Renato Janine Ribeiro: Chega de ter dó de pobre que vota em rico

 

Renato Janine Ribeiro: Chega de ter dó de pobre que vota em rico
by bloglimpinhoecheiroso
 
Bairro do Jaraguá: 46,73% votaram em Dória e 15,08% em Haddad.
Renato Janine Ribeiro, lido no Esquerda Caviar em 3/10/2016
Bem, vai lá uma pergunta bem difícil.
Durante 12 anos, os dois mandatos de Lula e Dilma um, o PT fez uma série de políticas que beneficiaram – muito – os mais pobres. Mas bastou a grana faltar e os mais pobres se mandaram.
Votaram em massa no Dória. Claro que podemos dizer que a mídia perversa, o preconceito etc. etc.
O problema de dizer isso é que é muito condescendente, quase paternalismo: é dizer que os pobres são manipulados fácil fácil, que precisam ser orientados.
[Tipo o Lula subir num caminhão e dar a volta na periferia avisando que Marta saiu do PT. Ora, os pobres não sabem disso? Precisa alguém dizer para eles?]
A outra interpretação é: eles realmente não estão ligando. Parou a grana, eles mudaram de lado.
Esta interpretação tem uma vantagem: trata-os como adultos. Respeita o voto deles como uma decisão consciente.
E pára de ter pena deles.
Para mim, é difícil escolher uma destas interpretações. Sei das deficiências enormes de formação – e educação – inclusive cultura política – de nosso povo.
Mas não gosto de ter pena de gente maior, vacinada etc. Penso que têm de ter responsabilidade por suas escolhas.
Renato Janine Ribeiro é um professor de Filosofia e foi ministro da Educação do Brasil, entre abril e setembro de 2015.
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Comentário de Milton, no Esquerda Caviar
Interessante, eu estava com um pensamento similar, não exatamente nesta linha, mas similar.
O fato é, se o povo votou assim, paciência. Votei no Haddad por achar uma opção mais moderna e democrática, fui voto vencido, mas não sou pobre, então serei pouco (ou nada) prejudicado pela linha política do Dória.
Enfim, voto, como gosto, não se discute, no máximo se lamenta.
Agora, se o povo mais pobre quer se ferrar, problema dele. A esquerda quer porque quer guiar os pobres, mas e eles querem ser guiados? Quando vejo pessoal da periferia se achando o máximo porque anda de Palio 1995 rebaixado com som arrebentando os tímpanos, vejo que falta muito para o povo ter um mínimo de consciência de classe.
Mas pobres à parte, infelizmente o sonho do Brasil acabou, e estamos apenas vendo a realidade exposta. Boa parte da classe média assumiu uma teologia pentecostal no estilo norte-americano, com uma bíblia em uma mão e uma arma na outra.
Outros mais velhacos seguem a lei do Gerson, surfando na hipocrisia do combate à corrupção, mas sempre a corrupção dos outros. São os clássicos comentaristas do “Lula na cadeia kkkkk”, “chora ptzada” etc., que admitem que eles próprios são pilantras, mas são pilantras “do lado certo”. Do tipo “Cunha é corrupto, mas está do nosso lado”. E os ricos apenas rindo dos anteriores, no maior estilo “obrigado pelo apoio, trouxas”.
Enfim, o que esperar deste país? Uma presidente deposta por crime sem ter cometido crimes e um vice-presidente cheio de crimes empossado no lugar.
Eu não espero mais nada.
Respeito quem acredita na militância. Mas acho que anos negros virão. De certa forma, estou agradecendo já não ser tão jovem, porque o Brasil dos próximos anos vai ser um país ainda mais perverso.
Como disse, eu não espero mais nada.

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