Opinião: Intolerância e diversidade

Que a intolerância tem feito escola mundo afora, não é novidade, mas insólito é o surgimento de neonazistas justamente em Israel.

O país está chocado com a revelação da polícia que foi desmontada uma gangue de neonazistas formada por cidadãos israelenses – imigrantes russos -, que exaltavam Adolf Hitler, atacavam judeus ortodoxos e se gabavam da "supremacia branca”. Os homens, netos de judeus, tinham se feito filmar fazendo saudações nazistas e executando ataques contra homossexuais, não-brancos e outros judeus.

Agressões a grupos étnicos, religiosos, imigrantes, homossexuais e quaisquer outros que alguém possa classificar como “diferentes” têm sido muito comuns. Em Moscou, existe a patrulha antigay, grupo formado por cristãos ortodoxos autodenominados “ georgiyevtsy', apoiados pelo prefeito da cidade, que age nos arredores da Praça Ilinsky, onde homossexuais costumam se reunir. Mas não só: imigrantes do Cáucaso também têm sido hostilizados em nome do nacionalismo, essa estupidez que alguns confundem com patriotismo.

Na Argentina, onde está a maior comunidade judaica do subcontinente americano, casos de anti-semitismo têm sido registrados às centenas, e a existência de grupos neonazistas é sobejamente conhecida.

Muitos outros exemplos atuais e precedentes históricos poderiam ser citados, mas o abominável exemplo do dirigente de uma cidade italiana é suficiente para mostrar o alastramento da intolerância à diversidade - que é própria da condição humana. O vice-prefeito de Treviso, recentemente, atreveu-se a propagandear a “limpeza étnica” contra os gays. Giancarlo Gentilini, conhecido por sua agressividade contra as minorias, cometeu crime de homofobia. Aonde irá parar uma nação que admite tais atitudes? Entre os protagonistas dos maus exemplos acima, o presidente da multinacional holandesa que ofendeu a população de um Estado no Nordeste brasileiro, e os pitboys que no Rio de Janeiro espancaram uma prostituta, há apenas uma diferença de grau.

A Igreja Católica também contribui com ações homofóbicas quando reprova o homossexualismo, porque influencia os que seguem seus preceitos, aliás, essa discriminação pode até ser uma atitude católica, mas jamais cristã, embora ela se proclame a única que representa a Igreja de Jesus Cristo e tente, o tempo todo, embora indiretamente, negar aos Estados o direito de se declararem laicos, condição básica para uma nação admitir a pluralidade religiosa, porque no momento em que se curvar a uma ou a outra religião, estará discriminando as demais.

É justamente no reconhecimento das diferenças que reside a essência do conceito de igualdade, que pressupõe a aceitação dos outros como eles são. Sem diversidade não há humanidade.

Talvez não seja exagero dizer que a maior parte dos problemas de relacionamento pessoal é fruto de as pessoas não reconhecerem as idiossincrasias das outras, e os consultórios dos psicólogos estão repletos de exemplos assim. Toda vez que uma ou várias pessoas se segregam em feudos, as chamadas “panelinhas”, por razões culturais, socioeconômicas, regionais ou o que mais seja, estão praticando, guardadas as proporções, uma forma de opressão que significa, em última análise, tirania, algo que todas em outras circunstâncias se apressariam a condenar.

Este é também o mecanismo do fisiologismo político, do legislar ou decidir em causa própria, da prerrogativa de foro, da prisão especial, do orwellianismo.

Cada vez que alguém endossa ou ignora um ato de discriminação está, no fundo, conspirando contra si mesmo, porque de uma forma ou de outra, em algum momento e lugar poderá ser considerado “diferente”; está, também, se desumanizando. E o que é ser diferente, se não assumir a própria identidade?

Luiz Leitão

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http://detudoblogue.blogspot.com

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