Palavras de Rodrigo Londoño em reunião com o Ministro do Interior

Palavras de Rodrigo Londoño em reunião com o Ministro do Interior

Escrito por Rodrigo Londoño Echeverry / Timo

"A Força do Comum crê na reconciliação nacional, no entendimento civilizado, na tolerância e no respeito à diferença. Não compartimos e por isso condenamos qualquer ação violenta contra qualquer candidato, dirigente, partido, movimento ou organização política. Estamos contra qualquer tipo de discriminação"


Recebam todos os presentes, em especial você, senhor ministro Guillermo Rivera Flórez, o abraço patriótico e esperançoso de nosso partido Força Alternativa Revolucionária do Comum.

Acorremos ante o alto governo, uma vez mais, como consequência das difíceis condições nas quais se acha o pleno exercício de nossos direitos políticos, garantia fundamental pactuada nos Acordos de Havana, e coluna mais que necessária para a construção de uma nação verdadeiramente democrática, propósito que estimulou as duas partes na Mesa de Conversações.

Se algum mérito houvesse de ser-me reconhecido um dia com relação à firma do Acordo Final, e em geral com relação a todo este assunto da paz para nosso país, quisera que fora o de registrar que sempre permaneci otimista em meio às enormes dificuldades e obstáculos que rodearam desde um começo os diálogos com o governo nacional.

Ainda firmados os Acordos e iniciada a implementação, foram aparecendo uma após outra nuvens tempestuosas no horizonte e fatos repetidos, que nos foram indicando que havia incrustados dentro do Estado personagens e até instituições muito pouco interessadas em que o cumprimento do acordado se materializasse em atos legislativos, leis, decretos e realidades.

Apesar disso, nem uma só vez minha voz se levantou em público ou em reuniões privadas para levar pessimismo ou desalento aos nossos e ao povo da Colômbia. Fui um convicto de que o pactuado pode se converter em realidade e não me cansei de convidar a nossa militância e ao resto dos colombianos a que nos acompanhem sem desfalecer neste empenho.

Por isso, contra advertências e vozes pregadoras do desastre, tenho sido um defensor incansável das possibilidades que se abrem para nós e para os excluídos da Colômbia. Apoiei a composição de listas nossas ao Congresso da República e aceite a nomeação de meu nome à candidatura presidencial. Em tudo isso, hei de reconhecer, jogaram um papel determinante as posturas do governo nacional ao nos oferecer o máximo de garantias. 

No entanto, e ainda que meu ânimo não decaia, me vejo sim obrigado a manifestar que o grau de nossas preocupações chegou a tal nível de me fazer pensar se atuei com demasiada boa-fé neste processo. É um fato público que nos vimos obrigados a suspender o proselitismo aberto de nossa campanha, ante a onda de ações violentas que se tem levado a cabo por parte de personalidades da extrema-direita. Nunca acreditamos que isso sucedesse.

Durante muitíssimos anos se nos repetiu por distintos governos, particularmente pelo do doutor Uribe, que as instituições colombianas nos convidavam a deixar as armas e pôr fim ao conflito, em troca de nos permitir a participação aberta em política. A trocar as balas pelos votos, se nos disse mil vezes. Acreditamos no Estado que o garantiu firmando um Acordo no qual se nos cercou de garantias. Que, ademais, não eram só para nós, senão que para todos os excluídos.

Acreditamos na possibilidade de construir um país diferente, a firma do senhor presidente foi nosso objeto de garantia. Vários meios de comunicação se empenham em se somar à discriminação contra nós, desconhecendo o caráter mancomunado e violento das manifestações de ódio convocadas pelas redes sociais contra nós. Se intenta fazer crer ao país que, como fomos semeadores de ventos, agora nos corresponde colher tempestades.

Temos sido protagonistas e consequentemente testemunhas de primeira linha do modo como se apresentam a nossos atos políticos abertos indivíduos vestidos de camisa negra ou inclusive vestindo camisetas de partidos que nos combatem, com a única intenção de lançar todo tipo de impropérios, incitando os transeuntes a exercerem a violência e terminando por lançar toda classe de objetos contundentes contra os lugares e as pessoas presentes.

São vários os feridos, os veículos da Unidade Nacional de Proteção seriamente afetados, assim como os recintos destruídos pelos violentos. Não deixa de nos causar surpresa a passividade que temos observado por parte da força policial presente, como sucedeu em Quimbaya e Yumbo. Não pedimos senão respeito a nossos direitos políticos. Conhecemos que a legislação penal prevê sanções sérias para os responsáveis por esse tipo de condutas.

Porém é que não se trata só dos que pelas redes sociais incitam a nosso linchamento. É que já somam quase meia centena de guerrilheiros reincorporados assassinados por sicários em diferentes lugares do país. 

