Opinião: Circunstâncias

Murilo Badaró – Presidente da Academia Mineira de Letras

Dizia o velho Machado de Assis numa de suas memoráveis crônicas que sempre se deve trazer no bolso “sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocardos jurídicos, máximas” para a eventualidade de usá-los em discursos de sobremesas, felicitação ou agradecimento.

Digo eu, até mesmo nas crônicas semanais, em que muitas vezes fica faltando o assunto principal em meio a um amontoado de notícias espalhadas pelos modernos meios de comunicação.

Heródoto dizia que as circunstâncias governam os homens e não estes àquelas. Acompanhemos as difíceis circunstâncias em que se envolveu o presidente Lula quando autorizou o deputado Michel Temer a anunciar o nome do novo Ministro da Agricultura, submetido em seguida a uma saraivada de golpes irresistíveis pela imprensa. Ao presidente não restava alternativa senão aceitar a indicação partidária no seu afã de compor maioria sólida e confiável para o segundo mandato, obrigado, menos de quarenta e oito horas após, a fornecer os sinais de recusa, muito bem entendidos pelo anunciado.

A política é o reino das circunstâncias pondo e dispondo os rumos das condutas de seus personagens e atores principais. Sua história está prenhe de casos e episódios que o comprovam. A oposição brasileira está diante de circunstância definitiva para sua respeitabilidade política em face do pedido de comissão de inquérito para apurar o chamado “ apagão aéreo”.

Já houve parlamentares que a assinaram e logo após retiraram suas assinaturas por pressões palacianas. Alguns de primeiro mandato, o que irá se constituir numa mácula em suas vidas. Deputado de primeiro mandato não deve apor sua assinatura no primeiro papel que se lhe apresentam. Deve ter cuidados em seus passos na caminhada em terreno, via de regra, cheio de ciladas e insidiosos atalhos. Se assinou , e para garantir a fixação inicial de uma boa imagem, não deve retirar o apoiamento .

Partem os parlamentares oposicionistas para a obstrução dos trabalhos, arma poderosa nas mãos daqueles discordantes do governo, quando bem usada. Não pode ser apenas fogo de artifício, sob pena de significar o mesmo que a retirada da assinatura. Capanema dizia que o papel da oposição é criar dificuldades para o governo, tudo fazendo para prevalecer as idéias que julga mais úteis ao país.

Infelizmente, grande parte dos males políticos que o Brasil vem experimentando nos últimos anos decorre da ausência de oposição aguerrida e bem organizada, semelhante à que o PT fazia - e muito bem - mesmo motivado por razões ideológicas. Caindo nos desvãos do mais deslavado oportunismo, buscando cargos e benesses do poder no ziguezague das legendas, congressistas e partidos com assento no parlamento decaem da confiança, da estima e do respeito da opinião pública.

Como a legislatura está apenas no início, praza aos céus possam os legisladores desta safra promover o retorno do Congresso aos tempos de Krieger , Brossard, Capanema, Pedro Aleixo, Milton, Pinheiro Chagas e tantos outros que ilustraram as páginas de seus Anais. A semana foi pródiga com a divulgação da Carta Apostólica “ Sacramentum Caritatis ”, ricamente adornada com reflexões sobre temas palpitantes que freqüentaram os debates dos últimos Sínodos dos Bispos católicos.

A mim me agradaram muito as sugestões para o retorno do latim em trechos das missas e o canto gregoriano. Os latinos diziam que quem canta reza duas vezes ( qui cantat , bis ora) e a beleza ornamental do canto gregoriano, ocupando lugar de honra nas missas diárias e domingueiras, conduzirá o católico ou até mesmo o participante que o não seja a natural acréscimo na religiosidade pela majestade dos cânticos e o simbolismo do velho latim. Tudo induzindo a volta ao sagrado, facilitando o fortalecimento das relações da Igreja Católica com a complicada e rebelde sociedade moderna.

A ausência de palavras e orientações com relação à vasta temática dos dias modernos, e suas nocivas implicações, torna utilíssima a volta das velhas homilias que fizeram a glória dos oradores sacros de antanho, tendo como pano de fundo os acordes gloriosos do canto gregoriano que tanto penetrou no coração e nas almas da geração que o ouviu e praticou.

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