tinha sido forçada, e chamei a atenção da Renata para o fato. Pouco depois, ao tentar colocar a chave na ignição, descobri que ela já não existia. Peças moídas foi o que sobrou dela.

Imediatamente pedimos a tia da Renata para chamar a policia, o que ela fez imediatamente. A policia apareceu prontamente uns 20 minutos mais tarde e logo nos informou que os carros, vindos da União Européia, eram periodicamente roubados, e que eles iriam providenciar alguma ação. Tivemos que ir ao representante da “Hyundai”, que nos pediu para contratar um reboque, pois eles não tinham nenhum!

Pagamos 30 Euros pelo reboque, e nos comunicaram que dentro de três dias iríamos receber o carro, já consertado, sendo a conta 130 Euros.

Sempre com desculpas de não ter encontrado a peça, levamos 15 dias de espera. Até que finalmente entregaram o carro, mas tínhamos que usar 3 chaves diferentes nele. A primeira chave que servia para abrir a minha porta, a segunda para a ignição, e a terceira para a porta de frente, do meu lado e ao mesmo tempo o bagageiro. Como a Polônia se encontra hoje, tudo é possível. E por falar nisso, acrescento que, o numero de pedintes (inexistentes no período comunista) é enorme!

A situação como a de Portugal, onde todo mundo compra tudo no crediário, mesmo não havendo a menor possibilidade de pagar, é hoje corriqueira na Polônia.

Muitos carros novos, artigos só usados por ricos, roupas de marca; mas na hora de comer: sopa muito aguada. Assisti uma cena que nunca me sairá da memória: um polonês maltrapilha, apanhando um pedaço de pão, no lixo, que depois de ser limpo com a mão comeu avidamente, como um grande petisco.

Isso hoje acontece com freqüência na Polônia, e me faz lembrar do que escrevi no meu livro: “Um capixaba pelo mundo”, onde declaro que ao chegar à Polônia pela primeira vez (1969) época dos comunistas, e freqüentando vários restaurantes, constatei que TODOS, sem exceção, não comiam nem 20% da comida que pediam, deixando o resto para o lixo. Nessa época comentei com alguns poloneses, meus conhecidos e mais tarde com Renata, que DEUS iria punir esse povo, e ele seria amaldiçoado, por não levar em consideração milhões de pessoas que morriam de fome no mundo!

Não gosto de ver sofrimento de ninguém, mas que eles merecem, isso é uma pura verdade! Continuei, durante a minha estadia na casa da tia da Renata, sendo tratado como no primeiro dia. Como na maior parte de minha vida, tive conversas sociais (obrigatórias) e creio que no fundo, a minha situação até que era agradável, apesar de sentir que não deveria ser assim. Resumo de minha estadia: comprar, comer e dormir!

Fomos visitar outra tia da Renata, que como a primeira, tem uma doença, que não lhe permite sair de casa. Visitei também um primo da Renata, que sem doença física, não raciocinava normalmente. Tudo isso para mim, significa a vida; onde participamos, mas não escolhemos as posições!

Como o primo mora numa cidade espiritualmente muito importante para os católicos poloneses, Czestochowa, tive a oportunidade de visitar mais uma vez, o famoso monastério, onde se encontra a Virgem Negra. Era um sábado e os arredores da fortaleza – monastério estavam apinhados de pessoas e peregrinos. Estavam assistindo ao um conserto de rock tipo religioso – espiritual. Os cantores eram padres de vários paises: americanos, italianos etc.... , mas o espetáculo não tinha nenhum contato com coisas espirituais. Era uma manifestação de fanatismo religioso e chauvinismo e, além disso, de um desavergonhado comercio religioso.

O tempo estava horroroso e os poloneses dizerem que já uns 50 anos não houve um maio tão frio. Aproveitando alguns dias de sol raquítico e sem vento forte, fizemos uma visita à Varsóvia. A capital estava bastante mudada desde anos oitenta. Mais as mudanças não alcançaram os bairros operários que foram construídos na época do comunismo. Mudou o centro da capital, com vários prédios novos, na sua maioria sedes dos bancos internacionais, grandes corporações internacionais e hotéis de “cinco estrelas”. Para a nossa alegria um prédio permaneceu majestosamente sobrepondo se aos todos os outros, o tão criticado Palácio de Cultura, construído pala União Soviética, como presente para o povo polonês.

Decidimos passar algumas horas em Zelazowa Wola, um povoado a uns 30 km de Varsóvia, onde nasceu e passou a sua juventude Frederico Chopin. Os jardins em volta de pequeno palacete estavam deslumbrantes e tivemos tempo super agradável, sentados nos bancos de madeira e ouvindo as mazurcas de Chopin que soavam dos alto-falantes espalhados pelo jardim.

Depois de um mês no centro da Polônia, seguimos para o norte, para a casa dos pais da Renata, onde fatos além da imaginação se passaram, e a seu pedido, não vão ser comentados. Pais acontecem, e filhos muitas vezes pagam caro por esse acontecimento.

Mais uma decepção aconteceu, ao enviar para Timi (Pravda) a minha noticia da semana, atualmente escrita uma vez por mês (por estar viajando) e ele comentar que tirou uma parte dos meus comentários, por não estar de acordo com os seus pensamentos.

Mesmo com os meus artigos, comentários e noticias sendo publicados por sua ordem na seção “Opinião”, realmente, nem mais nessa seção as minhas palavras são publicadas, pois antes são censuradas. Será que isso está acontecendo porque o que eu escrevo está ofendendo o outro lado, ou porque democracia, para o Timi, também significa: liberdade de publicar no Pravda, só o quê é do seu interesse? Estou com vontade de colocar um anuncio assim: procura-se um jornal, onde realmente se possa escrever a VERDADE, sem ofender ninguém, mas que seja verdadeiro! Continuamos a viagem, que por sinal aconteceu de uma maneira inesperada; quando seguimos de Szczecin, no norte da Polônia, para o porto de Swinoujscie, onde compramos passagem para Ystad na Suécia, e, como em um milagre, estava eu viajando pela centésima e outras dezenas de vezes em um ferry-boat (falta deles é uma das principais causas, para não dizer a principal, do atraso do turismo no Brasil), com o meu carro.

Imaginem nós no Brasil, com péssimas estradas, lotadas, enquanto poderíamos ter (como na Europa) centenas de linhas de ferry-baots, ligando por ex: Recife ao Rio, São Paulo, Curitiba, Salvador, Porto-Alegre, Buenos Aires, Montevidéu e mais, mais, e mais, e isso só como um pequeníssimo exemplo do que poderíamos fazer. Navios que levam ate 2.400 carros, caminhões e trailer, podendo levar mais de 1.000 caminhões em uma única viagem, milhares de moto-homes etc...etc...etc... Deixamos a Polônia sem nenhuma saudade, cansados de tempo frio, das suas cidades tristes e um tanto desarrumadas e do seu povo nervoso, preocupado com o futuro e um tanto louco, porque perdido no mundo atual, entre o seu passado de bem estar e presente cheio de privações e incertezas.

Armando Costa Rocha PRAVDA.Ru BRASIL

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