Palavras do Comandante Timoleón Jiménez na instalação da Décima Conferência Nacional Guerrilheira

Palavras do Comandante Timoleón Jiménez na instalação da Décima Conferência Nacional Guerrilheira

Camaradas:

Nos encontramos reunidos aqui, após cinquenta e dois anos contínuos de confrontação política e militar com o Estado colombiano, com o propósito de realizar nossa Décima Conferência Nacional, máximo evento democrático contemplado em nossos Estatutos. Ademais do Estado-Maior Central e seu Secretariado, estão aqui presentes os delegados e as delegadas eleit@s por votação nas Assembleias de Guerrilheiros cumpridas em cada em cada Frente, Coluna, Companhia e Guerrilha. Uma representação a mais ampla possível de todos os guerrilheiros e guerrilheiras das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo.
 
Contrariamente a como apregoam nossos contraditores e críticos gratuitos, as FARC-EP nos encontramos muito longe de ser uma organização de exclusiva natureza militar, regida pelos caprichosos critérios de um corpo de mandos ambiciosos. Se algo nos caracterizou desde nosso mesmo nascimento, é precisamente nossa natureza rigorosamente política, fundada na mais ampla democracia, com uns lineamentos políticos, militares e culturais tecidos pelo conjunto de seus integrantes desde suas primeiras conferências nacionais. Foram estas as encarregadas de designar, mediante o voto de todos os seus participantes, aos membros de sua direção nacional, mandatado assim pelo coletivo para se encarregarem da execução das linhas traçadas por ele, e para responder por seu desempenho ante a seguinte Conferência.

Vocês podem dar fé da existência das células partidárias, onde os integrantes de cada esquadra ou unidade básica gozam de plena liberdade, para mostrar os defeitos e erros tanto de seu corpo de mandos como de todos os seus militantes, em reuniões semanais ou quinzenais, e nas quais os comandantes de todos os escalões estão obrigados a participar, sem direito a ocupar cargos de representação, que de algum modo pudessem constranger a expressão livre do coletivo.

Também podem predicar a contínua prática de balanços, nos quais as guerrilheiras e os guerrilheiros gozam do pleno direito para expressar sua opinião em relação às tarefas ou missões objeto de análise. E da realização das Assembleias de cada unidade, pelo menos uma vez ao ano, nas quais o coletivo reunido analisa e debate o trabalho cumprido por mandos e combatentes de base, no curso do período submetido a análise.

Sem sombra de dúvidas, foi essa contínua prática democrática a que nos permitiu permanecer coesos e ferreamente unidos, ante os enormes desafios de natureza militar e política que nos tocou enfrentar ao longo destas cinco décadas. Graças a ela saímos sempre adiante, convictos de que nossas decisões e atuações não são o produto de nenhum gênio individual mas sim o amadurecimento de um pensamento coletivo cuidadosamente construído com a colaboração de todos. E é por isso que na execução do conjunto de nossas políticas os combatentes das FARC-EP temos atuado com o entusiasmo de quem se sabe comprometido por uma causa comum, entregando o melhor de si com a convicção plena de estar fazendo o justo.

Aqueles que desconhecem essa natureza das FARC não podem se explicar como os 48 campesinos marquetalianos passaram a se converter nas/nos milhares de mulheres e homens, que compõem a formidável organização que chegamos a ser após várias décadas de luta, e portanto buscam explicar esse prodigioso fato histórico lançando mão das mais aventureiras teorias, encaminhadas sempre a desconhecer a poderosa força criadora da consciência e da organização popular. Um povo unido e organizado devidamente constitui uma força invencível.

