Berlim, o estranho filme de Gianfranco Rosi

Berlim, o estranho filme de Gianfranco Rosi

Ninguém se esquece que Gianfranco Rosi ganhou o Leão de Ouro de Veneza, há três anos, com Sacro Gra, o primeiro documentário a ganhar esse prêmio. Mas seu filme na competição internacional do Festival de Berlim é estranho. 

Filmado em Lampedusa, cidade italiana que se tornou conhecida por ali chegarem milhares de imigrantes africanos, em barcos vindos da Líbia, Fuocoammare parece conter dois documentários : um principal mostrando a tragédia humana dessa imigração e outro com o menino Samuel fabricando ou usando seu estilingue ou num barco, mais um anônimo pescador mergulhador.


O problema para quem vê Fuocoammare é a sensação senão a certeza de haver uma heterogeneidade entre os imigrantes, o menino e o pescador de Lampedusa. Rosi, diante das perguntas de críticos um tanto surpresos, não se sentiu constrangido e explicou ter usado o menino Samuel e o mergulhador para mostrar como prosseguia a rotina normal na cidade de Lampedusa. A explicação pode ser bene trovata, mas não convence, mesmo porque tanto Samuel como o mergulhador não têm sequer um único ponto de contato com os imigrantes.

Um outro fator trabalhou contra o filme de Gianfranco Rosi, foi a atualidade. Enquanto Rosi montava seu filme com migrantes, na maioria jovens da África subsaariana, em busca de uma vida melhor na Europa, tragédias ainda maiores começaram a ser cotidianas, no trajeto das costas turcas para as costas gregas, de famílias inteiras afogadas no naufrágio de precários barcos pneumáticos. Mulheres, homens e crianças fugindo da guerra na Síria e de outras regiões instáveis do Oriente Médio, em busca de refúgio na Europa.

Rui Martins está em Berlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.

 

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