Posição da Federação Russa sobre o Afeganistão

Numa entrevista com RIA Novosti, Vyacheslav Trubnikov, Vice-Ministro de Negócios Estrangeiros da federação Russa, disse que “Hoje em Afeganistão os Talebã estão a reagrupar-se activamente. Os sinais disso estão cada vez mais frequentes, com ataques contra as forças internacionais”.

Há um número cada vez mais crescente de perdas entre estas forças, com numerosos ataques com armas de fogo ou com foguetes. As forças russas sabem melhor que ninguém que é fácil ganhar a guerra no Afeganistão mas impossível de ganhar a paz.

A Rússia considera que os Talebã continuam a constituir uma ameaça quer dentro, quer fora, das fronteiras com o Afeganistão e que a pressão internacional deveria ser constante militar e politicamente.

Vyacheslav Trubnikov considerou na mesma entrevista que “o sucesso das operações em Afeganistão pela coligação contra terrorismo ainda não foi muito”. Informações de fontes no Afeganistão pintam um quadro idêntico ao cenário quando as tropas soviéticas estavam no país, ao pedido do governo de Dr. Najibullah, cujo governo progressivo estava a ser alvo de ataques terroristas pelas Mujaheddin, financiados, equipados e treinados por Osama Bin Laden e o CIA.

Os Talebã e os elementos da Al-Qaeda adaptaram-se plenamente ás condições impostas sobre eles, vivendo nas montanhas e fazendo uma guerra de guerrilha, sabendo tirar vantagem dos erros cometidos pelos comandantes de campo das tropas estrangeiras. A situação é especialmente perigosa nas zonas do sul e sudoeste do país, vizinhas a Paquistão.

Quanto à situação regional, a Rússia nota um certo nervosismo pela parte de Paquistão, que tradicionalmente tem desempenhado um papel importante em Afeganistão, tendo sido um dos três estados que reconhecia o regime dos Talebã. Paquistão tem estabelecido bases militares ao longo da Linha Durand, que a separa do Afeganistão, linha esta que nunca foi aceite por Kabul.

No entanto, as relações entre o Afeganistão e Índia estão cada vez melhores, com um espírito de franca colaboração entre os países e um papel pro-activo pela Índia na área de investimento. Certos grupos de pressão no Paquistão querem envolver o Afeganistão nas suas relações com a Índia e esta aproximação está a ser vista com suspeição em Islamabad.

Quanto à organização interna no Afeganistão, a Rússia apoia incondicionalmente o governo de Hamid Karzai mas teme a tendência dentro deste governo de se dividir entre os líderes da antiga Aliança do Norte – Pandsher – e os outros, oriundos do estrangeiro ou dos Pashtun.

Este governo foi escolhido pela sua diversidade étnica, representando os muitos povos que fazem de Afeganistão um país. No entanto, esta visão, seguida pelos americanos, que gostam de instalar uma Pax Americana em todo o canto do mundo, cria problemas: seguindo o balanço étnico do Afeganistão, teria de haver uma representação proporcional, dando aos Pashtun a maioria entre as partes (são 40% da população) e a lei dos Talebã era em parte uma leitura particular e especial do Al-Corão feita por Mullah Momammad Omar e os seus seguidores e em parte, costumes dos Pashtun.

Mais uma vez, os EUA mexeu numa área que não deveria ter tocado. A Rússia aprendeu a lição há 15 anos e agiu de acordo...os EUA se envolveu neste país e agora há que sair quando puder, o mais rapidamente possível.

Se os EUA não tivessem começado o desastre que é o Afeganistão, estimulando os Mujaheddin, que depois se transformaram em Talebã, contra as forças armadas russas, Afeganistão hoje seria um país progressiva, democrática e desenvolvida, de acordo com as linhas-guia do governo do Dr. Najibullah nos anos 1980.

Olga SELYANINA PRAVDA.Ru

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