Patrulhamento orbital russo em ressurgimento

A prospecção dos jazigos e os prognósticos sobre a colheita de cereais. ...Estas e muitas outras tarefas permitem resolver o monitoramento espacial, ou, como se costuma dizer, a sondagem remota da Terra (SRT, em abreviatura).

Olhando do alto, vêem-se como na palma da mo os lugares onde se pratica a extracção ilegal do petróleo na Chechénia. E este assunto transborda os aspectos político e económico adquirindo também o marcado teor ecológico e ambiental. Pois esta prática tão frequente nas localidades e aldeias chechenas acarreta uma poluição cujos indicies ultrapassam milhares de vezes os admissíveis e depois tudo isso vaza pelos rios no Mar Cáspio.

Outro exemplo elucidativo é o levantamento cadastral das terras agricultáveis que praticamente não existe e sem o qual é simplesmente impossível a reforma agrária. A superfície da Rússia estima-se em mais de 17 milhões de quilómetros quadrados e, daí, para ser senhor destas vastíssimas extensões, é preciso ter dados e informações precisas. Claro que é possível utilizar os dados obtidos através do levantamento aeronáutico, mas este tipo de indagação custa seis vezes mais se comparado com o espacial. E para dizer mais, não garante a visão geral dos territórios inspeccionados, afirma o chefe da «Rosaviakosmos» (Agência Aeroespacial da Rússia), Yuri Koptev.

O primeiro satélite de monitoramento da Terra, «Kosmos-4», foi projectado ainda pelo académico Serguei Korolev e colocado na órbita ainda em 1962. Em finais dos anos 80, a URSS já possuía todo o sistema de sondagem remota da Terra altamente eficaz e detalhada. O segmento espacial deste sistema tinha como base os satélites «Ressurs-O», com aparelhos de alta e media resolução, e os «Okean-O», com aparelhos de localização remota. Os dados que proporcionavam estes satélites eram complementados com o levantamento fotográfico de alta resolução proveniente dos artefactos espaciais de tipo «Ressurs-F».

Com a desintegração da URSS foi por água abaixo o projecto «Ressurs». A partir de 1994, quebrou o calendário de lançamento de artefactos espaciais para pesquisas ecológicas e de prospecção - fato esse que obrigou os utentes nacionais reorientar-se para os sistemas estrangeiros e, evidentemente, norte-americanos. E tudo isso na época em que os sistemas nacionais de monitoramento espacial eram sobejamente superiores aos análogos estrangeiros em parâmetros principais, tais como a fidelidade da filmagem, a alta resolução das fotografias, a faixa do levantamento geodésico, a precisão geométrica, entre outros.

Outro resultado do colapso do projecto foi a inadvertência, a falta ao cumprimento dos contratos e compromissos arranjados com os utentes estrangeiros e, sendo assim, a Rússia estava perdendo tanto no mercado nacional como no exterior. E para dizer mais, o que se perdia não era nada pouco, pois o mercado mundial dos usuários do monitoramento espacial poderá movimentar os capitais no montante de US$ 4 bilhões no ano de 2005.

Importa assinalar nesta conexão que na época soviética as realizações nacionais na área espacial ficaram depreciadas, na medida considerável, devida а má organização na Terra. O maior prejuízo fez o estrito regime de sigilo das fotografias obtidas do Universo. Entretanto, os norte-americanos com o seu agudo espírito comercial iam, aos poucos, conquistando, arrancando para si bons pedaços deste segmento do mercado mundial, cedendo e divulgando, não raro, as imagens obtidas a título de gratuidade pelo mundo inteiro. Só que pelas fotografias americanas feitas assim não era possível fazer a reconstrução e a descodificação estereoscópica em pleno volume.

