A FRACA ARGUMENTAÇÃO AMERICANA SOBRE O PROBLEMA IRAQUIANO

O actual chefe da Casa Branca afirma, por exemplo, que se a força militar é capaz de destruir os arsenais iraquianos das armas de extermínio em massa que, segundo a sua expressão, «constituem uma ameaça para todo o mundo». Pode-se aqui fazer uma ressalva: muitos políticos norte-americanos - inclusive o ex-Presidente dos EUA Bill Clinton - reconhecem que as sete mil inspecções em mais de 700 instalações iraquianas efectuadas até ao ano de 1998 permitiram localizar e destruir mais arsenais iraquianos do que quando da operação «Tempestade no Deserto» em 1991. E agora nada impede os peritos da ONU de o voltar a fazer, dado o recente consentimento do Iraque em retomar a inspecção a partir de 15 de Outubro.

Parece também artificial o postulado da administração Bush, segundo o qual Bagdad continuaria a sustentar a organização «Al-Qaeda» e o terrorismo internacional. Digo artificial, porque a despeito do ódio que Saddam Hussein tem em relação aos norte-americanos, o seu regime nacionalista de esquerda nunca experimentou simpatias em relação aos fundamentalistas islâmicos. Para dizer mais, desde os tempos da guerra entre o Iraque e o Irão, no período de 1981 a 1988 este regime combateu os fundamentalistas que atentavam contra a integridade do Iraque utilizando o chamado «factor xiita». Diga-se de passagem que, em contraste com alguns países árabes da região do Golfo Pérsico, o Iraque nunca se envolveu no financiamento ou patrocínio dos terroristas chechenos.

Pode-se inferir dado que os objectivos verdadeiros dos Estados Unidos em relação ao Iraque são outros. Entre eles contam-se, evidentemente, o controlo sobre as reservas petrolíferas do Golfo Pérsico e, consequentemente, a redução dos preços ao petróleo com vista a prevenir o colapso da economia norte-americana e uma crise estrutural. Depois do «episódio com a Jugoslávia», outro incentivo para os Estados Unidos parece ser a impunidade no derrubamento dos regimes indesejáveis através de uma intervenção militar directa. E por último, para melhorar a sua imagem política na arena norte-americana, o Presidente George Bush está decidido, pessoalmente, a colher dividendos políticos a todo o preço.

Seja como for, a análise da actual situação testemunha que, não obstante o espírito agressivo em relação ao Iraque, os Estados Unidos não estão preparados para iniciar uma operação hostil contra este país por não terem resolvido algumas tarefas importantes de caracter político-militar. Por exemplo, não têm forças e meios suficientes para desenvolver um cenário que prevê a integração de forças militares em acções nas cidades iraquianas densamente povoadas e nas regiões petrolíferas do Sul e do Sudoeste do país. Apresenta-se também nebulosa a composição do futuro governo iraquiano. É impossível contar com as forças de oposição, mergulhadas na corrupção e distantes do país, vivendo prosperamente na emigração, no estrangeiro, e sem apoio nenhum entre a população iraquiana - ou seja no seu país.

A situação será ainda pior no que respeita ao apoio e а solidariedade para com as iniciativas de George Bush por parte dos aliados americanos da NATO. Pior ainda: os Estados Unidos não poderão criar nenhuma oposição anti-iraquiana entre os países árabes, ao contrário da época da guerra do Golfo, quando tinham ao seu lado os influentes emirados árabes. Desde então, tais países como o Egipto e a Síria restabeleceram relações próximas com Bagdad e não querem perdê-las para agradar os EUA.

Nesta conjuntura, novos abalos no Golfo Pérsico são contrários aos interesses nacionais da Rússia. Para ela são economicamente prejudiciais as oscilações bruscas no mercado mundial do petróleo, tanto para baixo como para cima. Tampouco convém a Moscovo o colapso dos contratos de largos bilhões de dólares que as companhias russas realizaram com o Iraque, assim como a impossibilidade de este país devolver as dúvidas, calculadas entre 7 ou 8 bilhões de dólares.

Para a Rússia, a posse de armas de extermínio em massa pelo Iraque й um problema que pode ser perfeitamente resolvido através das inspecções e monitoramento da ONU. Dum modo geral, Moscou desejaria fechar «o dossier iraquiano» para não prejudicar o saneamento da situação internacional que se iniciou com o fim da «guerra-fria», assim como as respostas colectivas a novos desafios, ainda piores, do mundo contemporâneo. Por este prisma, a Rússia no vê nada de racional nas tentativas de Washington de aplicar em relação a Bagdad um «golpe preventivo», argumentado com as pretensões norte-americanas a ser única super potência num mundo unipolar.

por Serguei Markov, Director do Instituto de Pesquisas Políticas, Coordenador do Clube «Debates Civis»

© RIAN

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