Locarno - Filme russo conquista o Festival

Estamos na metade do Festival de Cinema de Locarno, já foram vistos pela crítica onze filmes da competição faltam ainda seis, porém com quase toda certeza de acertar, baseado na opinião unânime dos meus amigos críticos de cinema e no sentimento dos cinéfilos que lotam desde as 9 da manhã à meia-noite todas as salas de cinema e a Piazza Grande (sondagens que costumo fazer discretamente), posso afirmar : o Leopardo de Ouro deste ano irá para o filme russo Durak, O Louco, terceiro longa-metragem de Yuri Bykov, exceto se nos próximos filmes surgir outra pérola rara.

Me encontrei rapidamente, na seção reservada aos filmes brasileiros em finalização, com Renata de Almeida, diretora da Mostra de São Paulo, e como costumava fazer com Leon Cakoff, envio-lhe o recado para levar aos paulistanos esse louco russo imaginado por Yuri Bykov, que me provocou tanta emoção, ainda horas depois da projeção terminada, talvez por nos lembrar da poder da corrupção, enraizada nos governos e administrações do nosso país. E seria o caso de se dizer, qualquer semelhança não será coincidência.

Do diretor russo, cito uma frase sua suficientemente reveladora do roteiro do filme, resumido logo a seguir : "tive uma idéia durante a noite - fazer um filme sobre um honesto homem comum que luta contra o sistema burocrático para salvar outras pessoas. Nesta época, o medo e a indiferença se tornaram a norma, mas tais "loucos" ainda existem em meu país, o que significa haver ainda esperança". Essa frase de um russo talvez sirva como luva para o Brasil e receio que o fim do filme não seria diferente.

É a história de um simples encanador, como a de tantos trabalhadores anônimos, chamado para consertar um rompimento no aquecimento central de um apartamento num prédio velho. Também estudante de engenharia, Dima Nikitin, o nome do encanador, descobre perigosas rachaduras de alto a baixo fa construção e um desnivelamento do prédio, cujas fundações estão cedendo. O desmoronamento é iminente.

Preocupado com os habitantes do prédio condenado, Dima sai em busca das autoridades, altas horas da noite, pois é necessária uma rápida evacuação do imóvel. Encontra a prefeita, em plena festa em sua homenagem com seus secretários, representantes dos órgãos municipais, autoridades centrais, funcionários e amigos. Consegue expor a situação e logo se percebe ter sido o desvio de verbas e a corrupção a causa de não ter havido manutenção do prédio e nem ter havido denúncia da precariedade do imóvel. O responsável havia utilizado as verbas em benefício próprio e tenta adiar a evacuação do imóvel, propondo uma vistoria de por expecialistas.

Assustada com situação, a prefeita quer saber como e onde realojar as 880 pessoas habitantes do prédio e tenta pessoalmente obter autorização para ocupar dois prédios recém-concluídos pela empreiteira contratada do município, cujo proprietário rejeitando qualquer argumento humanitário, nega ceder tais edifícios e deixa-lhe claro obedecer a uma autoridade partidária superior, com a qual negocia diretamente as concorrências públicas mediante comissões e propinas.

Como a prefeita quer protestar e fazer valer sua autoridade, lhe é lembrado ter sido um favor temporário e sujeito à confirmação o de ter chegado à direção da cidade, sem esse favor nunca teria passado de uma simples secretária. A ordem do seu superior partidário é de deixar as coisas como estão e para evitar que circule a informação sobre a negativa da prefeitura em utilizar os milhões necessários à evacuação do prédio, decide-se a eliminação do encanador e dois funcionários da prefeitura.

Pouco antes de ser liquidado, o chefe da Polícia poupa o encanador Dima Nikitin, sob a condição de deixar a cidade imediatamente, desaparecer com sua família e nunca mencionar o caso. A esposa de Dima considera uma idiotice seu marido ter assumido a proteção dos moradores do prédio condenado. Sem apoio das autoridades e da família, Dima, mesmo assim, tenta alertar sozinho os moradores quanto ao perigo e acaba sendo espancado e morto pelos próprios moradores inconscientes.

 

Rui Martins

 

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