Programa espacial da Federação Russa

Espera-se que neste Agosto venha a ser aprovado definitivamente o Programa Espacial Federal da Rússia para 2006-2015. Anatoli Perminov, director da Roskosmos (Agência Espacial Federal da Rússia), falou na sua entrevista exclusiva à RIA "Novosti" das principais tarefas e das orientações da cosmonáutica russa.

Quais são os objectivos-chave do Programa Espacial Federal elaborado pela Roskosmos?

A Agência Espacial Federal da Rússia é um órgão federal ligado ao poder executivo na Rússia, responsável pela actividade espacial do país. Daí surgem as tarefas que requerem soluções a curto prazo e a longo prazo. No que se refere as tarefas a curto prazo a mais importante delas é a criação ou a recuperação do agrupamento orbital de aparelhos espaciais de todos os tipos com destaque para os sistemas de comunicação, de sondagem da Terra e meteorológico.

Actualmente o agrupamento orbital da Federação Russa deixa a desejar tanto em termos de seu funcionamento como de "apetrechamento" do mesmo. Todo o mundo vem aumentando o seu agrupamento orbital.

As tarefas a longo prazo dizem respeito às pesquisas do espaço cósmico, aos voos espaciais tripulados e ao estudo das profundezas do espaço. Segundo o nosso ponto de vista as tarefas a longo prazo só podem ser solucionadas com base na cooperação internacional.

Quais as pesquisas siderais previstas pelo Programa?

Dentro de dez anos pretendemos dar alguns passos abrangendo pesquisas nas áreas da Lua e do planeta Marte.

No que se refere ao Planeta Vermelho a partir do próximo ano o Instituto de Problemas Médico-Biológicos começa a implementação de uma experiência espacial nas condições terrestres, intitulada "Marte-500". Esperamos contar com uma equipa internacional composta por 6 pessoas que irá operar durante 500 dias nas condições de simulação de um voo a Marte. Endereçámos os respectivos convites a todos os países capacitados a participarem desta experiência, simulando nas condições terrestres uma longa viagem espacial. De acordo com o Programa temos planeado até 2015 um voo ao Fobos, satélite natural de Marte. Tratar-se-á de um voo em regime automático com o fim de testar todo o programa de um voo interplanetário, ou seja, o levantamento de voo, o pouso à superfície do Fobos, a tomada de amostras do solo e o regresso da tripulação.

Em relação à Lua fazemos plano baseado na proposta avançada pelos americanos dos preparativos para uma expedição tripulada.

Que se faz para a implementação do programa Kliper, cujo modelo era exibido pela primeira vez no Salão Aeroespacial em Le Bourget?

Sim, em Le Bourget o modelo do Kliper era um dos atractivos do Salão. Falando francamente nem sequer pensávamos que despertasse tanto interesse. Quero dizer que no Salão MAKS, a ser inaugurado a 16 de Agosto na cidade Jukovski (arredores de Moscovo), iremos apresentar o modelo do Kliper em dimensões naturais.

Em comparação com a nave espacial Soyuz, obsoleta ao nosso ver, o vaivém Kliper é ideado como uma nave espacial tripulada de uso múltiplo. Pretendemos criar uma nave com capacidade de carga elevada e capaz de acomodar uma equipa de seis tripulantes no mínimo, ou seja, o comandante, o engenheiro de bordo e quatro passageiros, turistas ou representantes de outros países, envolvidos em programas espaciais, etc. Esperamos que a nave seja explorada no âmbito do programa da Estação Espacial Internacional (EEI) e, numa versão modernizada, em voos siderais.

Optamos por duas variantes de aterragem da nave: a primeira, à semelhança de um avião, em aeródromos da primeira classe; a segunda combina a variante de avião e a de pára-quedas. Presentemente debatem-se as preferências de cada tipo de aterragem, mas com certeza haverá uma diferença com a variante tradicional que usamos agora, pois se trata de um sistema de uso múltiplo calculado para 24 voos. Vale ressaltar que garantimos um alto nível de segurança e elevada capacidade de carga da nave, além de oferecermos o máximo de conforto para a tripulação que não vai perder em nada para os shuttles americanos

Como irá se desenvolver o programa da EEI se os EUA o abandonarem devido, digamos, a problemas com os seus vaivéns?

Atrevo-me assinalar mais uma vez: o futuro da cosmonáutica são os projectos internacionais. À luz disso quero constatar que os americanos não pretendem abandonar a cooperação no âmbito do programa da EEI, não obstante o facto de termos obrigados a trabalhar durante os últimos dois anos sozinhos, aproveitando as nossas naves Soyuz, por causa dos problemas ocorridos com os vaivéns americanos. Se por alguns motivos os voos de vaivéns acabarem por serem cancelados, reuniremos os representantes de todos os cinco países, que participam no programa, para decidirmos o que fazer. Se agora continuamos a cumprir obrigações para com os americanos no âmbito do programa da EEI, a partir de Fevereiro de 2006 iremos deixar de assumi-las, tendo pleno direito de levar os astronautas americanos à órbita em termos comerciais. Seja como for, mas estou seguro de que os voos de shuttles americanos vão continuar, ficando os americanos à altura dos compromissos assumidos que dizem respeito ao transporte de cargas volumosas à EEI.

A maior parte destas cargas fica armazenada no cosmódromo do Cabo Canaveral à espera de frete. Não tenho menor dúvida de que os nossos parceiros saberão solucionar esta situação difícil e levarão a sério as suas obrigações relacionadas com o transporte de cargas. -0-

Andrei Kisliakov observador político RIA "Novosti"

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X