Teve também incidências negativas a tendência técnica para equipar os sistemas de processamento da informação espacial primordialmente com aparelhos produzidos nos países do CAME (do extinto Conselho de Ajuda Mútua Económica dos países do campo socialista). O desmoronamento desta associação nos primeiros anos da década dos 90 fez impossível o fornecimento e processamento oportuno da informação proveniente do Universo, já sem falar da sua qualidade. O saldo foi negativo para a Rússia no mercado de informação espacial.

Agora a situação parece menos dramática: apesar da concorrência e rivalidade nos mercados exteriores, a Rússia tem chances para recuperar a liderança, ou pelo menos restaurar o seu lugar digno nesta actividade prospectiva.

Primeiro porque foi abolido o regime de sigilo estrito sobre o uso da informação proveniente dos satélites militares e até que estes últimos passaram a ser catalogados como artefactos espaciais de dupla destinação. Assim sendo, valiosos dados acumulados nos anos 60 e 70 deixaram de ser secretos engrossando significativamente a base das pesquisas relacionadas com a análise ecológica e a influência dos factores ambientais e tecnológicos sobre o meio-ambiente.

Outro aspecto digno de realçar é que na Rússia apareceram entretanto os aparelhos e engenhos que viabilizam a obtenção da informação diversa sobre os recursos naturais do Planeta, os processos que se operam tanto na superfície como na atmosfera. Em finais de 2001, foi instalado na órbita o satélite «Meteor-3M» com aparelhos hidrometeorológicos e de medição que permite obter fotografias multizonais de média e alta resolução. Já em finais deste ano aparecerá na órbita o «Arkon-1» com a resolução de um metro e o «Monitor-E» com a resolução de 1-2 e 15-20 metros, dependentemente do enchimento técnico e da faixa da observação. Com respeito a este último importa ressaltar a sua vida útil, que é de 8 a 10 anos. Ao todo, até ao ano de 2005 planeia-se colocar na órbita 12 satélites ecológicos, não militares.

No desenvolvimento do projecto «Transparent World» (Mundo Transparente), como produto da cooperação de investidores russos e estrangeiros, serão lançados seis satélites apetrechados de aparelhos e equipamentos ópticos e electrónicos de alta resolução - até 50 metros. Em perspectiva, está previsto dotar estes artefactos espaciais com o enchimento tecnológico e de localização remota cada vez mais sofisticada e de resolução mais perfeita.

Importa aqui dizer que a particularidades dos projectos que acabamos de mencionar é o uso de veículos espaciais «Made in Russia». O «Arkon» é compatível com o foguete pesado «Proton»; o «Ressurs» com o vector espacial de categoria média «Soyuz»; o «Monitor» e os satélites do Mundo Transparente com os foguetes vectores leves de tipo «Rokot», «Strela» e «Start», todos esses como produtos da reconversão da indústria bélica do país.

Todos os últimos projectos garantem o acesso livre dos usuários а informação fotográfica sobre a superfície da Terra feita no vasto território da Rússia.

Nos meados de Junho foi celebrado o acordo entre o Ministério dos Recursos Naturais da Rússia (MRNR) e a Agência Aeroespacial da Rússia (AAER) para o monitoramento e a sondagem da Terra na resolução das tarefas relacionadas com o meio-ambiente e os recursos naturais. «A sondagem а distância implica uma poupança colossal para o orçamento - disse na cerimónia de assinatura o Ministro dos Recursos Naturais da FR, Vitali Artiukhov. - Em todo o mundo esta metodologia é a mais privilegiada. Por isso, seria pura e simplesmente imperdoável se na Rússia faltasse este mecanismo».

Desde os meados do ano passado, com a ajuda do MRNR foram abertos novos centros para a recepção dos dados e informação provenientes da sondagem remota nas cidades de Moscovo, A realização destes projectos permitirá eliminar o abismo entre as necessidades dos usuários russos e vastas possibilidades que proporciona a sondagem remota da Terra que, naturalmente, terá de ser adaptada e compatibilizada com os padrões vigentes no Exterior.

Yuri Zaitsev RIA «Novosti»

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