CRISE NA GEÓRGIA: QUEM SUCEDERÁ A CHEVARDNADZE?

Com efeito, um dia antes da tomada desta decisão forçada o Chefe de Estado da Geórgia insistiu em que nunca se demitiria. Contudo, o agravamento da crise até ao extremo e um grande risco do derramamento de sangue fizeram com que Chevardnadze cedesse. Tudo indica que este estadista de 75 anos de idade já abandonou, desta vez para sempre, o palco político.

Eduard Chevardnadze chegou ao poder na Geórgia em 1972 na qualidade de primeiro secretário do Comité Central do Partido Comunista desta república soviética, desempenhando estas funções até 1985. Nesse ano, Mikhail Gorbatchev, que acabou de assumir o cargo máximo na União Soviética, convidou Chevardnadze a trabalhar como ministro dos Negócios Estrangeiros no seu Governo. Foi nessa qualidade que Chevardnadze passou a ser o braço direito do líder soviética na sua política da "perestroika". Em 1991, demitiu-se voluntariamente do cargo de chefe da diplomacia soviética, ficando à sombra durante algum tempo. Chevardnadze voltou à cena política em 1992, logo após o derrubamento e o assassínio do primeiro Presidente da Geórgia independente, Zviad Gamsakhurdia. Regressou a Tbilissi para encabeçar o Conselho de Estado que assumiu o poder no país depois da morte de Gamsakhurdia. Chevardnadze ganhou as eleições presidenciais realizadas a 5 de Novembro de 1995, tendo sido reeleito para o segundo mandato consecutivo cinco anos mais tarde.

Os anos de presidência de Chevardnadze coincidiram com um período muito difícil para a Geórgia. Mais ainda: o Presidente não conseguiu arrancar o país duma grave crise económica nem assegurar a estabilidade política e a integridade territorial da Geórgia. O país, antigamente composto por três regiões autónomas, desintegrou-se. A República da Abkházia já adquiriu uma independência de facto, enquanto a situação na Ossétia do Sul e na Adjária, tradicionalmente leal a Chevardnadze, está fora do controlo de Tbilissi.

A sua política externa também foi um fiasco. Nos anos noventa, o Presidente georgiano que fez a carreia exclusivamente graças ao apoio do Kremlin optou por uma política anti-russa. Fez vista grossa à presença de bandos de separatistas chechenos no território da Geórgia, os quais, a partir deste país, através da fronteira russo-georgiana, têm feito incursões armadas no território da Chechénia. Além disto, decidiu aproximar-se com o Ocidente tentando conseguir o apoio dos EUA e aderir à NATO. Em resultado destas manobras, Chevardnadze perdeu a amizade de Moscovo sem consegui-la por parte de Washington que, em última análise, apoiou a oposição, que acusou Chevardnadze da falsificação dos resultados das eleições.

Agora, a oposição liderada pela presidente do Parlamento e líder do bloco "Burdjanadze-democratas", Nino Burdjanadze, pelo antigo presidente do Parlamento, Zurab Jvania, pelo líder do partido "Movimento Nacional", Mikhail Saakachvili, chegou ao poder. Nino Burdjanadze já assumiu as funções de Chefe de Estado. No entanto, a vitória da oposição não significa que a crise política já está ultrapassada. Uma vez unida contra um inimigo comum, na pessoa de Chevardnadze, os partidos de oposição poderão, brevemente, entrar em confronto entre eles, tanto mais que os interesses e os objectivos dos grupos que representam sejam bem diferentes. O exemplo da Arménia é disto uma prova convincente. Nos princípios dos anos noventa, subiu ao poder neste país o Movimento Nacional Arménio liderado pelo futuro Presidente, Levon Ter-Petrossian, e os seus dois correligionários mais próximos, Khatchik Stamboltsian e Vazguen Manukian. Passado pouco tempo, os três amigos zangaram-se transformando-se em inimigos declarados. Não é de excluir que este cenário se repita na Geórgia. Em todo o caso, a situação só pode ser normalizada depois da convocação de novas eleições parlamentares e, logo a seguir, presidenciais.

Neste momento, nenhum dos líderes da oposição georgiana goza de apoio e prestígio incondicionais para poder aspirar à presidência. Por mais imperfeito que seja, Chevardnadze acumulou uma enorme experiência de trabalho nos mais altos cargos de poder tanto no período soviético, como depois da independência. Além disto goza de algum prestígio internacional e é considerado um dirigente previsível. Os líderes da oposição não têm nenhuma experiência de administração pública, sendo apenas "políticos da rua" capazes de agitar até ao extremo a multidão. Estas qualidades, aliás, são pouco válidas para governar um país.

Os recentes acontecimentos na Geórgia irão aumentar, sem dúvida, a desconfiança da Adjária, Abkházia e Ossétia do Sul dado que, nos comícios de rua organizados em Tbilissi pela oposição , fizeram-se ouvir duras críticas de Chevardnadze de não ter conseguido proteger a integridade territorial da Geórgia. Estas declarações nacionalistas podem empurrar o país para uma guerra civil. Não é por acaso que o líder da Adjária, Aslan Abachidze, já anunciou que irá fechar provisoriamente as fronteiras desta região autónoma.

A Rússia preocupa-se com a situação na Geórgia, o que foi confirmado pela recente visita-relâmpago a Tbilissi do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Igor Ivanov, que se avistou com Chevardnadze e os líderes da oposição. O Kremlin está interessado na estabilidade na Geórgia e diz-se disposto a ajudar Tbilissi no sentido de impedir a deflagração duma guerra civil na Geórgia e de ajudar a manter a integridade deste país.

Valeri Asrian © RIAN

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