Charlie Hebdo - A praga que recai sobre o praguejador

"A simples ideia de que aqueles insultos não seriam insultos já é, nela mesma, preconceituosa e insultante, porque declara que uma cultura - a que santificou a liberdade de manifestação como direito absoluto - seria superior a todas as outras. Essa ideia liberal é indecente, obscena."

7/1/2015, Moon of Alabama - http://goo.gl/Va3AXK


12 pessoas, inclusive dois policiais, foram mortos na França, quando desconhecidos mascarados e armados atacaram hoje a redação de Charlie Hebdo, revista satírica.

Em Saana, Iêmen, morreram hoje cerca de 40 pessoas, num ataque à bomba contra uma fila de candidatos que esperavam para inscrever-se para um emprego na polícia. Esses 40 mortos e muitos feridos no ataque absolutamente não merecerão tantas manchetes e 'noticiário' quanto os mortos de Paris.

Vídeos (1, 2) do ataque em Paris mostram os atacantes vestidos em uniformes negros, e agindo como se tivessem, no mínimo, algum treinamento militar. Usaram armas automáticas e, segundo a polícia, um lançador de foguetes. Pelo menos dois dos atacantes continuam foragidos. Ainda não se conhecem os motivos dos atacantes, mas entendo que o que se lê abaixo é mais provável que a hipótese de um ataque sob falsa bandeira.

Em 2011, a revista Charlie Hebdo foi uma das que publicou caricaturas de Maomé, tentativa estúpida, insultante, de apresentar o Profeta e todos os muçulmanos como terroristas. Em 2012, a mesma revista continuou a campanha, e mostrou o Profeta sem roupas, como um gnomo em busca de atenção.

Diferente dos 'liberais' norte-americanos, a maior parte do mundo não entende que o direito à livre manifestação do pensamento seja direito absoluto. Assim como gritar "fogo" num teatro lotado, insultar a fé religiosa de outras pessoas também gera alta probabilidade de desgraça, em praticamente todo o mundo. 

A simples ideia de que aqueles insultos não seriam insultos já é, ela mesma, preconceituosa e insultante, porque declara que uma cultura - a que santificou a liberdade de manifestação como direito absoluto - seria superior a todas as outras. Essa ideia liberal é indecente, obscena.

Que a sátira de Charlie Hebdo tenha sido indecente e insultante não justifica o ataque e os assassinatos, mas explica uma possível motivação dos atacantes. É profundamente errado matar pessoas pelo que digam. Mas também é profundamente errado insultar crenças diferentes das de cada um de nós, mesmo que os insultos se façam em nome do culto (fanatizado?) à "liberdade de manifestação".

Supõe-se que os atacantes em Paris sejam militantes que se apresentam como muçulmanos que lutam pela própria fé. O estado francês - governado, ao que parece, agora, pelos presidentes Sarkozy e Hollande - armou e treinou e apoiou outros atacantes, sob os mesmos pretextos, em ataques contra o povo e o governo da Líbia e da Síria. 

Na Síria, combatentes jihadistas do Estado Islâmico e da Frente al-Nusra estão usando mísseis antitanques fornecidos a eles pelos EUA. Um  regimento alemão de defesa aérea está protegendo hoje os acampamentos daqueles jihadistas na Turquia, preservando-os contra avanços do governo sírio. 

Ao mesmo tempo em que apoia jihadistas na Síria, a França agora está deslocando um porta-aviões para o Golfo Persa para atacar o Estado Islâmico no Iraque. Aí, sim, pode estar o real motivo do ataque em Paris.

Os fundamentalistas foram saudados como heróis por políticos 'ocidentais' quando atacaram civis em Tripoli e em Aleppo. Quando atacam em países 'aliados' dos 'interesses ocidentais' ou dentro de países 'ocidentais', os mesmos ataques e atacantes são vistos como hostis e usados para justificar mais um passo na direção da extrema direita, da guerra ou de governos cada vez mais totalitários.

A menos que se levantem para lutar por políticas menos enlouquecidas, menos agressivas, os cidadãos comuns, que ficam no meio do fogo cruzado, sempre serão os que mais perdem nessa guerra. ******

 

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