As FARC não só resistimos à mais longa e violenta investida empreendida pelo poder imperial e seus aliados do capital nacional e do latifúndio, contra um exército guerrilheiro e um povo declarado em rebeldia, como também conseguimos nos sentar à mesa de conversações com eles, e levar avante um Acordo Final de Terminação do Conflito, com o que fica definitivamente claro que nesta guerra não existem vencedores nem vencidos, ao tempo em que nossos adversários se veem obrigados a reconhecer nosso direito pleno ao exercício político, com as mais amplas garantias. Para nós é claro como e por que o conseguimos. E queremos que aqueles que ainda têm dúvidas sobre nossa luta se aproximem e reconheçam a vontade que nos assiste de entregar todas as energias pelo novo país com que a maioria de colombianos e colombianas sonham.  
 
Vocês sabem bem, e estão em condições de expô-lo com a consciência limpa ante a imprensa nacional e estrangeira aqui presente, ou em qualquer outro cenário, que as FARC-EP sempre pregamos o respeito à população civil, a seus interesses e bens, acima de qualquer circunstância. Que essa população, a qual conhecemos com o nome de massas, tem sido portanto nosso suporte fundamental ao longo de todos estes anos. Em nossa experiência repousam milhares e milhares de exemplos nos quais famílias campesinas, indígenas, negras ou de condição humilde do campo e da cidade nos brindaram apoio incondicional e protegido nossa força e a seus integrantes de múltiplas maneiras, ainda sob o risco de sua própria vida ou liberdade, ameaçadas permanentemente pela fúria das forças estatais ou paramilitares. Sabemos que no coração e na mente da gente simples e honesta que nos conhece em pessoa, e que trata diariamente conosco, aninha uma verdade completamente diferente da apregoada pelos meios de comunicação que estão a serviço da oligarquia.

A Paz reclama que o poder midiático não continue se utilizando como um instrumento mais da guerra. Façamos de seu potencial e eficácia uma ferramenta para a reconciliação entre as colombianas e os colombianos. Há com efeito outra Colômbia, outro acumulado de histórias e verdades que esperam sua oportunidade. Aqui estamos nos preparando para isso, com o afeto e a solidariedade de muita gente de nosso país e de todo o mundo. Nossa mais profunda aspiração é chegar com nossa mensagem a muito mais, até conseguir que a torrente pelas grandes transformações se torne irreprimível. 

O significado do Acordo Final para a Terminação do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura é ainda mais importante do que parece à primeira vista. Se nossos adversários querem apregoar que ganharam a guerra, lá eles. Para as FARC-EP e nosso povo, a maior satisfação será sempre haver ganhado a paz.

Certamente que desta Conferência Nacional haverão de surgir múltiplas conclusões distintas a seu objetivo primordial. Uma delas deverá ser o eterno agradecimento aos povos e aos governos de Cuba e da Noruega, que como países garantidores fizeram até o impossível para conseguir com que este difícil processo chegasse a feliz culminância. De igual modo aos de Venezuela e Chile, que acompanharam as duas partes em todos os momentos em que o requereu a materialização do objetivo final das conversações.

Especial homenagem teremos que render à memória e à abnegação desse titã dos povos de Nossa América, o Presidente Eterno Hugo Rafael Chávez Frías, sem cujo apoio e impulso inicial nada do alcançado teria sido possível. Não há dúvida de que Bolívar e ele ainda têm muito o que fazer na América Latina. E, ao mesmo tempo que a Chávez, haverá que homenagear a todas e cada uma das organizações e personalidades, homens e mulheres, que de maneira admirável levantaram durante anos as bandeiras da solução política, nos mais variados cenários e eventos, arrastando atrás de si a crescentes multidões, que conseguiram posicionar no imaginário colombiano a necessidade de um acordo final de paz.

O Estado-Maior Central e seu Secretariado convocamos esta Conferência Nacional em cumprimento ao disposto pelo Plenário Ampliado do Estado-Maior Central celebrado em março do ano passado, o qual avaliou todos os acordos firmados até então por nossa Delegação de Paz na Mesa de Conversações de Havana, ao tempo em que facultou ao Estado-Maior, seu Secretariado e à Delegação de Paz, para continuar desenvolvendo todos os esforços possíveis, em conformidade com nossos lineamentos históricos, a fim de alcançar um Acordo Final de Paz nos termos concebidos pela Agenda pactuada em agosto de 2012.

