EUA tentam mais uma vez 'mudar regime' à bala no Iraque

EUA tentam mais uma vez 'mudar regime' à bala no Iraque


Há três dias, escrevemos:[1]


Os EUA condicionaram qualquer envolvimento ao lado do governo iraquiano, a uma mudança na estrutura daquele governo na direção de algum tipo de "governo de unidade" que inclua representantes das tendências sunitas rebeldes. O primeiro-ministro Maliki, que obteve bons resultados em recentes eleições, não verá motivo algum para aceitar essa condição.


Como previsto, Maliki rejeitou[2] a ideia de obedecer às ordens de Washington DC, o que tem pleno direito de fazer. O Iraque é estado soberano.

Mas Washington acha que não: quem escolherá novo primeiro-ministro do Iraque somos nós:[3]


Ao longo dos últimos dois dias, o embaixador dos EUA, Robert S. Beecroft, e Brett McGurk, alto funcionário do Departamento de Estado para Iraque e Irã, reuniram-se com Usama Nujaifi, líder do maior contingente sunita, "Unidos para Reformar", e com  Ahmad Chalabi, um dos vários sunitas potenciais candidatos a primeiro-ministro, segundo gente próxima dessas facções, e com outras figuras políticas.

"Brett e o embaixador encontraram-se com Nujaifi ontem e foram francos quanto à ideia de que não querem que Maliki fique" - disse Nabil al-Khashab, principal conselheiro político de Nujaifi, na 3ª-feira.


Esse movimento fez crescer as suspeitas de que a recente insurgência contra o estado iraquiano, com takfiris do ISIS na linha de frente, não aconteceu agora por acaso, imediatamente depois de o partido de Maliki, a Coalizão Estado de Direito, ter vencido as eleições parlamentares, há poucas semanas. Já estava decidido que Maliki teria de sair. Quando as eleições o confirmaram no poder, foi preciso introduzir outras 'táticas'. E começou a insurgência que agora está sendo usada como pretexto para "mudar o regime".

Rematado absurdo, é claro, mas a imprensa-empresa e os políticos norte-americanos caíram outra vez no conto do "malvadão", pintando Nouri al-Maliki (transcrição, em árabe, de Ngo Dinh Diem) como o único obstáculo que impediria o Iraque de ser uma "democracia liberal". Maliki não é o problema, no Iraque:[4]


O fator mais significativo por trás dos problemas do Iraque sempre foi a incapacidade dos árabes sunitas e de seus vizinhos sunitas para conviver civilizadamente com um governo no qual os xiitas - que são considerável maioria na população iraquiana - têm o papel protagonista. Essa incapacidade já apareceu bem clara, quando os sunitas do Iraque recusaram-se a tomar parte nas primeiras eleições parlamentares do Iraque, e recorreram à insurgência quase imediatamente depois da invasão norte-americana e a derrubada de Saddam Hussein. Em todos os casos, o objetivo dos sunitas iraquianos sempre foi provar que os xiitas não são capazes de governar o Iraque. De fato, foi exatamente o que disse recentemente o vice-primeiro-ministro sunita do Iraque, Osama al Najafi. Para os sunitas, a liderança política e o direito de governar é direito de nascença dos sunitas, e eles ressentem qualquer 'intromissão' dos xiitas.


Os EUA, com forte apoio de seus aliados do Conselho de Cooperação do Golfo que financiam a insurgência, outra vez se põem ao lado da minoria sunita no Iraque e querem subverter o governo da maioria xiita e seu candidato eleito. Maliki não obedece ordens de Washington, mantém relações cordiais com o Irã e vence eleições: é sujeito perigoso, que não pode ser deixado no poder.

Assim sendo, o programa dos EUA volta a ser "mudar o regime" no Iraque, dessa vez com a ajuda de jihadistas degoladores e apesar dos recentes 'sucessos' catastróficos de empreitadas assemelhadas na Líbia, no Egito e na Ucrânia, e de retumbante fracasso na Síria.

Phil Greaves parece portanto bem certo, quando caracteriza a insurgência e o ISIS como expressões do imperialismo de Washington:[5]


A insurgência liderada pelo ISIS que atualmente atormenta as regiões oeste e norte do Iraque não passa de continuação da insurgência patrocinada pelos imperialistas na vizinha Síria. Os atores estatais responsáveis por armar a sustentar essa dita insurgência têm os mesmos objetivos principais no Iraque que perseguem há três anos na Síria, a saber: destruir a soberania do estado; enfraquecer os aliados de um Irã independente; dividir para sempre Iraque e Síria por linhas de divisão sectária que criem 'miniestados' antagonistas incapazes de se reunir em frente única contra a dominação imperial de EUA-Israel.


A melhor coisa que Maliki pode fazer agora é fechar a embaixada dos EUA no Iraque e pedir ajuda de Rússia, China e Irão. O sul do Iraque produz muito, muito petróleo, e nem o dinheiro nem o número de recrutas necessários para manter luta prolongada são problemas para Maliki. Problema para Maliki são os bandidos insurgentes e estados, entre os quais EUA, lutando escondidos por trás das linhas dos bandidos insurgentes.

A luta pode ser longa, e o Iraque provavelmente acabará por ser dividido, mas, pelo menos, se garantirá que a vontade da maioria dos iraquianos não seja atropelada e deixada abandonada na estrada por atores externos. ****

 


[1] http://www.moonofalabama.org/2014/06/no-baghdad-did-not-collapse.html

[2] http://www.theguardian.com/world/2014/jun/19/iraq-maliki-us-strikes-air-isis-sunni

[3] http://www.nytimes.com/2014/06/20/world/middleeast/maliki-iraq.html?_r=0

[4] http://www.lobelog.com/2014-06-the-real-causes-of-iraqs-problems/

[5] http://notthemsmdotcom.wordpress.com/2014/06/18/isis-an-expression-of-imperialism-in-iraq/

 

19/6/2014, Moon of Alabama
http://www.moonofalabama.org/2014/06/us-again-gunning-for-regime-change-in-iraq.html

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