Um fato vergonhoso para um Estado que ofereceu todo tipo de garantias e que se encobre com os mais diversos pretextos, em meio à uma onda criminal que soma mais de duzentos dirigentes sociais e populares covardemente vitimizados desde a firma dos Acordos de Paz. Se nos pede crer enquanto o sangue inunda a terra pátria.

E isso enquanto permanecem nos cárceres do país várias centenas de ex-guerrilheiros beneficiados por anistias e decretos que ordenam sua liberdade, porém que não a conseguem ante a posição absurda de juízes da república, que não têm recebido sequer a menor advertência da Procuradoria Geral da Nação. 

Temos expressado nossas preocupações e inquietudes pela forma tão paquidérmica como se cumpre o processo de implementação dos Acordos de Havana. Me tornaria supremamente extenso se voltasse a me referir a cada um dos entraves. Você os conhece bem, senhor ministro. As contraditórias sentenças da Corte que deformaram a JEP, as normas emitidas pelo Congresso variando o acordado, assim como as que pereceram em seu trâmite por falta de vontade política. Tudo isso não deixa de ser uma repetida violação à palavra empenhada pelo Estado.

Desperta hilaridade a argumentação esgrimida, por exemplo, para não entregarmos materialmente os recursos necessários para a existência real de nosso partido e a realização da campanha. Nos sentimos como aquele coronel de quem escrevia García Márquez, esperando a carta em que se nos diga que podemos nos acercar para retirar os fundos prometidos. Sempre aparece o funcionário que se ocupa de impedir o giro oportuno, apesar das determinações superiores.

Já começa a se repetir demasiadas vezes que existe hoje uma situação semelhante à vivida nos anos oitenta e noventa com o genocídio da União Patriótica. Os crimes de Jaime Pardo Leal, Bernardo Jaramillo, Teófilo Forero, Carlos Pizarro e demais foram todos anunciados e esperados com expectativa pelo país. Governos como o do doutor Barco também negaram a existência do paramilitarismo e de planos criminais. Que não vá Colômbia a repeti-lo.

O simples fato de que esta recordação esteja tomando o pensamento de muitíssimos colombianos, que começam a se decepcionar e a esperar o pior para nossa nação, deve ser indicativo do grau a que chegam as preocupações pelo processo de paz em curso. Vivemos uma crise muito aguda, talvez a mais grave desde seu começo. É necessário que as forças que conquistamos o Acordo de Paz concitemos o respaldo dos democratas, da gente de bem em nosso país, dos que não estão pela guerra e pelos ódios, dos que não aceitam que o caminho seja o da violência, para salvar o processo e tornar realidade as possibilidades de uma nova Colômbia.

Por isso acorremos aqui, como já estivemos com a Missão de Monitoramento das Nações Unidas e os representantes dos países garantidores; e como acorreremos a todos os setores, personalidades e organizações que seja necessário, para obter do governo nacional o apoio a uma convocatória de todos os partidos, forças, movimentos e organizações políticas, sociais, religiosas, femininas e demais, para convergir num grande pacto nacional contra a violência na campanha política e na vida política nacional. Cremos ainda que os Acordos podem ser salvos, queremos ver uma atitude firme nesse sentido por parte do governo que lutou tantos anos para consegui-los.

A Força do Comum crê na reconciliação nacional, no entendimento civilizado, na tolerância e no respeito à diferença. Não compartimos e por isso condenamos qualquer ação violenta contra qualquer candidato, dirigente, partido, movimento ou organização política. Estamos contra qualquer tipo de discriminação. 

A Constituição colombiana e as leis o estabelecem assim, por isso consideramos que o governo nacional deve implementar os esforços que considere necessários para evitar que os pregadores do ódio devolvam a nosso país sessenta ou mais anos atrás ao banho de sangue do qual podemos sair definitivamente se nos o propomos agora com seriedade. A história nos reconhecerá.

Salvado este momento, também desejamos fazer um chamado ao governo do presidente Santos a acelerar a fundo a implementação do acordado em Havana. Disso depende o futuro da nação colombiana. 

 

Os últimos meses de uma administração de oito anos, nos quais a paz foi preocupação constante, não podem transcorrer como um triste capítulo da impotência ou da resignação. São muitas as ações que podem ser cumpridas se a vontade o deseja. Disso viemos a conversar, senhor ministro, esperamos soluções satisfatórias. Ninguém poderá nunca acusar as FARC de não terem cumprido sua palavra. Oxalá ocorra igual com vocês.

 

Bogotá, 16 de fevereiro de 2018.

 

Tradução > Joaquim Lisboa Neto

 

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