Do mesmo modo, o mencionado Plenário estabeleceu de maneira terminante que, chegados a um Acordo Final entre o governo nacional e as FARC-EP, este não poderia adquirir validez para nossa força sem o reconhecimento e a aprovação de uma Conferência Nacional Guerrilheira, a qual deveria ser convocada para esse efeito específico.
Como é de público conhecimento, no 24 de agosto passado foi subscrito na cidade de Havana, ante testemunhas internacionais e com todas as formalidades, o Acordo Final para a Terminação do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura, entre os chefes da Delegação de Paz do governo da Colômbia, Humberto de la Calle Lombana, e das FARC-EP, Iván Márquez.

O passo seguinte previsto pelas duas partes, uma vez entrado em vigência o cessar-fogo e de hostilidades bilateral e definitivo, deve ser a firma do Acordo final pelo presidente da República, Juan Manuel Santos, e por mim, como Comandante em Chefe das FARC-EP.

Também é de público conhecimento que está definida a data de 26 de setembro para a celebração deste histórico ato na cidade de Cartagena de Índias. Conhecedor o governo nacional da previsão do Plenário do Estado-Maior Central de março de 2015, concordou em cercar de completas garantias a celebração desta Conferência Nacional, com o objetivo de dar a oportunidade a nossa máxima instância democrática, de comprometer a palavra de todas as FARC-EP com este Acordo Final. 

Assim que esta Conferência se convoca com dois propósitos específicos que ficam à sua inteira discussão e definição. Em primeiro lugar, a análise e referenda do Acordo Final que subscrevemos, a fim de que adquira caráter vinculante, isto é, que seja de obrigatório cumprimento para nossa guerrilha. E, em segundo lugar, produzir as disposições políticas e organizativas para iniciar o trânsito para um partido ou movimento político, dentro das quais se encontra a convocatória do Congresso constitutivo que deverá definir o Programa, o Estatuto e a Direção Política.

De todo coração, esperamos que esta histórica Décima Conferência Nacional se caracterize, como todos os nossos eventos, pela mais ampla democracia, a altura dos debates, e o apego fiel à linha político-militar traçada por nossos fundadores Manuel Marulanda Vélez e Jacobo Arenas. Não me resta mais que convidá-los a inspirar-se no conjunto dos guerrilheiros e das guerrilheiras das FARC-EP que, desde cada um dos blocos, frentes e diversas unidades, esperam que vocês transmitam fielmente o sentir das assembleias gerais que os delegaram.

Há todo um povo que já leva 52 anos à espera da paz, e que tem batalhado incansavelmente por ela. Muitíssimos de seus filhos e de suas filhas ficaram no caminho desse objetivo, e outros muitos permanecem entre as grades nos cárceres do país ou do estrangeiro. Nosso compromisso indeclinável com esse povo deve ser ratificado neste evento de maneira determinante. Nossa preocupação principal há de ser como conseguir que a paz se converta numa realidade em nosso país, sobre a base da justiça social e da democracia.

Isso implica a vinculação das grandes maiorias inconformadas com a vida política ativa de nossa nação, a necessidade de uma nova mensagem, revigorante e esperançosa pelas mudanças, a imprescindível tarefa da unidade sem a qual todo esforço se desperdiça e perde, a presença no cenário de uma forma distinta, sadia e transparente de fazer a política. Nos encontramos frente à transcendental oportunidade de abordar estas tarefas essenciais. Nossa responsabilidade ética e histórica é hoje maior que nunca. Que as meninas e os meninos da Colômbia tenham a real possibilidade de crescer e serem felizes num país em paz. Convido a que esse seja o marco de referência de suas valiosas intervenções.

Declaro oficialmente instalada a Décima Conferência Nacional das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia Exército do Povo. Em suas mãos se encontra o destino da Colômbia.

Savanas do Yarí, 17 de setembro de 2016, o ano da paz.

 

 

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